Salvador celebra, no dia 21 de setembro, a quinta edição da Festa de San Gennaro, promovida pelo restaurante Pasta em Casa. A festividade dura um dia todo e acontece nas ruas Professora Almerinda Dultra e Borges dos Reis, a pouco metros da paróquia de Sant’Ana, no bairro do Rio Vermelho. Cerca de15 restaurantes de gastronomia italiana vão vender pratos preparados especialmente para o evento para um público estimado em mais de 15 mil pessoas. Neste ano, a celebração tem a participação do estilista mineiro Ronaldo Fraga, que criou a memória gráfica da festa, que simultaneamente ao Festival da Primavera e um dia antes da Maratona Salvador.

O evento, que mescla gastronomia e música, presta homenagem ao samba este ano, na pessoa do sambista baiano Nelson Rufino, compositor de sucessos como "Menino é um Rei", "Vazio", "Se Tivesse Dó" e "Verdade". O ator Jackson Costa vai circular pela festa e interagir com o público encarnando San Gennaro, com figurino criado por Fraga. Um palco será montado próximo à Biblioteca Juracy Magalhães para receber convidados, como o DJ Patrick Tor4, a agitadora cultural Rose Lima, o cantor Luciano Salvador Bahia e o grupo Oficina de Sons. A programação dedicada às crianças será comandada pelo grupo Corrupio.

O chef Celso Veira, idealizador da Festa de San Gennaro: inspiração veio de uma viagem à Itália - Foto: Festa de San Gennaro / Divulgação 

Segundo Celso Vieira, promotor do evento, uma viagem a Nápoles em 2018 o inspirou a trazer a festividade para Salvador – a maior festa dedicada ao santo também acontece há 51 anos no bairro da Mooca (Instagram / @festasangennaro), em São Paulo. “Para nós, a festa só tem sentido convidando os militantes da gastronomia italiana, nossos colegas e concorrentes. Esse espírito de congraçamento é o que sempre buscamos: fortalecer a gastronomia italiana na cidade”, comenta Vieira, que na viagem à Itália se encantou com um patrimônio napolitano, o macarrão gragnano. Conhecida como “cidade a massa”, Nápoles produz o melhor macarrão do mundo.

Sobre a escolha do Rio Vermelho para a realização da festa, Vieira afirma que "o bairro é a Vila Madalena de Salvador”. A Festa de San Gennaro baiana tem o formato de feirinha gastronômica: restaurantes convidados vão oferecer versões de pratos italianos com preços de R$ 15 a R$ 60. Entre os participantes estão o Alfredo’Ro, Bella Napoli, Buoni Amici, Cantina Volpi, Cremonini Ristorante, Di Liana, Isola Cucina Italiana, La Lupa, La Massima, Manga, Pasta em Casa, Pecorino e Pepo. A exceção são a Casa Chálabi, especializado em cozinha libanesa, e a Crema Gelato Italiano, uma das sorveterias mais famosas da cidade.

Festa terá 15 restaurantes italianos de Salvador; todo o visual foi criado pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga - Foto: Festa de San Gennaro / Divulgação

Neste ano, a celebração ganha o toque do estilista Ronaldo Fraga, que buscou referências nos desenhos de cordel e nas xilogravuras nordestinas para criar a identidade visual. “Nosso San Gennaro vem no verde e no vermelho, mas também no pink, no laranja, no amarelo e no azul turquesa. É uma grande festa oxigenante, uma celebração em que música e mesa farta estarão no mesmo lugar, nos remetendo a uma atmosfera que tem a cara de Salvador”, adianta o estilista, justificando a utilização de cores vibrantes, além do tradicional verde e vermelho de San Gennaro, para dar colocar o santo mais brasileiro, mais baiano.

Rio Vermelho

Festividade acontece a poucos metros da orla do Rio Vermelho - Festa de San Gennaro / Divulgação 

O bairro de Salvador é famoso por abrigar um atrativo turístico, a Casa do Rio Vermelho (Instagram / @casadoriovermelho), onde morou o casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, hoje transformada em um museu. Para quem visita a cidade e gosta de sol e mar, a praia do Buracão é o local mais indicado. Na orla, a casa de Iemanjá é ponto de partida todos os anos para festividades, no dia 2 de fevereiro. O bairro ainda é famoso por seus bares e restaurantes. Nesta matéria, indicamos quatro restaurantes imperdíveis para o turista que deseja experimentar a culinária soteropolitana além da cozinha italiana. “O Rio Vermelho é nosso espaço democrático, movimentado, menos inseguro e perigoso do que se imagina”, destaca Vieira, que mora no bairro há 13 anos.

Onde comer no Rio Vermelho:

Casa de Tereza

A moqueca da Casa de Tereza, um dos sucessos do cardápio da chef Tereza Paim - Foto: Reprodução / Instagram / @casadetereza_ 

 A Casa de Tereza (Instagram / @casadetereza_) é uma das referências do bairro. Elementos da cultura negra decoram o belo casarão histórico. No salão barroco, é possível verificar pinturas e elementos dispersos, um imã de interpretação do estilo europeu em terras baianas. A música é servida ao som de um piano clássico, em meio a móveis de diferentes estilos. A cozinha exala aromas e sabores das ruas e terreiros da Bahia. A chef Tereza Paim suaviza os temperos baianos, servindo o que há de mais tradicional, sem o exagero das pimentas e dendês: moquecas e ensopados, por exemplo, vêm à mesa com arroz, pirão e aipim, além de um complemento que o visitante pode escolher.

Um tour pelo casarão leva a espaços como Barroco, com seus fragmentos de anjos e teto de igreja no forro; Terreiro, que presta homenagem ao candomblé; Bel Borda, com obras da artista baiana; e Galeria Yemanjá, com obras de diversos artistas baianos. A visita termina em uma lojinha com produtos típicos. Tereza Paim também é famosa pela produção de farofas artesanais, torradas e crocantes, como as farofas Baianinha (camarão, amendoim e castanha), Duquesa (castanha e amendoim), Sertaneja (alho, cebola e licuri), Amarelinha (dendê), Verdinha (castanha e manteiga) e Branquinha (alho e cebola). O Tabuleiro da Chef ainda oferece temperos, cocadas e azeites.

A dica como entrada é um mix de abará e acarajé com vatapá e camarão seco (R$ 39) ou a Duplinha Baiana (R$ 23) – você pode escolher entre bolinho de feijoada de Tereza, bolinho de peixe, bolinho de mandioca com carne seca, camarão empanado, telhinha de beiju ou coxinha baiana. Na sequência, experimente a moqueca para a chef Ana Bueno, com banana da terra, peixe, polvo e camarão (R$ 189). Moquecas e risotos também podem ser executados na mesa com explicações sobre o prato pela chef, sob reserva. Há, ainda, um menu autoral com pratos individuais, como camarão, molho de mangaba e arroz de coco verde (R$ 143). A maioria das receitas não tem glúten ou lactose.

Dona Mariquita

 "Coisa de Preto", o caruru completo de Dona Mariquita - Foto: Reprodução / Instagram / @donamariquita 

No Dona Mariquita (Instagram / @donamariquita), as receitas da chef Leila Carreiro mesclam influências indígenas, africanas e sertanejas, resgatando o que ela chama de “cozinha patrimonial baiana”, ou seja, receitas ameaçadas extinção e feitas com um toque autoral. O segredo aqui é procurar pratos que você não encontraria em outros cardápios de restaurantes regionais como o preguari, um molusco encontrado na Baía de Todos os Santos, que vem acompanhado com coco verde, caju picadinho, tomate, cebola e folha de bananeira; arroz de Hauçá, arroz de coco com molho de camarão defumado ao dendê e carne de sertão desfiada e frita (R$ 42); ou a moqueca de índio, um prato extinto e antes servido pelas baianas do acarajé (R$ 25). Finalize com a sobremesa Bob Leal, sorvete de coco verde em compota de goiaba (R$ 15).

Pasta em Casa

A cheesecake de doce de leite é o carro-chefe das sobremesas no Pasta em Casa - Foto: Pasta em Casa / Divulgação

O restaurante Pasta em Casa (Instagram / @pastaemcasa) funciona há 12 anos no Rio Vermelho e tem foco na gastronomia italiana. O menu de ilha de massas muda diariamente, e o cliente pode acompanhar pelos stories no Instagram. São três opções de massas variadas e artesanais com uma proteína adicional, a preço fixo. Existe também cardápio à la carte, com carnes, risotos e opções veganas e vegetarianas. Aos finais de semana é servido o café da manhã do Pasta, uma tradição já para moradores e turistas que desejam fazer a primeira refeição do dia num ambiente agradável e próximo ao mar, numa rua tranquila com carinha de cidade do interior, contrastando com o agito da orla boêmia. Comandado pelo casal Valeska Chalabi Calazans e Celso Vieira, o Pasta em Casa inaugurou sua segunda unidade no bairro de Alphaville, mantendo a mesma qualidade.

Silva Cozinha

O polvo romanesco e a croqueta de carne de panela com banana da terra do Silva Cozinha - Foto: Reprodução / Instagram / @silva_cozinha

Acolhedor e simples, porém elegante, o Silva Cozinha (Instagram / @silva_cozinha) traz uma gastronomia carregada de brasilidade. É um universo de múltiplas referências, onde as conexões parecem residir nos diversos sabores derivados de mesclas, porém originais. A carta de vinhos é extensa e um dos destaques da casa. Paulista radicado em Salvador há 13 anos, o chef Ricardo Silva tenta fugir de tendências, rótulos, e traz no cardápio “aquilo o que gosta de comer”, com todo o frescor dos ingredientes, o esmero no preparo e na apresentação dos pratos. Silva não esconde suas preferências pela brasa. Não se pode, no entanto, definir a especialidade da casa, já que o cardápio está em constante renovação.

O chef recomenda para abrir o apetite o mexilhão fresco com leite de coco, pimenta dedo de moça e pimenta doce, basílico e focaccia (R$ 79) ou o polvo romanesco (R$ 85) como entrada. Depois emende o chorizo a cavalo, um bife de chorizo black angus com ovo de gema mole, aligot de batata doce com queijo gruyère e molho de mostarda dijon (R$ 119) como prato principal; e o pudim de farofa de castanha de caju caramelizada (R$ 22) como sobremesa. O chef considera que se diferencia dos demais restaurantes pela brasa, o bem receber e por fazer intervenções mínimas no preparo dos pratos. “Essa é uma cozinha que valoriza o ingrediente fresco, o sabor”, destaca. A média de preço varia de R$ 69 e R$ 119.

Silva faz questão de ressaltar que só trabalha com ingredientes nacionais, entre os baianos queijos, pimentas, peixes pescados de forma artesanal, como o robalo, farofas e castanha de caju. Eu particularmente destaco o robalo fresco levemente apimentado, com leche de tigre, tempero la-yu e azeite de coentro (R$ 49). Recentemente, Ricardo Silva abriu o restaurante de terça a sexta-feira para almoço executivo, com entrada, prato principal e sobremesa a R$ 79. Também não esqueça de olhar a carta de drinks – a novidade é o Americano, uma releitura do Muscle Mule (Aperol, Bourbon, cana do Silva amburana, limão e xarope de tamarindo a R$ 36).

Serviço:
O que: Festa de San Gennaro
Onde: Rio Vermelho (Salvador)
Quando: dia 21/9, das 10h às 22h
Onde se hospedar: Fera Palace, na rua Chile, 20, centro histórico. Informações e reservas, acesse Fera Palace Hotel e Instagram / @ferahoteis