O que Vila Madalena, Casa Verde e Pinheiros, em São Paulo, têm em comum? A resposta é um toque de brasilidade. Os bairros estão em zonas distintas da capital paulista, mas oferecem propostas gastrônomicas e de entretenimento que atendem vários bolsos e públicos e carregam doses de inventividade nos drinques, nos petiscos e nos ambientes. 

"A ideia é uma comida de boteco brasileira, com uma gama de opções, nada muito sofisticado, mas simples", explica um dos sócios-proprietários do grupo Turn The Table, Humberto Munhoz, que, junto com Elisson Dias e Bruno Kataiama, administra cinco casas em São Paulo — três unidades do Pasquim Prosa e Bar, a coquetelaria Vero e o Ventana Bar,

A onda da comida de boteco — o de lá é com "o" mesmo —, os espaços oferecem um pouco de tudo — pastel, coxinha, dadinhos de tapioca, linguiça, espetinhos, chicken fingers, isca de peixe, e, claro, os famigerados bolinhos de vaca atolada e de feijoada, esse último popularizado pela chef Kátia Barbosa no restaurante Aconchego Carioca, no Rio de Janeiro.

Tudo acompanhado por uma cerveja gelada ou uma caipirinha, que em dose dupla foi rebatizada de "caipirão". Em São Paulo, diga-se de passagem, mais do que cerveja, os drinks viraram um hábito. Frutas, como tangerina, caju, manga, maracujá, kiwi, uva e morango, se misturam a doses generosas de gin, rum e vodca, numa explosão de sabores.

Para acompanhar a descontração e a boa prosa, todos os dias também têm música — geralmente MPB ou samba, para desmentir a máxima de que "São Paulo é o "túmulo do samba". Pelo contrário, o que se vê pelos bares paulistanos nesta época já mais fria é um burburinho, uma animação que desconcertaria até os bares descolados da Lapa carioca.

Casa Verde

Nosso roteirinho turístico por São Paulo começa no Casa Verde, bairro que nasceu de um sítio às margens do rio Tietê. Espremido entre Freguesia do Ó e Santana, o lugar é berço da escola Unidos da Casa Verde. Não é à toa que o violão, o cavaquinho e o pandeiro ecoam pelos espaços abertos do Pasquim Bar e Prosa, choperia que lembra o mineiro Albano's.

O bar nasceu em plena pandemia (pasmem!) e, em menos de dez meses, é referência na noite. Veio, claro, na esteira do sucesso do Pasquim de Vila Madalena. A identidade visual é a mesma, com o mural ocupando a parede e cardápios homenageando o irreverente e extinto jornal, criado por um grupo de boêmios cariocas que desafiou a ditadura militar.

Na casa, além dos petiscos, os destaques são as variações de gin, preparados com os rótulos Tanqueray London Dry e Tanqueray Nº Ten, e com nomes que formam corruptelas com artistas da MPB — PixinGINha, GINinicus de Moraes, João GINberto e GonzaGINha — e Moscow Mule, feito à base de vodka Ketel On e uma autoral "espuma de bigode".

Menos ousado, preferi arriscar um Doooooois ou Rum? preparado com The Kraken Spiced Rum, xarope de capim santo, suco de limão galego, maracujá e abacaxi (R$ 39,39) e experimentei o picadinho da casa, um filé mignon picado com arroz, couve, ovo pouchê, feijão preto, farofa de banana da terra e pastéis de queijo e carne (R$ 49,90).

O desafio é conseguir sair do Pasquim sem degustar a estrela da casa, o bolinho de feijoada (R$ 34,90), feito com massa de feijoada com farinha de mandioca, recheado com couve e paio, que é praticamente uma refeição. Com bom mineiro, o bolinho de vaca atolada (R$ 34,90) foi a escolha acertada, uma massa de mandioca cozida com recheio de costela.

Vila Madalena

Na mesma linha e com pequenas variações no cardápio, o Pasquim, no bairro de Vila Madalena, tem um "quê" a mais. Você está em um dos bairros mais turísticos e descolados de São Paulo, famoso por conta de uma galeria de grafite a céu aberto conhecida como Beco do Batman. ótima oportunidade para dar um pulo até lá e tirar a clássica selfie.

Pelo Vila Madalena, o roteiro incluiria o Armazém da Cidade, a Galeria Choque Cultural, o Instituto Tomie Ohtake e as inúmeras cafeterias gourmets. Localizado em uma esquina da rua Aspicuelta, o principal eixo boêmio do bairro, a dica no Pasquim da zona Sul é a feijoada (R$ 89,90 para duas pessoas) aos sábados ou rodízio de petiscos às segundas-feiras (R$ 34,90 por pessoa).

Uma dica preciosa é combinar o Pasquim com um dos atrativos turísticos do centro, o Mercado Municipal, conhecido como "Mercadão", tradicional área gourmet da cidade. O bar inaugurou um quiosque com versão resumida do cardápio. Para o turista, o prédio de vitrais de estilo gótico e colunas em estilo grego, jônico e dórico, já é uma atração em si.

Pinheiros

Em um ambiente elegante, com folhagens revestindo as paredes, cadeiras acolchoadas e teto de isopor batido, o moderninho A Ventana Bar, no Pinheiros, é a melhor aposta para degustar uma comida mais requintada — como palmito com cuscuz (R$ 41), ceviche à brasileira (R$ 38) ou paçoca na panela (R$ 39) ­— ou ter experiência sensorial com o café.

O café é o grande protagonista do bar. Inspirado nos "hybrid coffee’s", café híbrido na tradução literal, o espaço mistura o conceito de bar, restaurante e café. Na parede, uma inscrição em neon já alerta os desavisados: "O café quando é bom se conhece pelo grão". Essa é a primeira “experimental store” da Nescafé Origens do Brasil, em parceria inédita.

A Ventana propõe uma viagem sensorial por aromas e cheiros. Cafés do Brasil, Colômbia e Etiópia ganham um espaço no cardápio, um deles vindo direto da região mineira do Alto Paranaíba. Você pode inclusive escolher os modos de preparo — filtro, Hario V60, Aeropress, Cone Coffee e French Press. Há, ainda, fusões com pratos e no menu de drinks autorais. Uma dica é experimentar o sugestivo Estrada Real, uma mistura de Johnny Walker Black Label, infusão de água com mel, limão siciliano, gengibre, grãos e, claro, café.

Vero

Nosso roteiro termina do outro lado da praça de Omaguás, em Pinheiros. O nome e a decoração da casa denunciam a inspiração italiana. A estátua da Julieta moderna, tatuada e colorida, vasos de samambaias que despencam do teto, fonte de água, paredes "instagramáveis" e ambiente menos iluminado revelam que o Vero nasceu diferente.

Os drinks dominam a carta, tanto que a casa tem coqueteleria no nome. O som de DJ e a presença do público jovem dão aquele tom de badalação e paquera. O cardápio é nitidamente italiano, com pizzas em três sabores (mussarela, marguerita e calabresa, a R$ 39), crostini Vero! (R$ 29), nhoque dourado (R$ 34) e crocantes bruschettas (R$ 29).

As dicas de coquetéis são variadas. O drink favorito da clientela é o Joma & Tonic (R$ 36), com gin, xarope de banana, hortelã, água tônica e espuma de gengibre, mas há ainda as famosas Espumas de Julieta (R$32), com vodka, suco de limão, xarope de gengibre e espumas em seis opções de sabores, entre eles, o clássico gengibre e também a banana.

Em Minas Gerais

Desde a pandemia, quando percebeu novas oportunidades de negócios, o grupo Turn the Table vem em crescente expansão. Fora de São Paulo, há duas unidades do bar A Saideira no aeroporto do Galeão. Humberto Munhoz não descarta, no entanto, investir no mercado mineiro a partir de 2023. O empresário acredita que há potencial para uma casa no estilo do Pasquim na capital mineira, onde o público é receptivo aos drinques e à comida de boteco.

Serviço

A Ventana Bar — Pinheiros: Praça dos Omaguás, 110. Funciona das 8h às 23h, (11) 97482-3451 ou no Instagram / @aventanabar

A Ventana Bar — Mercado Municipal: à rua Cantareira, 306, centro. Funciona de segunda a sábado, das 8h às 18h; e domingo, das 8h às 16h, (11) 99919-7767 ou no Instagram / @aventanabar

Pasquim Bar & Prosa — Vila Madalena: Rua Aspicuelta, 524. Funciona das 12h até o último cliente, (11) 99919-7767 ou no Instagram / @opasquimbar

Pasquim Bar & Prosa — Zona Norte: Avenida Braz Leme, 89, Casa Verde. Funciona de segunda a quinta-feira, das 17h até o último cliente; e de sexta-feira a domingo, das 12h até o último cliente, (11) 99153-1395 no Instagram / @opasquimbar

Pasquim Bar & Prosa — Mercado Municipal: Rua Cantareira, 306, centro. Funciona de segunda-feira a sábado, das 8h às 18h; e domingo, das 8h às 16h, (11) 99919-7767 ou no Instagram / @opasquimbar

Vero! Coquetelaria e Cozinha: Praça dos Omaguás, 62, Pinheiros. Funciona de quinta-feira e sexta-feira, das 17h até o último cliente; e sábado e domingo, das 12h até o último cliente, (11) 97482-3451ou no Instagram / @verocoquetelaria