Falta de convívio

Isolamento social deixou sequelas para alunos e dificulta ressocialização

Danos emocionais e psicológicos que a pandemia trouxe dificultam, inclusive, sucesso pedagógico, avaliam entidades

Por Guilherme Gurgel
Publicado em 02 de setembro de 2022 | 03:00
 
 
 
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O ano de 2022 marcou o retorno às salas de aula para Pedro Henrique, de 10 anos, após quase dois anos de ensino remoto na escola particular que frequenta, em BH. Assim como grande parte dos alunos, ele tem dificuldades para se adaptar à retomada. Na opinião da mãe do garoto, a dona de casa Daniela Couto, de 47 anos, o modelo de aulas virtuais durante o isolamento não foi tão efetivo. 
 
“A criança não aprende (tendo aula pelo computador). Eu tinha que ficar assistindo com ele”, relembra ela. Daniela relata que percebe os efeitos do isolamento também no comportamento do filho, que ficou mais agitado e estressado. “Até hoje, Pedro tem dificuldades, porque tem bem menos vontade de estudar”, diz. 
 
Vários fatores influenciam o psicológico dos estudantes, conforme Celina Alves Areas, diretora estadual do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais. “Um deles é a falta de convívio entre os colegas”, exemplifica.
 
Para Flávia Silvestre, diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de BH, a comunidade escolar está aprendendo a ressocializar, mas falta apoio do poder público. “A prefeitura deveria garantir instrumentos para que os alunos que estão apresentando problemas possam superá-los”, pleiteia.
 
A perda no aprendizado após o ensino remoto é apontada por Denise Romano, coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE-MG), como uma falha do poder público. “Alunos que fizeram 7 anos na pandemia não tiveram escolarização e chegaram à escola sem saber ler nem escrever porque não dá para alfabetizar ninguém de forma remota”, exemplifica. E acrescenta: “São dois anos sem escola, e o que a gente está enfrentando agora são os reflexos”.
 

Programa do estado foca em acolhimento
 
A violência e os danos psicológicos verificados nas escolas pós-pandemia não estão limitados a esse ambiente, na opinião de Igor de Alvarenga Rojas, secretário de Estado de Educação de Minas Gerais. “Têm uma interlocução muito próxima com o isolamento que a sociedade teve durante a pandemia”, afirma. 
 
Ele disse que está em ação nas instituições o programa Convivência Democrática, que busca tornar o ambiente mais acolhedor e combater a violência. “Fizemos também a contratação de 230 psicólogos e 230 assistentes sociais”, acrescentou o representante do Estado.
 
Sobre o atraso no aprendizado, o secretário afirma que diagnósticos estão sendo feitos na rede de ensino e que um programa de reforço escolar atende 90 mil estudantes no Estado. “Lançamos uma ferramenta pedagógica que direciona as ações dos nossos professores”, conclui Igor Rojas.
 
Questionada sobre os resultados dos diagnósticos de aprendizagem, a Secretaria de Estado de Educação informou que são divulgados apenas a professores e estudantes.
 
Ação da PBH
 
A Prefeitura de BH informou, em nota, que monitora as escolas municipais e realiza projetos pedagógicos que envolvem alunos e professores na melhoria da convivência e da segurança. A Patrulha Escolar da Guarda atua preventivamente, diz o texto.
 
 

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