Se dentro de campo as coisas até caminham bem para o Cruzeiro – classificado à terceira fase da Copa do Brasil e às semifinais do Mineiro -, os bastidores seguem em ebulição. Nesta quinta-feira, teve repercussão imediata (tanto positiva quanto negativa) a resposta de Ronaldo Fenômeno à nota emitida no dia anterior pela Mesa Diretora do Conselho Deliberativo com críticas a pontos do acordo de compra de 90% das ações da SAF.
Por meio de ‘carta ao torcedor’, divulgada por sua assessoria, Ronaldo afirmou que o Conselho ‘distorce a realidade’ e apresentou suas explicações sobre as alterações mais polêmicos entre as solicitadas por ele no acordo de compra.
A primeira, diz respeito ao valor do investimento em si, já que parte dos R$ 400 milhões previstos poderiam vir também das chamadas receitas incrementares, obtidas pela gestão Ronaldo, e não necessariamente sair “do bolso” do Fenômeno. A segunda, o repasse das Tocas I e II também para a SAF, como uma espécie de ‘garantia’ pelo negócio, principalmente depois que a equipe do Fenômeno constatou que a situação financeira do clube é muito mais complexa do que havia sido relatada anteriormente.
Boa parte dos conselheiros procurados pela reportagem preferiu não se manifestar. Alguns alegaram ainda não terem “conhecimento suficiente para opinar”. Mas entre os que se manifestaram não houve consenso.
O conselheiro Maurício Silva, um dos integrantes da Mesa Diretora que assinou o documento divulgado na noite de quarta (16), não enxergou nenhum problema em Ronaldo redigir uma carta endereçada à torcida. Mas também não mudou de opinião.
“É um direito dele. Mas no nosso entendimento esta negociação não atende aos interesses do Cruzeiro. No nosso entendimento a SAF já seria responsável por esta dívida tributária (da ordem de R$ 200 milhões). Na negociação que foi feita, a meu ver, ele assumiria todas as pendências a serem resolvidas ao longo dos 10 anos”, afirmou, rebatendo um dos itens colocados por Ronaldo como decisivos para solicitar o repasse das Tocas I e II.
Já Anisio Ciscotto também defende a manifestação de Ronaldo, mas tem uma visão bem diferente da do colega de Conselho Deliberativo.
“Ronaldo está no direito dele de contestar. Infelizmente nós conselheiros ficamos no meio do tiroteio por falta de transparência. Decisões são tomadas sem o conhecimento dos que votam, que depois são chamados a votar em caráter de emergência. Concordo que as Tocas fiquem com a SAF, afinal os CTs têm a ver com o time de futebol. Infelizmente o clube está pagando pelas infelizes recentes administrações. E, estando na SAF, realmente, estão protegidas”, analisou.
Ciscotto acredita não haver como evitar a transferência das Tocas I e II. “Para garantia do pagamento da dívida tributária, a transferência dos CTs é necessária. Neste momento não vejo outra saída possível para o impasse. Acredito que o clube terá que aceitar as alterações solicitadas pela equipe de Ronaldo. E, acima de tudo, concordo com ele quando diz que o Cruzeiro precisa de paz”, acrescentou.
O conselheiro Ronaldo Granata também atendeu a reportagem, mas, como estava em trânsito, fora de BH, voltando de uma viagem, ainda não havia tido acesso à íntegra da carta emitida por Ronaldo. Mas, de antemão, de uma coisa ele disse ter certeza: “Nesse jogo de bastidores podre, infelizmente, perde o Cruzeiro”, afirmou.
Uma nova reunião do Conselho Deliberativo deve ser convocada já para os próximos dias para analisar e colocar em votação as novas alterações propostas por Ronaldo.
Quando Ronaldo assinou, em dezembro de 2021, o contrato de intenção de compra de 90% das ações da SAF Cruzeiro ficou combinado que ele e sua equipe teriam 120 dias para realizar um período de ‘transição’. Esse prazo se encerra no dia 18 de abril. Até lá Ronaldo terá que definir se efetua, de fato, a compra das ações, mas ainda pode desistir do negócio. Enquanto isso não acontece, a torcida celeste segue na expectativa, ansiosa por boas notícias.