Construir elencos campeões depende de vários aspectos. Não basta somente investir, também é preciso revelar novos talentos. A equipe mais vitoriosa do voleibol brasileiro conhece muito bem esse equilíbrio, e, hoje, é um dos projetos que mais revela talentos para o vôlei no país.
Dois craques personificam esse projeto vencedor: Cachopa e Rodriguinho, atuais campeões do Campeonato Mineiro, da Supercopa, da Superliga, do Sul-Americano e do Mundial de Clubes com a camisa celeste. E esses títulos foram somente os desta temporada. Ao todo, os amigos colecionam troféus estaduais, nacionais, continentais e mundiais nos últimos sete anos. São mais de 25 medalhas de ouro para cada.
Natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, o levantador Cachopa desde cedo acompanhava o irmão mais velho nas quadras de vôlei. O jovem chegou ao Sada Cruzeiro no segundo ano de categoria infantil e passou por todos os processos da base. Em trajetória semelhante, o carioca Rodriguinho também chegou em Belo Horizonte na categoria infantil, e logo passou a compor os treinos com os adultos desde cedo.
O trabalho da última década deu muito resultado. Os atletas receberam na tarde desta terça-feira (10) a convocação do técnico Renan Dal Zotto para defender a seleção brasileira nos próximos torneios internacionais - a Liga das Nações, que inicia no fim de maio, e o Campeonato Mundial, em agosto.
Jogando em posições complementares, o entrosamento é essencial para temporadas de tantos títulos. Neste ano, titulares absolutos na equipe de Filipe Ferraz, Rodriguinho e Cachopa se conhecem muito bem tanto dentro quanto fora de quadra. E isso tudo é construído ao longo do tempo. O ponteiro Rodriguinho conta que os dois se entendem, durante os jogos, só pelo olhar, e conseguem realizar ajustes de forma muito fluida.
“Eu tenho um ajuste muito bom com o Cachopa. Às vezes a gente muda as coisas só pelo olhar. No meio de um rali, ele já olha pra mim e sei que a bola vai vir, e aí já estou preparado. Nosso ajuste é muito bom, até para quando as coisas saem do previsível. Temos esse ‘feeling’ muito próximo e isso só se constrói com o passar do tempo, não tem jeito. Com tanto tempo juntos essas coisas saem mais naturais”, contou Rodriguinho.
E a amizade vai além das quatro linhas. O ponteiro conta que em mais de dez anos de relação, a amizade com o levantador é natural.
“Nos conhecemos há muito tempo, e, por isso, acabamos criando um laço forte. Estávamos juntos em uma parte do ano com a seleção e, depois, viemos para o Sada, onde o contato passou a ser diário. Formamos laços que vão para fora de quadra. Por exemplo, a gente sai para ver um filme, e fazemos muitas coisas juntas mesmo fora do vôlei”, comentou Rodriguinho.
Tanto sucesso não é por acaso. O processo de formação de novos atletas do Sada Cruzeiro é exemplo no voleibol nacional e, além de lapidar atletas que honram a camisa celeste, também exporta talentos que se espalham pelas ligas de vôlei do mundo. Beto Martelete, assistente técnico do Sada Cruzeiro, fala sobre a importância de um trabalho de mais de uma década focado na base.
“Há mais de 10 anos, a gente vem formando a equipe do Sada. O time reserva inteiro é formado pela nossa categoria de base, por exemplo. Esses meninos é que dão suporte para esses grandes e renomados atletas no nosso dia a dia de treinos. Isso é muito importante para o crescimento deles e evolução de cada um da equipe”, comentou Beto.
A observação é ativa em todo o país. Para observar atletas que podem se enquadrar no estilo de trabalho do Sada Cruzeiro, a comissão técnica viaja por todo o Brasil para acompanhar competições de base e trazer atletas promissores para Belo Horizonte.
“O grande exemplo desse processo foi o Cachopa. Ele e o Rodriguinho vieram no segundo ano de infanto e passaram por todo o processo da base antes de virarem membros do time adulto. Mas antes da promoção, eles já compunham a equipe mesmo sendo atletas da base. Eles foram crescendo, amadurecendo e, hoje, são duas referências no Brasil e no mundo. O Rodriguinho, agora aparecendo de vez para o mundo, e Cachopa um levantador já renomado”, concluiu Beto.