Novo treinador

Cuca no Galo: o que a Grupa, coletivo de torcedoras, gostaria que você soubesse

O Super.FC conversou com o coletivo Grupa Galo, grupo de mulheres atleticanas que lutam pelo fim do preconceito no futebol, para saber a opinião delas sobre o assunto

Por Giovanna Pires
Publicado em 04 de março de 2021 | 18:03
 
 
 
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Cuca deve ser anunciado em breve como novo treinador do Atlético. O retorno do técnico campeão da Libertadores em 2013 pelo Galo divide a torcida. Parte acredita que Cuca é uma boa opção para o momento, mas, do outro lado, torcedoras e torcedores não concordam com a vinda do treinador, relembrando, principalmente, a acusação de estupro de vunerável e a condenação por atentado ao pudor com uso de violência, quando ainda era jogador nos anos 80. 

O time foi à Suíça para uma excursão pela Europa. Após a vitória sobre o Benfica, Cuca, o goleiro Eduardo, o zagueiro Henrique e o atacante Fernando foram detidos, suspeitos de estuprar uma menina de 13 anos, que teria ido ao hotel da delegação pedir uma camisa. Os acusados ficaram detidos por quase um mês no país. Naquela época, o caso gerou revolta, mas não por causa da acusação de estupro e sim porque os jogadores teriam sido injustiçados ao ficarem detidos no país. 

Cuca foi condenado a 15 meses de prisão por atentado ao pudor, mas nunca cumpriu a pena, que expirou em 2004, já que o Brasil não extradita seus cidadãos e não tinha um acordo de cooperação com as autoridades suíças.

O caso voltou ao debate quando o treinador, ainda no Santos, apoiou a contratação do atacante Robinho, condenado por violência sexual na Itália. Após a polêmica, o Peixe suspendeu o contrato do jogador. 

Há um mês, desde o início das especulações de saída de Jorge Sampaoli do clube, Cuca é um dos nomes cogitados para assumir o cargo. Desde então, parte da torcida se mostra contrária à contratação. Nas redes sociais, usando a hashtag ‘#CucaNão’, esses torcedores relembram a acusação e pedem uma explicação do clube. A Grupa, coletivo de torcedoras do Galo criado para combater qualquer tipo de preconceito no clube, se posicionou sobre o assunto em conversa com o Super.FC.

“É importante ressaltar que, como figura pública, o treinador é visto como exemplo. Ele se envolveu, junto a outros atletas, em um caso violência sexual contra pessoa vulnerável, e sua fala recente não muda sua relação com o caso. Mais que isso, ao se dizer inocente e mal discutir o assunto, ele silencia um debate necessário e fomenta a continuidade de posturas violentas no ambiente do futebol e na sociedade, deixando de usar seu papel de destaque como instrumento de mudança e evolução do tema”, afirmou a representante que preferiu não se identificar. 

No dia 8 de março é “celebrado” o Dia Internacional da Mulher. A primeira informação é de que essa seria a data de apresentação do treinador no Atlético, na segunda-feira. Para o grupo de torcedoras, a escolha da data é mais uma prova do descaso da diretoria do clube com o assunto. 

“Existe uma perversidade em escolher uma data que marca luta e resistência das mulheres para apresentar um técnico cuja contratação recebeu reações negativas da torcida devido ao seu envolvimento em um caso de violência sexual. Reiteramos nossa crença no poder do papel social dos clubes de futebol na transformação da realidade excludente e violenta que vivemos, e ao fazer essa ação o Atlético se afasta desse ideal”, comentou o coletivo.

 

 

Cuca falou pela primeira vez sobre o assunto nesta semana. Em um vídeo gravado ao lado da esposa e das filhas, o treinador negou envolvimento. 

"É algo que eu tenho uma lembrança muito vaga, até porque não houve nada, não houve estupro. Houve uma condenação por ter uma menor ter adentrado o quarto. E simplesmente isso. Não houve abuso sexual, ou tentativa de abuso. Só que hoje, 34 anos depois, com a força que o movimento vem pegando, a gente vê isso e fica sentido. Resolvi dar um basta nisso, aqui em frente a minha família. É constrangedor vir e dar uma entrevista assim”, afirmou o treinador em vídeo enviado à jornalista do UOL, Marília Ruiz. 

O que muita gente se questiona é: “então pessoas condenadas não têm mais o direito de ‘ressocialização’?” “O que o clube tem com isso? Eles só querem um treinador para a equipe”. “Cuca vai ter que ficar para sempre sem trabalhar, por causa de um erro do passado?” Para a Grupa, Atlético e Cuca deveriam se posicionar mais firmemente sobre o assunto. Ignorar as acusações e o ocorrido não deveria ser uma opção; 

“Gostaríamos que o Clube não silenciasse esse debate. É preciso que o clube - e também o treinador - se engajem em campanhas de educação e conscientização sobre violência contra a mulher que conversem com a torcida e também jogadores e funcionários. Figuras públicas como atletas, técnicos e dirigentes têm grande influência na opinião pública, e a idolatria à qual estão sujeitos implica que suas atitudes podem impactar diretamente o comportamento de quem os admira. Das coisas mais comuns que escutamos nesse período de #CucaNão foram pessoas minimizando o assunto, tratando como se um ato sexual com uma criança de 13 anos pudesse ser consensual.  É preciso um trabalho sério e sistemático sobre o tema. Gostaríamos que o Clube fosse protagonista nessa luta”, afirmou ao Super.FC.

 

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