"Eu caí no golpe do amor”. É assim que Clara*, de 33 anos, resume o pesadelo que viveu ao longo de quase dois anos em um relacionamento que, no fim, revelou-se uma grande fraude. Quando ela descobriu a farsa, era tarde demais: o homem, que só tinha interesses financeiros, já a havia convencido a depositar R$ 30 mil em nome dele, um dinheiro que a vítima nunca mais viu. 

Casos como o de Clara* motivam o avanço, no Congresso Nacional, de um projeto de lei que cria o crime de estelionato sentimental e aperta o cerco contra bandidos que fazem promessas de amor em troca de bens e recursos financeiros.

Se a proposta for aprovada no Senado e seguir para sanção do presidente da República, a pena para os “golpistas do amor” pode variar entre dois e seis anos de prisão. A punição é maior do que a prevista hoje para o crime de estelionato, no qual o condenado pode pegar de um a cinco anos de reclusão.

Segundo o advogado Nardenn Souza Porto, especialista em estelionato sentimental, o projeto acerta ao aumentar o rigor contra a fraude em relacionamentos amorosos. “Para esse tipo de gente, não basta acabar psicologicamente com a vítima, eles sugam até o último centavo”, afirma.

Vida Dupla

Após levar um prejuízo de R$ 30 mil, Clara* tenta, na Justiça, reaver o valor tomado pelo homem que conheceu no trabalho e com quem trocou juras de amor pelo acesso ao dinheiro que ela juntou com tanta dificuldade na poupança. 

“Ele disse que estava se separando da ex-mulher e que precisaria pagar uma casa. Disse que tinha dívidas. Pediu emprestado (R$ 30 mil). Não vi problema, já que ele recebia R$ 30 mil por mês”, relata a mulher, que tinha um salário de R$ 2 mil.

Por fim, eles terminaram, mas o homem negou que tivesse qualquer dívida com ela e começou a difamá-la. Além do prejuízo financeiro, Clara* descobriu que ele ainda era casado e vivia uma vida dupla.

*Nome fictício

Dados

A inclusão do delito no Código Penal também pode ajudar a entender o tamanho do problema, já que, sem legislação específica, não há dados sobre fraudes em relacionamentos.

No entanto, o estudo “Era golpe, não amor”, realizado em março, pela Hibou Pesquisas, mostra que esse tipo de golpe pode ser mais comum do que se imagina: a cada dez mulheres que usam aplicativos de relacionamento, quatro já foram impactadas de alguma forma por golpes. O levantamento ouviu 1.200 mulheres de todas as regiões do país.

Valores Altos

Pesquisa “Era golpe, não amor” revela o prejuízo das vítimas:

  • 12% teve perda de mais de R$ 5.000;
  • 3% perdeu entre R$ 2.000 e R$ 5.000; 
  • 20% perdeu de R$ 500 a R$ 2.000;
  • 10% relata ter perdido até R$ 500.