Antes de Ábila, um outro jogador que passou pelo Cruzeiro também defendeu as cores do Huracán. Em 1995, Roberto Gaúcho chegou a Buenos Aires com o status de goleador, alguns inclusive comparavam seu futebol a ícones locais como Batistuta e Cannigia, fruto de seu grande desempenho no bi da Supercopa da Libertadores em 1991 e 1992, pela Raposa. Ao Super FC, o ex-atleta recordou sua passagem pelo Globo, um período tumultuado no Cruzeiro, quando Antônio Lopes decidiu pelo afastamento de atletas e Gaúcho se viu obrigado a deixar a Toca da Raposa. 

O Huracán então cruzou seu caminho, mas a passagem esteve muito aquém da performance arrebatadora do atleta quando defendeu a Raposa. Em pouco mais de cinco meses, foram nove  jogos e um gol marcado. Com a ida de Ênio Andrade para o Cruzeiro, Gaúcho foi reintegrado ao time celete e mostrou-se mais uma vez marcante, sendo um dos ícones da Copa do Brasil de 1996. 

DESGASTE COM O DELEGADO  

Fui ao Huracán emprestado pelo Cruzeiro. O Zezé Perrella me falou do interesse do Atlético Paranaense, de vários clubes do Brasil, eu queria permanecer no Cruzeiro, mas teve um problema com o Antônio Lopes e eu preferi ir embora para fora do país. Eu fui para o Huracán e quando cheguei lá as pessoas achavam que eu ia resolver o problema porque saí do Cruzeiro com títulos que eu praticamente decidi em vários jogos, como a Supercopa. Eu era ídolo, e eu não queria ter saído, mas acabei indo para o Huracán.

BOM RELACIONAMENTO COM TÉCNICO QUE BARROU O FENÔMENO 

Foi uma passagem muito boa, aprendi muitas coisas no futebol argentino que, na minha opinião, possui os melhores treinadores da América do Sul. Eu tive a felicidade de trabalhar com o Héctor Cúper, que era o treinador do Huracán na época. Esses trabalhos todos que as pessoas falam aqui no Brasil hoje, a gente já fazia em 1995 no Huracán. O Cúper treinou Inter de Milão, vários times da Espanha, barrou o Ronaldinho Fenômeno, um cara muito sério. Ele morava na mesma cobertura que a minha em Buenos Aires. O Huracán me deu tudo, o presidente era um cara muito bacana, mas eu não queria jogar na Argentina. 

"NINGUÉM CONSEGUIA ENTENDER O QUE EU ESTAVA FAZENDO NO HURACÁN" 

Se fosse para eu ter ido à Argentina eu tinha que ter jogado pelo Boca, o Vélez, Racing, tinham vários clubes, mas o Huracán foi o que me apareceu na época. Eu tinha que sair do Cruzeiro porque o Antônio Lopes afastou seis, sete jogadores. Em Buenos Aires ninguém conseguia entender o que eu estava fazendo no Huracán, todos falavam que eu tinha que ter ido para um Boca devido ao meu currículo, meu potencial, aí eu comecei a desanimar. Jogamos contra Vélez, Racing, a diferença era muito grande, era como um Cruzeiro contra um América, uma Caldense. O Huracán não é um time milionário. Os outros times eram todos fortes, na minha geração era só craque, aí já me compararam com o Batistuta, Cannigia, que eu ia resolver todos os jogos e as coisas não eram bem assim. 

MAIS PARECIDO COM CANNIGIA

Não tem nada a ver essas comparações com Batistuta e Cannigia, na verdade com o Batistuta até pode ter alguma coisa. Éramos jogadores de muita raça, muita velocidade, habilidade, batíamos com as duas pernas e cabeceávamos. Eu fiz vários gols de cabeça apesar de ser ponta. Todos os clubes onde passei fiz gols assim, de direita, de esquerda, no Cruzeiro até fiz gol de título de perna direita, de cabeça, de esquerda, mas meu forte era dar assistência. 

"NÃO GOSTAVA DE TREINAR" 

Eu dei uma largada também, não gostava muito de treinar e o futebol de lá é muito pegado, é intensidade o tempo todo, mas não me arrependo. Cumpri com minhas obrigações e infelizmente não repeti o mesmo sucesso que consegui nas equipes que defendi no Brasil e nos Estados Unidos.

Eu não gostava muito de treinar mesmo porque eu fui para lá, mas com aquela vontade de estar no Cruzeiro, queria voltar. Antes de eu jogar lá queria voltar. Depois que eu conheci o Cúper, ele conversava comigo, me chamava na sala dele para tomar chimarrão. Nos três primeiros jogos eu fui muito bem, arrebentei, aí depois eu dei aquela relaxada. 

AMARELOS DE PROPÓSITO PARA NÃO JOGAR  

Comecei a ganhar amarelo atrás de amarelo na Argentina, vinha para o Brasil direto porque estava ao lado da minha família, em Porto Alegre. O voo era 40 minutinhos. Confesso que ganhei muito amarelo para ficar suspenso, procurava os vermelhos e os caras vinham mesmo para me pegar porque eles conheciam a minha história contra o Racing, River, Boca e Vélez. Não dei muitas alegrias para a torcida do Huracán, no começo ficou aquele gostinho. 

O RETORNO AO CRUZEIRO "CABULOSO" 

Só guardo coisas boas, um estádio maravilhoso  ali no centro ao lado do campo do San Lorenzo, o treinador me tratava super bem, mas foi pouco tempo. Eu voltei para o Cruzeiro logo em seguida, quando o Ênio Andrade assumiu e eu já voltei ganhando tudo no Cruzeiro. Foi Copa do Brasil, Libertadores, ia até para a seleção, mas infelizmente tive uma lesão grave e parei aos 29, 30 anos. Foi aqui no Cruzeiro que me lesionei gravemente contra o Grêmio, na Libertadores, no finalzinho me machuquei e não voltei mais a jogar. Mas só tenho boas lembranças do Huracán. Deixei muitos amigos, um treinador que era muito competente, não sei o que Héctor Cuper está fazendo hoje, mas é uma baita pessoa, um baita caráter.  

"DESEJO SORTE AO HURACÁN EM BUENOS AIRES, MAS QUE NA QUARTA-FEIRA, O CRUZEIRO OS ATROPELE NO MINEIRÃO"

Graças a Deus que eu voltei para o Cruzeiro 'Cabuloso", o time do meu coração, onde eu ganhei nove títulos em seis anos e meio, mas desejo sorte ao Huracán em Buenos Aires, mas que na quarta-feira o Cruzeiro os atropele no Mineirão para encaminhar a classificação e continuar com a liderança do Grupo B. 

MAS É NECESSÁRIO CUIDADOS... 

O Huracán é um time duro na quarta-feira para o Cruzeiro, tem que tomar muito cuidado, é um time que tem camisa em Buenos Aires. Estou feliz com o momento do Cruzeiro, com o trabalho maravilhoso da diretoria, do comando do Mano Menezes. O grande segredo do futebol é manter a simplicidade, manter a comissão técnica do clube e o elenco. Eu passei pelo Cruzeiro, fui várias vezes campeão porque ei fiquei seis anos ao lado de Boiadeiro, Dida, Nonato, Cleisson, Marcelo Ramos. O time mantinha o elenco, era muito difícil perder e conquistava títulos. 

MIRANDO O FUTEBOL ARGENTINO COMO EXEMPLO 

Estou indo para Buenos Aires, ia fazer um estágio com o Sampaoli, no Santos, porque eu sou treinador hoje. Minha intenção é ficar um mês na Argentina aprendendo com os profissionais do Boca, Vélez, River, Independiente, quero fazer um estágio porque os treinadores argentinos são muito bons. Você pode ver que todos eles estão na Europa.