Reflexão

Quais são as perspectivas do turismo para 2021?

Especialistas e autoridades em turismo projetam cenários para o setor em 2021, ainda no contexto da pandemia

Por Paulo Campos
Publicado em 05 de janeiro de 2021 | 12:52
 
 
 
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Se tem um ponto em que a maioria dos especialistas de turismo concorda é que 2020 ainda não acabou. A virada do ano é mera formalidade cronológica, não significa nada na prática. Muitos querem que o ano termine, mas, diferentemente do que pregamos em viradas, encerrar 2020 não quer dizer necessariamente que a pandemia acabou. Ao contrário, vivemos uma segunda onda da Covid-19 (ou não saímos da primeira), e a vacinação no Brasil é incerta. A única certeza é que 2020 só vai acabar quando toda a população estiver imunizada.

Portanto, em vez de abrir o calendário com uma relação de destinos em alta para você, leitor, visitar nos próximos meses, como fazemos tradicionalmente em janeiro, substituímos essa lista por uma pergunta: “Quais são as perspectivas do turismo para 2021?”. Convidamos representantes de diferentes segmentos do turismo para jogar uma luz sobre o novo ano. A maioria das respostas revela bastante otimismo. A recuperação do setor mais impactado pela pandemia do novo coronavírus – o das viagens – será lento, gradual e muito demorada.

Todos concordam em três aspectos pelo menos: a vacinação será um fator determinante para a volta das atividades; é preciso paciência para o segmento retomar os números de 2019; e o viajante terá de descobrir primeiro os destinos em seu próprio país antes de pensar em viagens internacionais. A maior crise da história do turismo nas palavras de Eduardo Sanovicz, Manoel Linhares, Rafael Romeiro, Roberto Nedelciu, Simon Mayle e Toni Sando:

Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear)

"Para a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), é importante que 2021 seja o ano de iniciativas e esforços conjuntos de toda a cadeia do setor, em parceria com o poder público, para que a aviação tenha condições de se recuperar da maior crise de sua história. Entre alguns dos temas prioritários para a Abear para o ano que vem estão: o alto custo do combustível dos aviões (QAV), que no Brasil é um dos mais caros do mundo, a redução da judicialização no setor, que onera companhias aéreas, o Judiciário e a sociedade, além do fortalecimento da aviação regional. Estas são algumas medidas que poderão fazer com que o transporte aéreo consolide sua contribuição para o desenvolvimento econômico e social do país."

Roberto Nedelciu, presidente da Associação Brasileira das Operadoras (Braztoa)

"As perspectivas são boas, principalmente com a possível chegada de uma vacina ainda no começo do ano. Existem muitas pessoas que não veem a hora de viajar, de encontrar pessoas, descobrir culturas, respirar outros ares. O consumidor tem canalizado seu desejo de viajar no planejamento desse momento, tudo feito com calma e com a esperança de que acontecimentos importantes, como a vacina e a abertura de fronteiras, tornem o ambiente mais seguro. 2021 tem tudo para ser um ano de crescimento. Talvez não nos patamares de 2019, mas um ano de recuperação constante e sustentável. O turismo é um setor sensível aos acontecimentos e à evolução da pandemia. Enfrentamos essa crise sem precedentes com muita união, trabalho e criatividade na busca por alternativas que trouxessem fôlego para que as empresas se mantivessem saudáveis e aptas a focar seus esforços no crescimento dos negócios e nesse tão esperado momento de retomada em 2021."

Simon Mayle, diretor da feira ILTM Latin America

"Acho que ainda é cedo para dizer quais são as expectativas para 2021, mas a esperança é, com certeza, que no verão europeu as viagens comecem a voltar ao normal. E, quando as viagens voltarem, esperamos que cresçam mais rápido do que outros setores de gastos discricionários. Esperamos, sim, as tendências de quem deseja desfrutar de grandes espaços ao ar livre e locais de natureza selvagem, como a Patagônia, Alasca, Escócia e Suíça. Também esperamos que os brasileiros continuem as tendências que começaram durante a pandemia de aproveitar o México, as Maldivas e, claro, o próprio Brasil, desfrutando de destinos como o Ceará, os Lençóis Maranhenses e a Amazônia. Bem-estar físico, mental e espiritual continuará sendo importante, e propriedades como a Rituali l, no Estado do Rio de Janeiro, serão beneficiadas com essa tendência."

Manoel Cardoso Linhares, presidente nacional da Associação Brasileira da Industria de Hotéis (Abih Nacional)

"A expectativa é que 2021 seja bem melhor do que foi este ano para a hotelaria, mas dificilmente alcançaremos os números de 2019. A vacinação contra a Covid-19 será determinante para a volta completa das atividades dos meios de hospedagem, e, de acordo com estudo elaborado pelo Bank of America, o processo de imunização deve se estender até o segundo trimestre de 2021. Até o momento, o que temos percebido é um crescimento na ocupação dos hotéis em pequenos destinos e cidades próximas dos grandes centros, uma tendência que deve se manter até que o processo de vacinação avance, quando o setor de eventos e outros segmentos do turismo e, consequentemente, a hotelaria devem ser retomados com mais intensidade."

Toni Sando de Oliveira, presidente da União Nacional de Convention & Visitors Bureaux e Entidades de Destinos (Unedestinos)

"O enfrentamento da crise causada pela Covid-19 conta com diversas camadas e uma tempestividade única. Em 2020, os destinos passaram por fechamento total de estabelecimentos, no qual diversas ações e medidas foram necessárias para manter empresas e empregos. Entretanto, 2021 se inicia com uma visão mais otimista, mesmo que ainda muito delicada. A flexibilização está mais ampla, protocolos bem-definidos, demanda reprimida forte, novos hábitos de trabalho e consumo, volta de fluxo de caixa e, no turismo, uma oportunidade única de promover os destinos nacionais, seguindo todas as medidas necessárias de segurança. E, claro, com uma série de vacinas em vias de aprovação e aplicação na população. É preciso ter paciência, mas, uma vez retomada a economia, com a volta dos eventos e demais segmentos do turismo, 2021 se mostra muito promissor e cheio de trabalho, principalmente no segundo semestre."

Rafael Romeiro, da FVO Operadora

"2020 foi o ano em que o brasileiro descobriu o Brasil. Precisamos de uma pandemia e fronteiras fechadas para dar valor às nossas maravilhas naturais e culturais. Acredito que essa tendência veio para ficar, mas aposto também em um boom de viagens para a Europa assim que as fronteiras reabrirem, provavelmente a tempo de curtirmos o verão do Hemisfério Norte por lá. Destinos remotos, reconexão com a natureza e o luxo despretensioso também são tendências fortes. Ganham destaque os lodges all-inclusive do Atacama, da Patagônia e do Peru. A privatização de hotéis pequenos ou vilas para famílias ou grupos de amigos também tende a se consolidar cada vez mais."

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