Sair de casa e ter a residência invadida por criminosos que furtam pertences valiosos tem sido uma situação que muitos moradores de Belo Horizonte, como Guilherme Arana, lateral-esquerdo do Atlético, têm passado recentemente.
O caso do jogador, na madrugada desta sexta-feira (20), foi apenas mais um que aconteceu neste ano. De janeiro a maio de 2025, período disponível me levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), houve 2.191 casos registrados de furtos à residências na capital mineira. Em média, são quase 15 crimes deste tipo por dia (14,6). Como comparação, em 2024 foram 2.106, o que dá 14,04 a cada 24 horas, um aumento de 4%.
"São números que acabam assustando a população. Mesmo que estejamos em uma capital com mais de 2 milhões de habitantes, quem sofre esse crime acaba tendo um trauma muito grande. E as pessoas ficam assustadas, não querem ser vítimas, ainda mais quando é algo contra o próprio patrimônio", afirma Gilmar Luciano, coronel veterano da Polícia Militar e professor de direito penal.
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O especialista em segurança pública acredita que o aumento desse tipo de crime é uma consequência da política de descriminalização, que vem flexibilizando a punição aos criminosos.
"Desde 2015, temos políticas públicas que buscam penas alternativas diferentes da privativa de liberdade. Para a pessoa ser presa preventivamente, só em crimes cometidas com violência contra a vítima. Em alguns casos tem-se buscado medidas cautelares, como tornozeleira eletrônica. Isso tem sido um incentivo muito grande à criminalidade. O criminoso está vendo um ambiente fértil. Eu preciso de um criminoso motivado, ambiente favorável e ausência de vigilância ativa. Quando você tem uma inversão jurídica, de despenalizar, o criminoso fica à vontade para cometer o crime", avalia.
Na atual legislação brasileira, o crime de furto é descrito como subtração, ou seja, diminuição do patrimônio de outra pessoa, sem que haja violência. O Código Penal prevê para o furto pena de reclusão de um a quatro anos e multa. A lei prevê aumento de pena para quem cometa o crime durante a noite, e para os casos de furto de pequeno valor, permite diminuição ou até perdão de pena, aplicando-se apenas a pena de multa, é o chamado furto privilegiado.
"Ele vai pegar uma pena de quatro anos em regime aberto. Nesse caso, até que ele seja considerado não mais primário, se sente muito à vontade. Ele não vê uma punibilidade muito ativa. Crimes contra o patrimônio, como arrombamento à residência, se torna um prato cheio. Na minha opinião, a legislação brasileira está na contramão da vontade do povo brasileiro. É preciso uma reforma do poder judiciário para manter esses criminosos presos", afirma Gilmar Luciano.
Na avaliação do especialista, a Polícia Militar tem feito um bom trabalho dentro de sua atribuição legal. "A corporação tem um programa integrado com a comunidade, que se chama Rede de Vizinhos Protegidos. Além disso, ela também faz patrulhamento e realiza prisões em flagrante, mas o problema é que esse criminoso não fica preso, aí ele volta às ruas e segue praticando furtos", comenta.
Período de férias
O caso de Guilherme Arana aconteceu em um período em que os jogadores estão de férias, por conta do Mundial de Clubes, e também de recesso escolar. Como muitas famílias acabam viajando, saber que a casa está vazia se torna um prato cheio para os criminosos.
"Historicamente, os criminosos conhecem as fases. No Carnaval, há muito furto de celular. Durante as férias escolares, o crime preferido se torna a invasão à residências e imóveis em geral. O ambiente fica muito favorável para o bandido cometer o crime", diz Gilmar Luciano.
Além disso, a residência do jogador fica em um bairro de residências de luxo, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Ter artigos caros dentro do imóvel é um atrativo para os criminosos, mas Gilmar entende que isso não é o único motivo para cometer o delito.
"Quem tem dinheiro para ter uma residência em bairro de classe alta, também terá para reforçar a segurança do imóvel. Claro que saber da existência de itens caros atrai o criminoso, mas ele está mais interessado em uma oportunidade. Motivação o bandido já tem, ele vai procurar o ambiente mais favorável para realizar o crime", analisa Gilmar.
Dicas do especialista
- Busque todos os mecanismos que o Estado oferece, como por exemplo a Rede de Vizinhos Protegidos;
- Adote procedimentos que possam dificultar a ação, como cerca elétrica, sistema de câmeras e alarme;
- Quando viajar, tenha pelo menos um familiar para ficar de olho na casa ou até mesmo permanecer na residência;
- Poste as informações de viagem quando retornar, não durante a viagem.
Polícia Militar
Questionada pela reportagem, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), informou que tem intensificado ações e operações preventivas e repressivas, com o emprego dos serviços que compõem o portfólio da Instituição em Belo Horizonte, a fim de coibir furtos e aumentar a sensação de segurança da população. Nesse sentido, é importante destacar que o planejamento operacional da PMMG é continuamente ajustado com base na análise criminal, priorizando os locais e horários com maior incidência de delitos. Além disso, a atuação das equipes de policiamento a pé, motorizado e operações conjuntas com outras forças de segurança, têm sido fundamentais para a identificação de autores e recuperação de bens furtados.
Ainda em nota, a PMMG afirmou que tem promovido a integração com a Comunidade, através das redes de proteção preventiva, que incentiva o diálogo entre a comunidade e a polícia, promovendo um ambiente mais seguro e vigilante. Atualmente, a a 1 RPM conta com mais 250 Redes de Vizinhos Protegidos ativas, que possibilitam troca de informações sobre situações com potencial de impactar a harmonia social e a divulgação de orientações sobre medidas de prevenção e de autoproteção. A Polícia Militar reforça seu compromisso com a segurança da população e ressalta a importância da participação da sociedade, com o registro das ocorrências. Em caso de emergência, o cidadão deve acionar o número 190. Para denúncias anônimas, está disponível o Disque-Denúncia 181.