Que o futebol mudou, e muito, nos últimos anos, não é novidade. Ganhou ares e contornos cada vez mais profissionais. O amadorismo ficou para trás. E essa ‘nova fase’, claro, atingiu em cheio a formação de atletas, as categorias de base. Até as chamadas escolinhas, antes muito populares, sofreram o impacto.

Foi o caso, por exemplo, da Escola de Futebol Indianápolis. Comandada por Carlos Roberto Silva, o Índio, a escola, que existe desde 1993, no bairro Betânia, na região Oeste de Belo Horizonte, foi responsável por revelar dezenas de jogadores. Mas nos últimos tempos, tem passado por dificuldades.

“Comparando ao passado, hoje estamos capengando. Por exemplo, já tivemos 350 alunos, hoje temos só 35”, revelou Índio. “O desejo de parar é maior do que o de continuar, por alguns motivos, sendo o principal o fato de o nosso campo ser de terra com pedra e mato (erva daninha). Também pelos pais darem preferência por quadras de gramado sintético e só aqui no bairro Betânia existem quatro quadras com escolinhas”, disse.

Índio jogador

Remontando o passado, o professor relembra seus tempos de atleta, e tenta trazer o aprendizado para os dias atuais e para seus alunos. “Passei pela base do Atlético (1970 a 1973) e joguei durante 10 anos como profissional (1974 a 1984), no interior de Minas e outros estados. Quando parei, não sabia o que fazer na vida, pois não tinha nenhum ofício”, lamentou.

“Procurei a AGAP (Associação de Garantia ao Atleta Profissional), cujo presidente era o ex-jogador Wilson Piazza. Ele me deu o primeiro emprego na própria AGAP. Lá fiz muitos cursos, como de treinador, de árbitro de futebol e futsal, de massagista, entre outros. E me graduei em educação física, com pós-graduação em Futebol”, comemorou.

Índio já morava no Betânia há 32 anos (hoje 63 anos), e foi convidado, em 1993, para abrir uma escolinha de futebol. Assim, naquele ano, surge o Indianápolis.

Atleta e/ou cidadão

E aí entra a outra faceta da escola. O objetivo nunca foi formar somente jogadores. “Infelizmente fui muito indisciplinado e observei que isso atrapalhou minha carreira. Assim, ao elaborar minha escola, resolvi exigir do aluno o que não fui, ou seja, disciplina. Para isso, o primeiro item não era, e não é, formar só o atleta, mas em primeiro lugar o homem, o cidadão”, adiantou, completando que ‘a carreira do atleta é curta, mas o homem dura para sempre.’ Dos sete mil alunos que passaram pelo Indianápolis nesses quase 31 anos de existência, cerca de 80% se tornaram bons cidadãos, e só 35 se tornaram jogadores profissionais.”

Destes 35, nem todos brilharam. O principal deles é Túlio de Melo, que jogou 12 anos na Europa. Ele foi revelado no Indianápolis, foi para o Atlético e, na sequência, seguiu para a Dinamarca, em 2004. Ainda jogou na França, na Itália, voltou ao Brasil e foi para o Japão, antes de encerrar a carreira.

Em gratidão a quem o revelou para o futebol, Túlio presenteou o ex-professor com um apartamento. “Além dele, ainda foram revelados no Indianápolis o Mateus Gonçalves, do Vitória, o Tchô e o Renato, ambos ex Atlético. Ainda o Adriano Júnior, ex-América. O Polidoro Júnior, que jogou oito anos na base do São Paulo e foi para Grécia, Portugal e França. Gilton, que jogou por oito anos no Cólon, de Santa Fé (Argentina). O Diego Coutinho, que jogou por quatro anos no Braga, de Portugal, que chegou a ser negociado com o Atlético, mas perdeu o pai e não quis mais jogar futebol. É considerado o melhor jogador que passou pelo Indianápolis”, relembra.

Além destes, também começaram no 'terrão' do Betânia o goleiro Glauco, ex-América e atualmente no Athletic, o zagueiro Roger, ex-América, Neguete, ex-América e Cruzeiro, o meia-atacante Dodô, ex-Atlético, entre outros.

A inscrição não escola custa R$ 100 a matrícula (com camisa, calção e meião). A mensalidade é o mesmo valor, com treinos três vezes por semana (às terças, quintas e sábados. “A escola hoje está pedindo socorro. Estamos em busca de novos alunos”, lamentou Índio.

Quem se interessar em treinar no Indianápois, pode procurar o campo, na Rua Augusto José dos Santos, 700, bairro Betânia, em Belo Horizonte. O telefone é (31) 99306-5121.