Crise no esporte

Coronavírus: Na Suíça, negativa em cortar salário faz clube demitir 9 jogadores

Em outros países da Europa, atletas têm aceitado reduzir salários; no Brasil, clubes deram férias de 20 dias aos atletas e ainda discutem redução salarial

Por FOLHAPRESS
Publicado em 29 de março de 2020 | 15:39
 
 
 
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Um dos efeitos mais imediatos da pandemia do novo coronavírus no futebol da Europa, depois da suspensão de quase todos os campeonatos (o de Belarus é exceção), foi a preocupação dos clubes com suas finanças.
Vários alardearam que, se os jogadores não concordassem em reduzir seus salários temporariamente, haveria enorme dificuldade para manter a solvência, já que receitas com ingressos, TV, patrocínios e merchandising serão fortemente afetadas. O apelo funcionou pontualmente.

Na Alemanha, Borusssia Mönchengladbach e União Berlim, este promovido nesta temporada à divisão de elite do campeonato nacional, anunciaram que seus atletas aceitaram abrir mão dos salários - no caso da equipe da capital, integralmente. Atletas de Bayern de Munique e Borussia Dortmund, os dois principais times da Bundesliga, terão corte, consentido, de 20% em seus vencimentos.

Na Espanha tem havido resistência. O elenco do Barcelona dividiu-se em relação à medida, e o clube a impôs unilateralmente, abrindo margem para atritos com Messi e companhia. O salário do argentino, camisa 10 e capitão do time da Catalunha, é de € 8,3 milhões (R$ 47,3 milhões) por mês, de acordo com o jornal francês L'Équipe.

Atlético de Madrid e Espanyol também reduzirão os ganhos dos seus futebolistas independentemente de eles concordarem. "Há um único objetivo: assegurar a sobrevivência do clube", justificou Miguel Ángel Gil Marín, diretor-executivo da equipe madrilenha. Na Itália, a Juventus, atual octocampeã, acertou-se com o elenco, e a economia com salários será, no período de quatro meses, de € 90 milhões (R$ 512,7 milhões). Inclusive Cristiano Ronaldo aceitou colaborar: o português "sacrificou" € 3,8 milhões (R$ 21,7 milhões) de seu recebimento anual, que é, segundo o L'Équipe, de € 54 milhões (R$ 307,6 milhões).

O caso mais chamativo até agora aconteceu na Suíça. O FC Sion, duas vezes campeão nacional, demitiu nove jogadores - ou um terço do elenco principal - que se recusaram a ter o salário diminuído. Três deles estiveram em Copa do Mundo: o zagueiro suíço (nascido na Costa do Marfim) Johan Djourou, o volante camaronês Alexandre Song, ambos ex-Arsenal (Inglaterra), e o atacante marfinense Seydou Doumbia. Também tiveram os contratos rescindidos Ermir Lenjani, Xavier Kouassi, Mickaël Facchinetti, Birama Ndoye, Pajtim Kasami e Christian Zock.

"Não há por que manter jogadores que se recusam a se empenhar quando todo mundo está se empenhando", afirmou o presidente do Sion, Christian Constantin. "Eu lhes disse que a redução no salário deles seria praticamente o salário de duas ou três enfermeiras trabalhando duro hoje para salvar vidas."
O Sindicato dos Jogadores de Futebol da Suíça considerou incorreta e ultrajante a atitude do clube. "Não é aceitável esse tipo de comportamento", declarou Lucien Valloni, que preside o sindicato. "Se uma crise aparece, você tem que dar apoio aos seus funcionários -e não apontar um revólver para a cabeça deles, lhes dizer que têm 24 horas para decidir sobre uma redução salarial e, se eles se recusam, dispensá-los. Isso é um afronte."
"Não foi um sinal de solidariedade. Estávamos buscando uma solução, e os atletas estavam prontos para ajudar os clubes. Um corte de salário, contudo, é prematuro", prosseguiu Valloni.

Ele ressaltou que os jogadores, mesmo sem jogos, continuam a treinar em casa, individualmente. "Continuam trabalhando, então por que devem deixar de ser pagos?", concluiu. A Fifa tem recomendado a clubes e jogadores que cheguem a acordos amigáveis em relação à questão salarial durante o período da pandemia. São quase 670 mil casos registrados da Covid-19, com mais de 31 mil mortes, em todo o planeta.

A entidade máxima do futebol também planeja despender recursos de seu caixa para auxiliar atletas que percam receita. No Brasil, os clubes queriam reduzir os salários dos jogadores em 25%, porém a proposta foi rejeitada e decidiu-se por férias coletivas nos primeiros 20 dias de abril.

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