Voltou à tona

Especulação de compra do Cruzeiro reacende discussão sobre clube-empresa

Possibilidade de aquisição do clube mineiro por fundo de investimento árabe reacende discussão sobre modelo empresarial no futebol brasileiro

Por Super.FC
Publicado em 22 de outubro de 2021 | 19:17
 
 
 
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Desde a compra do Newcastle, da Inglaterra, pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIS), as discussões envolvendo os clubes sobre a transformação do modelo de gestão das associações em empresas ganharam força, inclusive no Brasil. Nos últimos dias, uma especulação movimentou as redes sociais e despertou agitação na torcida do Cruzeiro. 

Surgiu uma especulação no último sábado de que o novo dono dos magpies, Mohammed bin Salman, estaria interessado em comprar o time de Belo Horizonte. O boato surgiu por causa de uma publicação do jornal Libero, da Itália, afirmando que o príncipe da Árabia Saudita tem interesse em tomar conta de um clube brasileiro. Outro jornal importante da Europa, o diário esportivo espanhol As repercutiu a notícia e citou a equipe celeste como uma das prováveis candidatas. 

Apesar de todos esses rumores, o Cruzeiro não tem a opção de ser vendido, uma vez que não possui um “dono”.  Enquanto não aprovar seu plano de se transformar em uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), o que permitia vender até 49% de suas ações para algum comprador, o clube não se encaixa nos moldes de empresa, é uma associação poliesportiva. 

Pelo segundo ano consecutivo na Série B e com dívidas impagáveis, o Cruzeiro vive o momento mais difícil de sua história. Para Marcelo Segurado, executivo de futebol do Goiás, em 2011, e do Ceará, em 2017, a principal armadilha para clubes de maior expressão é a ideia de que somente a camisa vai fazer com que o resultado venha.

“Quando uma instituição dessas cai, é em virtude de erros que vêm sendo cometidos por vários anos. Um time não cai pelo planejamento errado de um ano. Assim como os que ascendem de séries inferiores não chegam lá por um ano extraordinário”, acrescenta o executivo. 

A exemplo do Cruzeiro, a má gestão nos últimos anos culminou com o rebaixamento do clube, que agora sente muita dificuldade para conseguir se reerguer e retornar a elite do futebol brasileiro. Diante desse cenário, o projeto de clube-empresa é visto como uma alternativa para livrar o clube desta crise. 

Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, agremiação que é exemplo de administração responsável e com poucas dívidas no futebol brasileiro, entende que todos os modelos são sempre bem-vindos, mas desde que sejam acompanhados de uma boa gestão. 

“Cada clube sabe o que é melhor para ele, e com certeza o modelo de S/A pode ser um salto considerável para algumas instituições, pois pode atrair o investidor e usar esse dinheiro de imediato. Mas tudo vai depender de um trabalho administrativo, respeitando o orçamento e as finanças da instituição”, declarou Paz, que também desfruta de bons resultados dentro de campo, com o Fortaleza na terceira colocação do Campeonato Brasileiro e na semifinal da Copa do Brasil.

Para Jorge Braga, CEO do Botafogo-RJ, clube que trabalha e é pioneiro na ideia da formação da SAF no Brasil, não é o modelo de Sociedade Anônima de Futebol que resolve, é o compliance e a transparência de gestão. “Sem dúvida, a partir do momento que uma estrutura de S/A entra em vigor, essa transparência e os controles vêm juntos com a lei, mas isso também pode ser feito apesar disso. Esse é o único caminho para todo clube de futebol, independente do tamanho”, esclarece o dirigente que, trabalha para equacionar as dívidas do Botafogo-RJ.

Na visão de Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo, no contexto atual do futebol, seja local ou internacional, é improvável que vejamos clubes que não fazem parte da elite nacional brigando por títulos. A capacidade de crescimento financeiro, de forma orgânica, é bastante limitada, sobretudo quando se está fora do eixo. Porém, um fator que poderá mudar radicalmente esse mapa é a aquisição de clubes menores por investidores estrangeiros. 

“Isso já aconteceu com o Bragantino. Alguém em sã consciência conseguiria imaginar, em condições normais, o clube disputando uma final da competição sul-americana? Nunca. Em pouco tempo o Red Bull entrou na elite nacional. E isso poderá se repetir com outros clubes, pois percebo que existe um movimento inicial de investidores estrangeiros, de alto calibre, olhando para clubes nacionais. Brevemente poderemos ter algumas surpresas neste contexto”, completa Carlezzo.

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