Em 2022, o Café da Sophia, de Alto Jequitibá (MG), venceu o prêmio Coffee of The Year, uma das mais importantes competições anuais de café do Brasil. Um ano depois, em 2023, foi a vez do Sítio 3 Marias, de Alto Rio Novo (ES) tirar o primeiro lugar. No ano passado, uma pequena propriedade da serra capixaba, o Sítio Campo Azul, em Divino de São Lourenço (ES), ganhou como melhor café do país.

E tem sido assim nos últimos anos: os cafés especiais do tipo arábica produzidos na serra do Caparaó, na divisa de Minas Gerais e Espírito Santo, vêm colecionando prêmios no Brasil e no exterior. Além de cultivarem cafés especiais, os pequenos produtores do Caparaó lado de Minas também se juntaram a uma iniciativa do Sebrae Minas, criaram uma marca Caparaó Mineiro e, a partir de agora, oferecem experiências para os turistas que visitam a região.

Pés de café do tipo arábica produzem grãos de alta qualidade na região do Caparaó, na divisa de Minas Gerais com Espírito Santo - Foto: Dayane Xavier / Divulgação

O catálogo Experiências do Caparaó Mineiro – Entre Picos e Cafés foi lançado pelo governo de Minas e pelo Sebrae na feira WTM Latin America, encerrada no dia 16 de abril. A nova rota mescla ecoturismo, turismo de aventura e cafés especiais em uma das regiões mais altas e belas do Estado. “São 30 experiências turísticas, das quais 22 com o café. É uma verdadeira imersão no território, que já tinha um turismo muito voltado para a natureza”, explica Jean Costa, analista do Sebrae na região do Caparaó. 

Entre as experiências estão visitas a sítios para conhecer o processo de produção do café, oficinas culinárias com chefs locais, tardes com boa comida em mirantes para contemplar a natureza, workshop com baristas, visita a microcervejarias, percursos em trilhas interpretativas, vivências sensoriais em cafeterias, banhos em cachoeiras e a descoberta de lendas e tradições como a do Boi Ó. 

A experiência no Sítio Centenário leva para conhecer a lavoura e os processos de produção dos cafés especiais - Foto: Dayane Xavier / Divulgação

Dayane Silva Faria Xavier está entre os pequenos produtores que aderiu à rota. Ela produz café especial tipo arábica em quatro alqueires de terra no Sítio Centenário, perpetuando uma tradição de família. “Desde 2019, quando me formei em agente de turismo rural, comecei o trabalho de receber turistas e falar dos cafés especiais, bem antes da rota. O que mudou agora é que o Sebrae capacitou os pequenos produtores e há uma maior união em busca do mesmo propósito”, destaca. 

Dayane recebe grupos de, no máximo, dez ou 12 pessoas, sob agendamento. “Oferecemos almoço feito no fogão a lenha, uma comida afetiva, e um tour pela propriedade, passando pela lavoura e explicando a diferença dos cafés. Os visitantes também participam da seleção de grãos, conhecem os modos de preparo e finalizamos com uma degustação. Preparamos a visitação de acordo com a demanda dos turistas”, acrescenta.

O Café Centenário representa a essência mineira, com sabor marcante, suave e alta qualidade - Foto: Dayane Xavier / Divulgação

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Brasil é o maior produtor mundial de café. O arábica representa cerca de 70% da produção nacional. É considerado um café marcante, suave, de sabor adocicado, com menos cafeína do que o normal. É cultivado em altitudes elevadas e em climas amenos. A safra é anual, e a colheita vai de abril até setembro. O café Centenário, por exemplo, tem alta pontuação, com notas entre 80 e 100. 

Embora não ofereça a experiência da colheita ao visitante, Dayane explica o processo: “A gente faz uma colheita seletiva, não colhe tudo de uma vez. Passamos várias vezes pela lavoura em busca do fruto maduro. Para manter a qualidade, é importante saber a hora certa de colher o fruto”, conta. Todo o processo de produção, do plantio ao empacotamento, é realizado no sítio. A produção – em torno de 60 a 70 sacas por safra – é vendida para quem vem visitar a propriedade ou em eventos.

O pico da Bandeira é o passeio mais procurado no Parque Nacional do Caparaó - Foto: Reprodução / Instagram / @guia_pico_da_bandeira

O Caparaó Mineiro reúne empreendimentos localizados em quatro cidades – Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó e Espera Feliz. O visitante pode agendar as experiências diretamente com os empreendedores ou em quatro agências de receptivos – Pico da Bandeira, André do Jeep, Geraes Aventure ou Muriqui Adventure. O custo varia de R$ 80 a R$ 300 por pessoa, dependendo dos serviços agregados, como guia de turismo e transporte em 4x4. 

Kelly Abraão, da Pico da Bandeira, agregou ao passeio famoso da região, o nascer e pôr do sol no pico da Bandeira, as experiências na rota. “Trabalhamos com roteiro personalizado para cada perfil de público, de montanhistas às famílias”, afirma. Mas o carro-chefe não é o café, mas o pico da Bandeira, principal atrativo do Parque Nacional do Caparaó, uma unidade de conservação criada em 1961 e administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O guia Enos Cortez Emerick no topo do pico da Bandeira, o terceiro mais alto do país - Foto: Enos Cortez Emerick / Divulgação

O guia Enos Cortez Emerick, que faz passeios ao pico há quatro anos, combina as visitas às principais cachoeiras – Vale Encantado, Bonita e Vale Verde, todas acima de 1.990 metros de altitude – com uma experiência cafeeira na Fazenda Ninho da Águia, já premiada como o melhor café do país. No entanto, quem vai ao Caparaó não resiste e inclui uma subida ao pico da Bandeira, a 2.982 metros de altitude, o terceiro mais alto do país.

De acordo com Emerick, o pico pode ser alcançado de duas maneiras: acampando no topo para contemplar o nascer do sol no dia seguinte ou em um bate e volta diurno. A maioria dos turistas entra por Alto Caparaó – o percurso de 6,9 km pelo lado mineiro é mais longo, porém menos íngreme, exigindo menos esforço físico e permitindo uma parada estratégica no acampamento Terreirão. O guia destaca ainda que uma das premissas para conhecer o local é contratar um guia devido à segurança.

Turista flutua na piscina natural da cachoeira Vale Encantado - Foto: Enos Cortez Emerick / Divulgação

Emerick lembra ainda que, além do Bandeira, outros picos desafiam os visitantes: do Calçado, a 2.849 metros, e do Cristal, a 2.769 metros. A entrada no parque é gratuita, mas os passeios precisam ser agendados com antecedência no site do IMCBio. De acordo com a administração do parque, a melhor época para subir até o pico da Bandeira é de abril a outubro, quando chove menos.

“A alta temporada no parque é nos meses de junho e julho, porque é zero chuva e muito frio. As temperaturas chegam a -5ºC. A mínima foi registrada em 2017, -14ºC”, conta o guia. No inverno, além das baixas temperaturas, o vento é um desafio extra para quem aguarda o nascer do sol. De novembro a março, as diversas cachoeiras – todas geladas em qualquer época do ano – se tornam mais convidativas, mas as áreas destinadas aos piqueniques e com infraestrutura para churrasco são bem mais concorridas.