Há três anos, ele trocava o América pelo Fluminense. Este era o primeiro salto na carreira daquele jovem atacante de 18 anos nascido em Nova Venécia, no Espírito Santo. Não demorou muito para Richarlison chamar atenção do Velho Continente. Foi comprado pelo Watford e, depois, pelo Everton, da Inglaterra. Eleito a melhor contratação da Premier League pela revista “Four Four Two” em 2018, o jogador chegou de mansinho à seleção e já está se tornando peça fundamental no grupo do técnico Tite. Pelo novo clube, já são nove gols em 19 jogos.
Qual o segredo de conseguir se adaptar tão rápido a novos times?
Acho que é por eu ter os pés no chão e saber que, a cada mudança, tenho que fazer o meu melhor para conquistar o meu espaço. Sempre fui muito competitivo, quero jogar e ganhar sempre. Então, encarei cada transferência como um desafio, e isso fez com que eu buscasse um nível cada vez mais alto.
Como você vê o interesse do Barcelona no seu futebol?
Não tenho muito o que falar sobre isso, vi algo sobre na imprensa. Essas coisas eu não gosto de me envolver até que seja algo sério, não apenas especulação. Meu empresário que cuida dessa parte, e ele não me passou nada até agora. Meu coração e minha cabeça estão focados no Everton. Estou muito feliz aqui, vivendo a melhor fase da minha carreira.
Você tem feito sucesso com sua comemoração na “dança do pombo”. Isso é marketing ou apenas aconteceu?
Aconteceu. Estava no meu quarto e fiz o vídeo. Depois que postei no Instagram, todo mundo começou a comentar e achar engraçado. Foi natural, não teve nada de marketing.
Se sente preparado para ser titular do Brasil na Copa América, caso seja confirmado como titular?
Eu me sinto pronto, sim. Acho que aproveitei bem minhas oportunidades e quero ter sequência na seleção. E se o professor Tite achar que eu devo ser titular, vou tentar agarrar essa chance com unhas e dentes. Mas, para isso, tenho que manter o alto nível no meu clube e continuar sendo chamado. A concorrência é muito pesada. São alguns dos melhores atacantes do mundo brigando por posição, caras com que até outro dia eu jogava no videogame. Ter a oportunidade de jogar com eles é muito fera, um sonho realizado.
Fora do campo, o que você mais gosta de fazer aí, na Inglaterra?
Sou muito caseiro. Minha diversão é jogar videogame com meus amigos. Saio quando preciso comprar alguma coisa mesmo ou para algum compromisso. Mas sou mais de ficar em casa mesmo. Aqui na Inglaterra, nesta época, é muito frio e desanima um pouco de sair também.
O que mais te chamou atenção no futebol europeu? Acha que o país do futebol ficou para trás?
O que mais me chamou atenção aqui é a organização dos caras. Eles são muito certinhos com tudo, e isso nos dá disciplina e faz com que a gente cresça não só como jogador, mas como pessoa também. E dentro de campo, o jogo aqui é muito mais intenso. É correria o tempo todo, os zagueiros não aliviam, e, se você pensar demais, os adversários te atropelam. Apesar disso, acho que o futebol brasileiro não ficou pra trás. Ainda não existe outro país no mundo que produza tanto jogador bom, tanto talento.
Já deu para conhecer bastante a Europa? Realizou algum sonho por aí de lugar que queria conhecer ou jogador que queria ver jogar e atuar contra?
Ainda não deu para conhecer muita coisa, mal dá tempo de passear. Na verdade, conheci bem Londres, onde morei, e também passeei por Paris, que é uma cidade bem fera. No mais, a rotina de jogos é muito pesada e, como fui convocado nessas últimas datas Fifa, não tive folga. E quando tem um tempinho, também, eu volto correndo pro Brasil para ver a minha família e amigos por aí. Ainda preciso conhecer muita coisa. Mas vou ter tempo para isso. Já joguei contra uns caras que eu admiro muito: Ibrahimovic, Pogba, De Bruyne, Salah, Firmino, Gabriel, vários jogadores com que eu jogava no videogame. Estar na mesma liga que eles é um sonho e está me ajudando a crescer e a melhorar a cada dia, porque o nível é muito alto.
Como foi sua adaptação ao idioma? Já está fluente? Pensando em uma transferência para algum outro clube europeu, já está estudando alguma outra língua além do inglês?
Estou aprendendo só o inglês mesmo. Já consigo entender bem, mas falar me complica bastante. A parte boa é que eu consigo me virar e falar o que eu preciso no dia a dia (risos).
Quais as maiores dificuldades que você teve logo que chegou à Europa? Passou alguns perrengues? Viveu situações curiosas?
A adaptação foi tranquila, tirando o frio que faz aqui. Agora é época, inclusive. Mas me receberam tão bem lá no Watford, e agora aqui no Everton, que foi até fácil. Ainda teve o Gomes (goleiro), que eu considero um irmão para mim, e meu empresário e a esposa dele, que se mudaram para cá para me ajudar nessa adaptação. As únicas coisas que são estranhas aqui são o frio e a falta de sol. Raramente o tempo abre, fica nublado quase o ano todo. No início teve o idioma também, mas aos poucos a gente vai ajustando tudo. De situação curiosa tem uma que o Gomes me zoa até hoje. Eu estava precisando comprar umas roupas e ele falou para eu ir à Diesel. Eu falei que queria roupa, não abastecer o carro. Ele ainda pega no meu pé com isso (risos).
Tem acompanhado o futebol brasileiro? Como acompanhou a queda do América?
Acompanho o futebol brasileiro, sim. Fiquei muito triste com a situação do América. Eles começaram bem, achei que fossem permanecer, mas na reta final as coisas complicaram. Tenho certeza de que vão se reerguer e voltar pra Série A em 2019. É um clube organizado, com uma estrutura muito boa, e merece estar na elite. Sempre falo com amigos que ficaram lá.