Coronavírus: segundo semestre acumulará eventos adiados

Bom alento para economia de muitas cidades, as festas juninas são mais uma vítima da pandemia de coronavírus. Muitos municípios que realizam os tradicionais festejos de São João, principalmente no Nordeste do país, anunciaram cancelamento ou adiamento da festa nas últimas semanas. Mas não é só o São João, eventos que acumulam multidões estão passando pela avaliação por parte dos organizadores. Eles levam em consideração para a mudança as recomendações do Ministério da Saúde e dos governos estaduais em relação à restrição de circulação de pessoas e ao distanciamento social para impedir a propagação da Covid-19. Em Minas Gerais, boa parte dos grandes eventos programados para o primeiro semestre foram cancelados, como o caso da Vesperata, ou adiados, como a ExpoZebu.

Com três suspeitos de contaminação por Covid-19, Campina Grande anunciou o adiamento da festa de São João, que leva mais de 2 milhões de pessoas à cidade paraibana em junho para 9 de outubro a 8 novembro. Em 37 anos, essa é a primeira vez que a festa é adiada. Sua concorrente direta Caruaru, ainda não alterou a data do evento, apesar das recomendações do Ministério da Saúde. O município já tem uma morte e três casos confirmados de coronavírus. 

Outra cidade do Agreste pernambucano que crescia em volume de turistas nos últimos três anos, Petrolina, adiou os festejos de São João por tempo indeterminado. Em Petrolina, o prefeito Miguel Coelho (PSB) anunciou que os recursos previstos para o São João e outros eventos seriam realocados para a saúde pública, no combate à pandemia.

Na Paraíba, ainda, outras seis cidades - Bananeiras, Belém, Borborema, Caiçara, Serraria e Solânea -, que integram o Circuito Junino do Brejo 2020, anunciaram ontem o cancelamento do São João, elevando para 29 o número de municípios no Estado que suspenderam o evento. 

O mesmo ocorre nas cidades da Bahia - o governo promove todos os anos o projeto "Maior São João do Mundo" pelo interior do Estado. Até ontem 13 cidades baianas, entre elas Amargosa, Cruz da Almas, Ibicuí, Irecê, Piritiba, Seabra e Vitória da Conquista, não teriam mais festas. 

Em 2018, o governo baiano calculou que os eventos juninos movimentaram em torno de R$ 1 bilhão para os municípios. Outro fator que compromete a realização dos eventos é o atraso nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) pelo governo federal. Até agora, a Bahia registrou 515 casos de coronavírus e 18 mortes, atingindo 59 municípios.

Minas Gerais
Em Minas Gerais, três das maiores festas do interior - ExpoZebu, em Uberaba, Fenamilho, em Patos de Minas, e FestMalhas, em Jacutinga, já emitiram comunicado. Em Uberaba, a ExpoZebu - marcada para 25 de abril a 3 de maio - terá a 86ª edição adiada. A Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) ainda avalia encontrar nova data. 

Em Patos de Minas, o Sindicato dos Produtores Rurais afirmou, em nota, que está monitorando a situação até a realização da 62ª Festa Nacional do Milho (Fenamilho), agendada para 5 e 14 de junho. O sindicato afirma que acompanha "de perto a situação e, havendo qualquer determinação para que a Fenamilho seja adiada, isto será prontamente atendido". Até agora há 128 casos suspeitos na cidade e nenhuma morte.

Em Jacutinga, a Feira Nacional de Malhas (FestMalhas), que esperava um recorde de 250 mil pessoas, foi adiada para 5 a 21 de junho. Das festas mineiras tradicionais, o Rodeio Show, de Araxá, agora em abril, foi transferido para 6 a 23 de agosto, e a Divino Epô, em Divinópolis, que completaria 50 anos em 2020, foi adiada de 22 maio para uma nova data ainda a ser definida.

Vesperata
A Vesperata de Diamantina, um dos eventos mais tradicionais de Minas, já estava com a programação fechada desde o ano passado. A estreia seria no próximo dia 18. As duas edições de abril (dias 18 e 25) e de maio (dias 16 e 23) foram canceladas, segundo o prefeito Juscelino Brasiliano Roque (PMDB). A Vesperata tem outras 12 apresentações até outubro. "Diamantina está parada até hoje por conta das chuvas, não deu tempo nem de consertar as ruas", afirma. Um gabinete de crise, formando por representantes de órgãos municipais e de instituições da sociedade civil, avalia toda semana, segundo o prefeito, a evolução da pandemia para determinar novas medidas.

Na Vesperata, músicos posicionados nas sacadas dos casarões históricos tocam músicas, enquanto em um tablado o maestro rege a orquestra. O público assiste o espetáculo instalado em mesas na rua da Quitanda. O evento mantém o mesmo formato há mais de cem anos. Um pacote para a Vesperata, incluindo um final de semana com hospedagem, ingresso para o evento, um passeio e concerto de órgão, custa a partir de R$ 520 por pessoa, dependendo da categoria de hotel escolhido. 
Responsável pela venda oficial dos pacotes, a agência Minhas Gerais está procedendo a remarcação ou o reembolso para os turistas que compraram pacotes e pretendem adiar ou cancelar a viagem. "Trinta dias antes da apresentação aguardamos comunicado oficial da prefeitura para avisar nossos clientes", afirma Ana Paula Ventura Falci, diretora da agência. "Por incrível que pareça, tem gente ainda querendo pacote para maio, mas não vendemos mais. Sugerimos jogar para mais adiante", conta Ana Paula. 

Outros eventos
Dos eventos de grande porte no primeiro semestre e que fazem parte do calendário oficial do Insituto Brasileiro de Turismo (Embratur), a exceção da Semana Santa, foram cancelados a 31ª Festa das Tradições, de São Francisco do Sul (SC), marcada para ocorrer em abril, e a Festa da Colônia, em Nova Petrópolis, que aconteceria de 21 de abril a 10 de maio.  A organização da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), prevista para ocorrer de 29 de julho a 2 de agosto, comunicou adiamento para novembro, mas não divulgou nova data.