O governo de Minas Gerais corrigiu ontem a declaração dada na segunda-feira pelo secretário de Estado de Planejamento e Gestão, Helvécio Magalhães, sobre o decreto oficial que institui situação de escassez hídrica na região metropolitana de Belo Horizonte. Após reunião da força-tarefa, Magalhães, que lidera o grupo criado para cuidar do abastecimento no Estado, divulgou que o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) teria entregue ao Estado o documento, que é condição legal para que a Copasa possa elaborar uma proposta de racionamento ou sobretaxa para quem consumir acima de uma média estipulada pelo governo. Mas o Igam só pode decretar oficialmente a escassez hídrica após o plenário do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH), instância superior que estabelece os princípios e as diretrizes da política de recursos hídricos em Minas, debater e votar as normas e critérios do documento. Essa reunião, que estava marcada para ontem, foi adiada para 16 de março.
Para a declaração oficial de situação de escassez, condição necessária para que a agência reguladora de água e esgoto e a Copasa adotem medidas práticas, conforme esclareceu o Sistema Estadual de Recursos Hídricos (Sisema), os critérios deverão mesmo ser aprovados pelo CERH. No entanto, o secretário chegou a estabelecer prazo para a cobrança da tarifa (abril ou maio), sem que o plano de racionamento da Copasa fosse entregue e discutida com a Arsae. “Só vamos falar em tarifação após a declaração de escassez oficializada pelo Igam e o estudo apresentado pela Copasa”, declarou o diretor geral da Arsae, Antonio Caram. Com o anúncio oficial do secretário Helvécio, integrantes de órgãos que compõem o conselho estadual expressaram insatisfação com o atropelo, segundo fontes ligadas ao governo. “Claro que a situação é crítica e o decreto deve, sim, ser aprovado na segunda (16/03). Mas atrapalha o processo a antecipação de temas que ainda estão sob análise”, criticou uma fonte.
O desconforto foi tanto, que o governo divulgou ontem nova nota corrigindo a a informação. De um “documento em que constata oficialmente a situação de escassez hídrica”, conforme texto divulgado na segunda, a explicação de ontem foi apenas de “nota técnica reconhecendo a falta de água”. A informação também foi alterada no veículo de comunicação oficial, site Agências Minas.
Conselheiros. O membro do CERH Gustavo Gazzinelli, presidente do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas, disse que não vê problema em se declarar a situação de escassez, contanto que a decisão seja estendida aos grandes usuários. “O problema é colocar a culpa só nos pequenos usuários: os cidadãos comuns. A outorga para abastecimento público tem prioridade sobre as demais, em caso de escassez hídrica. E as mineradoras?”. Outro conselheiro, que não quis revelar o nome, disse que não t em dúvidas sobre a votação favorável do conselho aos interesses do governo. “O conselho possui uma democracia desequilibrada, que defende interesses econômicos”, acusou.