Quem se deu ao trabalho de prestar bastante atenção nas duas entrevistas pós-jogo que Hernan Crespo deu percebeu algumas diferenças entre ele e seu antecessor no São Paulo Luís Zubeldía.

A primeira mais evidente é que Crespo solta muito menos informações do que o treinador anterior. Suas respostas normalmente são mais vagas e mais curtas. Ele não se aprofunda em temas táticos e por vezes fala palavras que não respondem objetivamente ao que foi perguntado. Antes que eu seja acusado de defender Zubeldía, deixo claro: aqui não há nenhum julgamento sobre qual entrevista é melhor. São apenas diferentes e mais adiante neste texto vai ficar mais claro o motivo.

Crespo não será porta-voz da diretoria do São Paulo

O segundo ponto a se destacar das falas de Crespo é o mais importante. Ele não vai fazer o papel de porta-voz do clube nem se colocar como um mártir. Ele já foi perguntado uma vez sobre os jogadores que estão no estaleiro e foi direto: “este assunto é com o departamento médico". Também foi muito direto quando perguntado sobre reforços: “este é um assunto da diretoria”. Nos dois casos, acrescentou: “eu falo do campo e do que aconteceu nos jogos".

Crespo adiantou que responde sobre campo e jogos (Foto: Rubens Chiri / São Paulo FC)

Na quarta-feira, perguntado novamente sobre jogadores lesionados, voltou a dizer que é assunto para o DM e o repórter retrucou: “mas ninguém do DM fala". E ele rebateu com algo como: “não sou eu que vou fazer o seu trabalho, eu já tenho que treinar o time”, resposta que pode ser considerada a mais dura que o treinador deu, somando esta e a outra passagem que ele teve pelo clube.

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Mas o que significa a recusa em tratar desses temas? Ou de suas coletivas menos profundas? Significa que a diretoria do São Paulo está mais exposta e sem um anteparo entre ela e a torcida. Os efeitos do modo de ser do novo treinador já estão aparecendo: desde que o time voltou a jogar, todas as baterias estão voltadas para a diretoria, que vem sendo criticada severamente desde então.

Zubeldía era uma espécie de pára-raio de qualquer crítica. Parte da arquibancada não gostava do seu trabalho e ali parecia estar o foco de todos os problemas do clube. Quando ele saiu de cena, o pano caiu: as mazelas, bem mais profundas, apareceram. E o novo comandante, Hernan Crespo, já deixou claro que não vai responder por cartola ou médico. Falem com eles.

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Eduardo Tironi escreve sua coluna no Lance! às terças e sextas-feiras. Confira abaixo mais publicações do colunista:
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