O pentacampeonato conquistado pela seleção brasileira, na Copa do Mundo de 2002, completa nesta quinta (30), 20 anos. Mas para chegar até o torneio, aquela equipe passou por apuros nas Eliminatórias. O Tempo Sports reconta a história começando pelo dia 28 de março de 2000, quando a seleção iniciou sua trajetória com um empate sem gols com a Colômbia. 

Luxemburgo no comando 

Vanderlei Luxemburgo recebeu a missão de comandar a seleção brasileira depois de Zagallo. Antes do início das Eliminatórias, a equipe realizou alguns amistosos e faturou o título da Copa América de 1999, realizada no Paraguai, superando o Uruguai na final por 3 a 0, gols de Rivaldo (duas vezes) e Ronaldo. Mas naquele mesmo ano, a Amarelinha fracassou na disputa da Copa das Confederações, perdendo para o México, os anfitriões do torneio, por 4 a 3. 

No ano seguinte, começou a empreitada pela classificação ao Mundial. Depois do empate sem gols com a Colômbia (vídeo acima), em Bogotá, o time conseguiu vencer o Equador, no Morumbi, por 3 a 2, e já contava com alguns nomes que figurariam entre os convocados para a Copa, casos de Ronaldinho Gaúcho, Edílson, Vampeta e Roberto Carlos. 

Na terceira rodada, os comandados por Vanderlei foram até Lima e venceram os peruanos com um gol do hoje treinador Antônio Carlos Zago. Todavia, no retorno para a casa, a seleção decepcionou no Maracanã, empatando por 1 a 1 com o Uruguai. Os questionamentos sobre o time aumentaram quando a seleção foi até o Paraguai e sofreu a primeira derrota nas qualificatórias, perdendo por 2 a 1 para os donos da casa. 

A desconfiança do torcedor só foi aplacada, em partes, talvez com a melhor performance da seleção brasileira nas Eliminatórias, uma vitória por 3 a 1 sobre a rival Argentina dentro do Morumbi, com direito à assinatura de Alex e dois gols de Vampeta. 

Uma seleção de altos e baixos e a resposta de Romário

A vitória sobre a Argentina parecia ter colocado o time no rumo. Mas logo os questionamentos voltaram quando a Canarinho foi até Santiago, no dia 15 de agosto de 2000, e foi goleada pelos chilenos por 3 a 0, partida com gols da dupla mágica Zamorano e Salas, além de um tento de Estay. 

O que deu uma sobrevida para Luxemburgo no comando foi a goleada por 5 a 0 sobre a Bolívia, na rodada seguinte das Eliminatórias, em jogo disputado no Maracanã. Um show do baixinho Romário. Com três gols, ele acabou com o jejum do ataque da seleção e deu uma resposta ao seu desafeto confesso Luxemburgo, que o deixou fora dos Jogos Olímpicos de Sydney. Até aquele duelo, nenhum dos atacantes convocados por Luxa havia marcado nos sete jogos anteriores disputados na competição. O Brasil só tinha marcado nove gols nas eliminatórias, média de 1,29 por jogo. "Ele deve estar", disse o atacante após o jogo, quando questionado se o treinador deveria estar arrependido por não tê-lo convocado para a Olimpíada.

Aquele triunfo permitiu que Luxa fosse aos Jogos Olímpicos ao menos aliviado. Mas a sua situação extracampo era bem preocupante. 

A queda de Luxa

Antes das Olimpíadas, Luxemburgo já estava acuado por várias denúncias. O treinador admitiu dívidas na Receita Federal, foi acusado de levar vantagem na negociação de jogadores e esteve na mira de uma CPI que investigava irregularidades no futebol brasileiro. Dentro de campo, o 'empurrão' que faltava para sua demissão: a queda nos Jogos Olímpicos, perdendo para Camarões, nas quartas de final, por 2 a 1. 

A era Leão 

O escolhido para substituir Luxemburgo foi Emerson Leão. Ele não chegou a comandar a seleção brasileira no retorno às Eliminatórias, quando Romário deu mais uma aula, fazendo quatro gols na vitória por 6 a 0 sobre a Venezuela. Candinho foi o interino naquela ocasião. 

Bandeiras no gramado: a fúria da torcida

A estreia 'em partes' de Leão aconteceu na vitória suada sobre a Colômbia por 1 a 0, no Morumbi. Isso porque o comandante acompanhou o jogo das tribunas e quem esteve à beira do campo foi Pedro Santilli. Um duelo que ficou marcado pela fúria dos torcedores com o comportamento da seleção brasileira. Próximo aos 40 min do segundo tempo, a torcida se revoltou e começou a atirar bandeiras do Brasil em campo. A indignação só foi arrefecida com um gol salvador de Roque Júnior, aos 48. 

Desandou de vez 

O Brasil de Leão fracassou até mesmo com Romário em campo. Pela 11ª rodada das Eliminatórias, o Brasil perdeu para o modesto Equador, fora de casa, por 1 a 0, a primeira derrota da Canarinho para os equatorianos em jogos oficiais. Na sequência, dentro de casa, empatou com o Peru por 1 a 1, mais um jogo tenebroso no Morumbi. As decisões de Leão começaram a ser bastante questionadas, dentre elas a convocação suspeita de Leomar, do Sport, acusada de ter sido 'encomendada'. 

A queda de Leão 

Aquele já era o ano de 2001 e significava a disputa de uma nova Copa das Confederações, O torneio foi o 'cemitério' de Emerson Leão. O comandante havia chegado à seleção brasileira com a promessa de trazer um 'futebol bailarino', mas patinou no torneio preparatório para o Mundial de 2002, perdendo até mesmo para a Austrália, por 1 a 0, na disputa do terceiro lugar. Ele foi demitido ainda no Aeroporto de Narita, no Japão. Leão foi o técnico que ficou menos tempo no comando da equipe nacional na gestão do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira - foram menos de oito meses.

A era Felipão e a lenda de Romário 

Depois de comandar o Cruzeiro, Felipão foi o escolhido para assumir a 'bomba' na seleção brasileira. A estreia do treinador não foi nada fácil e marcou também a última partida de Romário nas Eliminatórias para a Copa de 2002. O Brasil perdeu por 1 a 0 para Uruguai, no estádio Centenário. Naquele confronto, o Baixinho recebeu a faixa de capitão. Contudo, depois disso nunca mais foi "lembrado" e rumores indicaram à época que o goleador teria cometido um ato de indisciplina fora de campo. A verdadeira história nunca veio à tona e, apesar do forte clamor popular, Felipão não se rendeu e não chamou mais Romário.

Fracasso na Copa América 

O Brasil seguiu acumulando vexames. Felipão não estava imune a isso. Depois da estreia com derrota para o Uruguai, o comandante teve pela frente a disputa da Copa América. O time avançou à fase mata-mata, mas acabou sendo eliminado nas quartas de final para a modesta seleção de Honduras por 2 a 0, partida que teve até um gol contra de Beletti. 

Gangorra

Para apagar um pouco do vexame, Felipão conseguiu respirar voltando a Porto Alegre. Jogando no Estádio Olímpico, o Brasil bateu o Paraguai por 2 a 0, na volta às Eliminatórias. Mas viria a oscilar novamente perdendo para a rival Argentina por 2 a 1, fora de casa. A atuação ruim fez com que Felipão recebesse críticas, além dos pedidos pelo retorno de Romário. 

Scolari deu de ombros para o apelo da torcida e manteve o Baixinho fora. Na antepenúltima rodada das Eliminatórias, o Brasil arrancou uma vitória por 2 a 0 sobre o Chile, no Couto Pereira, em Curitiba. Porém, Felipão e seus comandados voltaram a ficar entre a vida e a morte na competição ao caírem diante da Bolívia por 3 a 1, em La Paz. Só restava um jogo. 

A salvação 

O fim do apuro brasileiro só veio no Nordeste. Jogando em São Luís, no Maranhão, o Brasil, enfim, carimbou sua vaga para a Copa do Mundo de 2002. Bateu a Venezuela por 3 a 0 sem Romário, mas com Luizão, autor de dois gols, e Rivaldo. A seleção terminou as Eliminatórias na terceira posição, com 30 pontos, a mesma pontuação do Paraguai, quarto colocado, e acumulando nove vitórias, três empates e seis derrotas em 18 jogos. Luizão, herói contra a Venezuela, garantiu sua vaga entre os convocados para a Copa do Mundo. 

O efeito Ronaldo 

A campanha brasileira nas Eliminatórias teve uma ausência fundamental. Ronaldo Fenômeno lesionou-se gravemente exatamente no dia 12 de abril de 2000, quando defendia a camisa da Internazionale. Na partida contra a Lazio, pela Supercopa da Itália, o jogador retornava aos gramados após uma cirurgia no joelho direito. Sete minutos depois de entrar em campo, ele buscou seu tradicional drible de corpo, mas desmoronou sobre o mesmo joelho operado. Uma cena chocante. O Brasil não pode contar com o talento do goleador nas Eliminatórias. O jogador ficou um ano e três meses em recuperação, mas retornou há tempo de ganhar a confiança de Felipão e ser a figura central do penta.