Apagão na educação no Brasil

Falta de investimento no setor sucateia carreira de professor

Desrespeito rotineiro com educadores afasta jovem da carreira de professor

Por Clarisse Souza
Publicado em 14 de outubro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Com 48 anos de idade e 25 de carreira, a pedagoga Marenilda Oliveira Gonçalves avalia que o descaso contra o professor é um desestímulo para quem tenta desempenhar com maestria a missão de educar. “O mais difícil é que as famílias cobram da escola o papel que deveria ser exercido por elas. Fora a questão salarial. Não somos valorizados”, lamenta. Apesar disso, ela não se arrepende da escolha que fez. “Sou uma apaixonada pela educação”, diz.

Diretora de escola em Ibirité, na região metropolitana de BH, que atende do maternal ao nono ano do ensino fundamental, Marenilda acredita que o desrespeito cotidiano aos educadores é o que mais desestimula as novas gerações a lecionar. “Como ele (o jovem) vai querer ser um educador quando crescer?”, questiona.

"A educação brasileira está falida, mas temos  amor por ela. Nosso maior retorno é ver o progresso do aluno. É o que aumenta o amor da gente”, disse Marenilda.

Doutora em psicologia da educação e presidente do Semesp, instituto que representa instituições de ensino superior em todo o país, Lúcia Teixeira concorda: “Às vezes, os universitários são atraídos para outras profissões porque sentem que a docência não é valorizada”. 

Remuneração e condições de trabalho falhas

Para ela, é necessário melhorar a remuneração de professores e adequar as condições de trabalho dos que estão em classe, mas também mirar a melhoria da qualidade dos cursos de licenciatura. Para a especialista, é fundamental financiamento para aumentar as possibilidades de estágio nas turmas da educação básica, a fim de que o estudante se sinta preparado para lecionar.

“É importante uma nova política que promova a construção da profissão docente e que introduza na formação (do professor) elementos necessários para uma aprendizagem ativa, com metodologias inovadoras”, finaliza Lúcia Teixeira. 

A falta de investimento em políticas públicas é uma das principais causas do sucateamento da profissão, que tem “vivido um processo de ataque cotidiano”, afirmou Denise Romano, coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE-MG). 

"A gente continua na sala de aula por compromisso. Não com os governos, mas por termos certeza de que a educação é um direito de todos e que ela não pode ser negada”, afirmou Denise Romano.

Ameaça à qualidade

A baixa procura pelos cursos de licenciatura também ameaça a qualidade do aprendizado de crianças e adolescentes no futuro, segundo Lúcia Teixeira, presidente do Semesp. “Corremos o risco de ter que improvisar professores para áreas importantes, como matemática, física, química e biologia”, alerta. 

Integração entre universidade e escola é frágil

A falta de integração entre ensino superior e sistema educacional é outra falha a ser corrigida para aumentar o interesse dos jovens pela docência, segundo Marcelo Rezende, coordenador de operações do Movimento Profissão Docente, do Instituto Península, que atua na área. Para ele, a integração entre universidade e escola é frágil, e fica difícil para o estudante de licenciatura ter experiências de trabalho sólidas antes de se formar.

Recém-graduada em pedagogia, Nayanne Silva, de 23 anos, lamenta que a falta de experiência como professora regente a esteja impedindo de conseguir trabalho. “Recebi vários ‘nãos’. Mas como vou ter experiência se não me dão oportunidade?”, questiona. Ela pausou a carreira para um intercâmbio na França, onde vai ser babá e fazer cursos na área da educação. 

 

Efetivo da educação

Minas tem cerca de 158 mil professores que lecionam em turmas do primeiro ano do ensino fundamental à terceira série do ensino médio na rede pública estadual. 

O que diz o Estado

O governo de Minas afirma desenvolver uma série de ações para valorização e capacitação do professor, como o programa de progressão de carreira e a oferta de cursos gratuitos de pós-graduação para docentes. 

O que diz a PBH

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou manter programas que visam ao bem-estar e ao cuidado com a saúde dos docentes. Para combater a violência nas escolas, a Guarda Municipal faz rondas preventivas.
 

 

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