O velejador brasileiro Robert Scheidt é, sem dúvida, um dos atletas mais longevos que seguem no mais alto nível do esporte mundial. Com 47 anos, ele nem pensa em aposentadoria. Em 2017, ele chegou a anunciar que não participaria mais de nenhuma edição de Olimpíada, decisão que logo foi removida. Nos Jogos de Tóquio, no ano que vem, ele parte para sua sétima presença no torneio, um recorde entre todos os atletas que já representaram o país no torneio.
O recorde do velejador não aparece somente em participações olímpicas, como também em medalhas (cinco). Morando na Itália, ele voltou a treinar mais forte nos últimos dias, sabendo que a preparação antecipada pode fazer toda a diferença para um bom resultado nos próximo ano.
Ainda com muito gás para incomodar os adversários, anos mais novos, ele garante que seguirá sendo uma pedra no sapato (ou no barco) de quem estiver na raia ao seu lado. "Aposentadoria da vela nem pensar. Pretendo seguir velejando por muito tempo ainda, em outras classes. Meus planos são fazer uma boa Olimpíada e brigar com a molecada pelo pódio. Estou trabalhando muito para isso. Seguirei em frente com o esporte que amo, sempre aberto a novas possibilidades", comenta.
Opções para seguir vencendo
Scheidt é grande conhecedor das várias classes de vela e sabe que, na Laser, a competitividade não é a mesma quando a diferença de idade começa a ser maior. Menos mal que opções não faltam para que um 'monstro' das águas siga presenteando os amantes do esporte com sua presença. "Sobre Tóquio ser minha última participação olímpica, sigo o ditado que fala nunca diga nunca. Mas, na classe Laser, seria muito difícil seguir competindo em alto nível contra atletas que, hoje, já são, em média, 20 anos mais jovens que eu", pondera.
A Star pode ser uma opção interessante para Scheidt. Foi nela que vieram duas das suas cinco medalhas olímpicas. "Eu adoro a Laser e adoro a Star. Cada uma tem seus encantos e seus desafios. A vela, como um todo, é um esporte maravilhoso. Você está em constante contato com a natureza e suas belezas e, ao mesmo tempo, precisa lidar com muitas variáveis, como vento, correntezas, ajustes no barco, além dos adversários, claro. Velejar é minha vida", agradece o bicampeão olímpico.
"Não tenho preferência, nem acho que existe uma classe melhor que outra. Existe aquela na qual o velejador se adapta melhor. No meu caso, até pelos resultados, tive um barco ideal na Laser. Contudo, também gosto muito do Star, uma embarcação na qual também obtive conquistas importantes", lembra.
Scheidt sabe que seus resultados em mais de 30 anos de carreira são históricos, mas prefere deixar para os outros o local que ele ocupa no esporte brasileiro. "É difícil falar de mim mesmo. Sei que os meus resultados são importantes para o esporte do Brasil. Mas o importante é que não só o meu exemplo, mas o de tantos outros atletas que lutam pelo nosso país inspirem as futuras gerações. E, para isso, também é preciso investimento", sugere.
Raquetes pelos barcos
O esporte brasileiro pode agradecer pelo fato dele ter trocado as raquetes pelo barco. Até os 15 anos, Scheidt se dedicou ao tênis, quando tomou uma decisão que se mostrou bastante acertada. "Eu sempre gostei de jogar tênis e sempre gostei de velejar. Consegui levar os dois paralelamente até o momento de optar. O amor por velejar falou mais alto. Mas o tênis me ensinou muito em termos de atitude mental e ainda acompanho a modalidade. Recentemente, tive a oportunidade de assistir a final do Australian Open. Foi incrível", admite.
Preparado para a próximo desafio
Depois de velejar por 20 dias de forma solitária no mês de maio, Scheidt viu como proveitoso o período posterior, quando teve a chance de treinar, com mais intensidade, ao lado de velejadores italianos e franceses. “Foram dias muito produtivos e estou contente. Treinei muito com o Jean-Baptiste Bernaz, com quem tenho uma parceira há algum tempo. Ele é hoje um dos top 5 do mundo e é muito importante ter um parâmetro para avaliar minha velejada. Encerrei essas sessões me sentindo bem fisicamente, sem lesões e andando próximo a ele. Ainda tenho pontos a evoluir, mas foi muito bacana encarar esse volume de trabalho intenso”, comenta.
“Aproveitei para fazer testes de velocidade e experimentei um novo barco e novos equipamentos. Ter um cara como o Jean-Baptiste como parâmetro é importante, porque ele é muito veloz, especialmente em vento forte”, completa.
Confira um resumo da carreira de Robert Scheidt:
Cinco medalhas olímpicas:
Ouro : Atlanta/96 e Atenas/2004 (ambas na Classe Laser)
Prata : Sidney/2000 (Laser) e Pequim/2008 (Star)
Bronze : Londres/2012 (Star)
181 títulos - 89 internacionais e 92 nacionais
11 títulos mundiais na classe Laser: 1991 (juvenil), 1995, 1996, 1997, 2000, 2001, 2002*, 2004 e 2005 e 2013
Três títulos mundiais na classe Star: 2007, 2011 e 2012*
*Além de Scheidt e Bruno Prada, só os italianos Agostino Straulino e Nicolo Rode venceram três mundiais velejando juntos, na história da classe