Memórias

Finalista de 76 prega respeito e revela que quase jogou no Cruzeiro

Pedro González, o camisa nove do River Plate na decisão da Libertadores com a Raposa relembrou casos e, hoje, é funcionário do clube argentino

Por Josias Pereira
Publicado em 23 de julho de 2019 | 08:00
 
 
 
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Buenos Aires. Caminhando pelas ruas que dão ao estádio Monumental Antonio Vespucio Liberti é possível compreender que na Argentina não apenas se vê futebol, mas se vive e morre em 'La Cancha'. O fanatismo em estado puro. Do motorista do Uber que, ao saber que jornalistas esportivos do Brasil estavam se dirigindo ao local, saca da carteira o cartão de sócio cativo do River Plate à figura de Pedro González, o camisa 9 da equipe millonaria naquele dia 30 de julho de 1976, em Santiago, onde uma doce e, por vezes, amarga história de amor do Cruzeiro com a Copa Libertadores tomou forma. 

Hoje, aos 73 anos, o ex-jogador e hoje funcionário do River Plate tem a missão de passar aos pequenos sua experiência nos gramados. "Um meio assassino", como se definiu ao recordar como jogava - pois para Pedro todo finalizador é um "assassino", um jogador que tem como objetivo apunhalar o rival - daqueles anos 70 de tantos esquadrões históricos, dentre eles o Cruzeiro de Raul, Dirceu Lopes, Nelinho, Palhinha e Joãozinho que cruzou o caminho do River em uma final memorável pela América. 

"Quando perdemos para uma grande equipe, a dor é menor", aponta o ex-jogador, em entrevista ao Super FC no museu do River Plate. Andar pelos corredores do moderno local reservado para as conquistas dos Millonarios traz aquele sentimento em Pedro de que seu nome poderia estar em uma daquelas placas reservadas aos campeões da Libertadores. Todavia, ao mesmo tempo, ele reconhece que o melhor naquela dia em Santiago venceu. 

"Se o Cruzeiro tivesse perdido para nós, creio que eles também não sentiriam porque sempre haverá respeito entre os grandes jogadores. Há uma frase que eu ouvi de um jogador brasileiro que levo para toda a vida. Hoje perdemos, amanhã ganhamos. É a realidade do jogador de futebol. Não podemos fazer nada. Revanches existem todas as semanas. Perdemos hoje e estamos pensando em recuperar na semana que vem", salientou o ex-atleta. 

O futebol e seus ciclos. Enquanto atendia à reportagem, vez ou outra um garoto se aproximava de Pedro para ouvir o que aquela figura tinha a dizer sobre o River Plate. Em outros momentos, um torcedor o reconhecia e rapidamente lhe pedia uma foto um autógrafa. "Isso explica bem o que eu te disse sobre as revanches. A vida segue. A paixão da torcida e o que o futebol gera também", salientou Pedro, que ganhou sete títulos com o River de 1975 a 1981. 

Uma história com os Millonarios que poderia ter tido um outro final. Um final azul celeste. O ex-ponta contou à reportagem que o Cruzeiro, logo após aquela decisão, movimentou-se no mercado para contar com o seu futebol. Porém, o River recusou a proposta do time de Belo Horizonte. Responder o que significa a equipe celeste para a sua vida leva Pedro a imaginar o que poderia ter sido a sua carreira. 

"A bronca que tenho é por não ter podido defender a camisa do Cruzeiro que, para mim, é uma equipe muito grande. Com River, sempre cheguei ao título de vários campeonatos. Foram sete no total. Mas uma final como a que fiz contra o Cruzeiro foi a única. A gente pode ganhar e pode perder. Mas eu joguei uma final contra o Cruzeiro e isso é o que vale. Ganhar também vale muito, mas participar desse evento não era para qualquer um, mas sim para os grandes jogadores", sentencia Pedro, que fez um dos gols do River na segunda partida decisiva contra o Cruzeiro, disputada em Buenos Aires e vencida pelos Millonarios por 2 a 1, o que forçou o derradeiro jogo em Santiago. 

O gol de Joãozinho

O lance icônico daquele jogo de 1976 foi justamente a ousadia do que Pedro considera que está no DNA do jogador brasileiro. A cobrança magistral de Joãozinho. "Como todo o brasileiro, ele pegou notavelmente na bola. Foi aquele momento que deveríamos ter ficado atentos na partida. Mas naquele jogo nós não tínhamos Fillol (quem atuou na decisão foi Luis Landaburu. Fillol estava suspenso), mas aos grandes cobradores de falta não existe goleiro capaz de solucionar o problema do atacante que define de uma maneira como aquela", analisa. 

O confronto de hoje

Mais de 40 anos depois daquele jogo em Santiago, River e Cruzeiro voltam a se enfrentar pela Copa Libertadores e Pedro González tem suas impressões para esse jogo. Ao saber da situação de crise nos bastidores do clube celeste, o ex-atleta se surpreendeu, mas foi direto. "Quando 11 contra 11 estão em campo, eles nunca vão se lembrar disso. Os problemas dos dirigentes são pequenos perto da disputa que se coloca em campo em um jogo internacional", analisa. 

Pedro ainda teceu elogios ao futebol brasileiro, que mesmo em queda técnica, nunca vai perder o seu potencial, como ressalta. E claro, o ex-jogador fez uma análise da sintonia entre River e Gallardo. 

"Eu penso que sempre respeitamos qualquer equipe brasileira por seu patrimônio que nunca vai deixar de existir, que é o trabalho no toque de bola e a técnica individual da maioria dos jogadores brasileiros. Podem jogar, podem jogar bem, mas a técnica que os brasileiros têm, para nós, argentinos, é muito bonito de se ver e analisar. River está em um momento especial, esse plantel está muito comprometido com Gallardo e Gallardo está muito comprometido com esse plantel. Então todos estão tranquilos porque Gallardo não se vai para nenhum lugar a não ser aqui, dirigindo uma equipe que está lhe trazendo muitos resultados na Libertadores. Este plantel se acostumou a jogar muitas partidas internacionais e isso faz muita diferença", encerrou.

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