De forma entusiasmada e descontraída, Diogo dos Santos Lima, de 38 anos, dá o pontapé inicial na conversa que pretende elucidar como se passaram os últimos 18 anos desse baiano nascido em Itabuna, em 27 de dezembro de 1985. De promessa do Cruzeiro, com multa rescisória estipulada em US$ 20 milhões (R$ 111 milhões na cotação atual), a jogador aposentado aos 20 anos, passaram-se apenas três meses. A reviravolta se deu quando ele sofreu um infarto durante uma corrida em volta de um dos gramados da Toca II, o que quase o levou à morte. 

Conhecido como “Diogo Mucuri”, o então volante foi salvo pelo socorro prestado de forma rápida e eficiente pelo médico Octacílio da Matta Lopes Júnior, ex-funcionário da Raposa. O sonho de brilhar no futebol, acalentado desde a infância na Bahia, porém, encerrou-se na manhã daquele 6 de setembro de 2006. A vida, contudo, vai “muito bem”, como ele faz questão de reiterar. 

Questionado se ainda joga uma pelada, devolve de primeira: “Com certeza”. Mas, agora, divide-se entre os gramados amadores e as corridas de longa distância. “Faço provas de até 21 km”, gaba-se o ex-jogador, de 38 anos.

Diogo diz realizar exames periódicos para verificar a situação do coração e assegura que nenhum problema foi detectado. “Desde quando parei de atuar profissionalmente, jogo no futebol amador e nunca tive problema de saúde. Todo ano faço check-up, e o quadro nunca mudou”, revela.

O susto

Diogo foi vítima de infarto agudo do miocárdio após correr por 10 minutos. Depois de manobras de ressuscitação com uso do desfibrilador, o jogador foi encaminhado a um hospital da capital mineira pela ambulância do Samu. Lá, foi submetido a uma angioplastia para desobstrução da artéria, quando foi implantado um stent (dispositivo inserido na artéria para prevenir ou evitar a obstrução do fluxo sanguíneo).

“Fiz vários exames, e nunca identificaram nenhum problema, nada de anormal. O diagnóstico foi que, simplesmente, a artéria entupiu. Hoje, com minha idade e experiência, acredito que estava muito ligado ao estresse. Depois que parei de jogar, vi vários outros casos acontecendo com jogadores. Acho que é muito relacionado ao estresse, principalmente mental, não o físico”, avalia Diogo.

Tudo isso, no seu entendimento, pelas agruras que permeiam a antiga profissão. “O aspecto psicológico fica prejudicado porque a pressão que existe no futebol é muito grande. Quando você é novo, é bastante cobrado e também se cobra muito. Acredito que isso pode ter contribuído para o meu problema”, considera. 

Isolamento e adaptação 

Diogo admite ter demorado uns dois anos para voltar à “vida normal”. Depois desse período, diz que tudo fluiu da melhor maneira. “Só tenho a agradecer”. Para isso, tomou uma atitude radical. 

“Evitei contato com quem era do meio do futebol, justamente para poder recomeçar de forma mais tranquila. Hoje, não tenho contato com mais ninguém com quem joguei”, revela.

Rotina tranquila no interior de São Paulo

Quando encerrou a carreira, Diogo decidiu trocar Belo Horizonte, aonde havia chegado ainda na adolescência para as categorias de base do Cruzeiro, pelo interior de São Paulo. 

“Em 2008, fui para São José dos Campos. Trabalhei por muito tempo em uma empresa. Há três anos, eu e meu sogro abrimos a nossa própria e atuamos na área de manutenção industrial”, conta o ex-volante da Raposa. 

Diogo e a família vivem em Jambeiro, interior paulista

 

Desde então, Diogo reside na pacata Jambeiro, a 33 km de São José dos Campos e a 122 km da capital paulista. Conforme último Censo do IBGE, o município tem 6.397 moradores. “Cidadezinha pequena, tranquila, onde vivo com minha esposa, Jéssica, e meus três filhos: Júlia, de 13 anos, Alê, de 7, e Théo, de 4. A vida está indo bem demais, graças a Deus”, festeja o ex-jogador.

Diogo no Cruzeiro

Diogo Mucuri estreou no time principal do Cruzeiro em 10 de fevereiro de 2005, na vitória sobre o Ipatinga por 2 a 1. Em um ano e meio na Raposa, fez 56 jogos e marcou dois gols. Foi campeão mineiro de 2006, em um time que tinha nomes como Fábio, Jonathan, Elber, Gil e Wagner.

Diogo, no detalhe, no Cruzeiro campeão mineiro de 2006