Desde quando reabriu as portas, em julho passado, a equipe do Portobello Safári & Resort, no litoral fluminense, detectou um movimento diferente dos hóspedes. Enquanto as crianças se divertiam na área de lazer, os pais buscavam um espaço no lobby para abrir seu laptop e poder trabalhar. Diante da demanda crescente, o resort começou a oferecer descontos de 20% de domingo a quinta-feira para os hóspedes que quisessem mesclar trabalho e lazer com infraestrutura e conforto.

Antes desse movimento, um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) detectava que 22,7% das posições de trabalho no Brasil conseguiriam se adaptar ao home office, ou seja, 20, 8 milhões de pessoas, a maioria das classes A e B. Outra pesquisa, feita pelo Talenses Group, empresa especializada em recrutamento, em parceira com a Fundação Dom Cabral, apontava que cerca de 70,3% dos trabalhadores já executavam trabalho de forma remota.

Produto

De olho nesses dados, o setor hoteleiro passou a enxergar uma oportunidade de negócio atrelar o trabalho remoto ao bem-estar e lazer. O “work from anywhere (na tradução”, “trabalhe de qualquer lugar”) é, segundo Flávio Monteiro, diretor de operações do Grupo Aviva, que administra os resorts da Costa do Sauípe Resort e do Rio Quente, uma tendência que veio ficar. “Quando percebemos que o hóspede trazia algo mais na bagagem, o notebook, e pediam uma sala com estrutura, transformamos essa tendência em produto”, afirma. 

Nascia “Meu Escritório É na Praia”, um espaço com internet de alta velocidade e equipamentos de escritório, com a opção de o hóspede escolher o cenário. “Se ele quiser, pode ser um escritório pé na areia, de frente para a praia, protegido por guarda-sol, e com coisas básicas de trabalho”, explica Monteiro. Não faz parte do pacote a utilização de equipamentos para videoconferência ou outra tecnologia que ele, porventura, precise utilizar. Dependendo da permanência, o desconto pode ultrapassar os 20% oferecidos.

Em casa

A premissa para levar o home office para qualquer lugar é um espaço com computador e boa internet. Como a estrutura já existia, no Transamérica Ilha de Comandatuba (BA) o home office é extensão do serviço long stay (longa estadia). 

O resort baiano resolveu fornecer o serviço de uma casa temporária e agregou à estrutura dos apartamentos e bangalôs máquina de café, gratuidade de 30 peças de roupas por semana na lavanderia, ameneties, como cesta de frutas e pantufas, mais itens no frigobar, massagem e 30 minutos de bike uma vez por semana e café da manhã no quarto. O sucesso do produto fez o Sauípe lançar paralelamente o schooling, uma estrutura para as crianças poderem estudar na praia.

No Portobello Resort & Safári, a proximidade de um grande centro urbano, o Rio de Janeiro, reflete bem a aceitação do produto.“Só aumentamos a capacidade de internet nas áreas comuns e apartamentos e adaptamos a estrutura às necessidades dos hóspedes que precisam de um local de trabalho mais reservado”, afirma Luciane Nascimento, supervisora comercial e marketing do resort. “Muitas crianças estão também dando um tempo nas brincadeiras durante a semana para cumprir seus compromissos escolares online”, acrescenta.

“Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que 30% das empresas brasileiras manterão o trabalho remoto pós-pandemia” 

Hotéis tradicionais

A adesão a esses serviços nasce de uma questão de sobrevivência da hotelaria, da necessidade de diversificar produtos e conquistar novos públicos. Até hotéis urbanos aderiram à novidade, como é o caso do Santa Tereza Hotel, no Rio de Janeiro, e os hotéis da rede Accor, que criou o Room Office by Wojo em 210 unidades espalhadas pelo Brasil. 

A ideia foi tentadora para o operador Rafael Romeiro, da FVO, que, além de vender o produto para os brasileiros que viajam a Cancún, no México, também faz uso do produto. Na praia de Pipa (RN), com o filho Gael e a esposa Bia Perotti, ele faz as reuniões com fornecedores e parceiros via online, no alto de uma falésia, com uma vista panorâmica Baía dos Golfinhos. 

Romeiro acredita que a maioria das empresas não volta 100% pós-pandemia. “Meu home office funcionou bem, até em Pipa, onde a internet não é das mais velozes”, afirmou. Entre os hotéis que a FVO vende está o Palmaïa, que recentemente adaptou os quartos de suas vilas em escritórios, oferecendo uma série de benefícios adicionais para o hóspede que adere ao produto.

No mundo

 A tendência do “work from anywhere” também ganhou o mundo e já surgiu como produto em oito destinos caribenhos, entre eles Anguilla (Work from Anguila), Barbados (Barbados Welcome Stamp) e Curaçao (Home in Curaçao). Dominica, pequena ilha da região, criou o “work in nature” (“trabalhe na natureza”) e convida os visitantes a permanecerem no destino por 18 meses. 

No caso de Anguila, o convite é direcionado aos nômades digitais, jovens que utilizam da tecnologia para exercerem a profissão em qualquer lugar. Como o nomadismo digital também virou tendência, muitos países têm lançando vistos específicos para trabalhadores digitais. É o caso de Alemanha, Croácia, Estônia, Grécia, Islândia, Noruega, Portugal e República Tcheca.

Serviço

Costa do Sauípe: Desconto de 20% na diária para uma estadia mínima de dez dias. costadosauipe.com.br
Portobello Safári & Resort: 20% de desconto na hospedagem de domingo a quinta, com mínimo de duas noites, em maio e junho. portobelloresort.com.br
Transamérica Comandatuba: São duas ofertas: você contrata 15 diárias e paga 12 ou reserva 30 diárias e paga 20, além de 15% de desconto nas atividades. transamerica.com.br/comandatuba