Mais uma confecção foi flagrada utilizando trabalhadores em condições análogas a de escravos na capital de São Paulo. Dessa vez foi a Brooksfield Donna, do grupo Via Veneto, mas a situação não é nova. Zara, Pernambucanas, Renner, Le Lis Blanc, Marisa e M.Officer são algumas marcas autuadas pelo mesmo motivo. No último caso, foram cinco bolivianos, entre eles uma adolescente de 14 anos, resgatados de trabalho análogo ao escravo pela equipe da Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo. Os trabalhadores foram encontrados no mês de maio em uma oficina onde costuravam por 13 horas diárias, dormiam e comiam no próprio local, não tinham registro em carteira ou direitos trabalhistas garantidos, como férias.
Em nota, o grupo Via Veneto informou que “não terceiriza a prestação de serviços e seus fornecedores são empresas certificadas. Esclarece, ainda, que não mantém e nunca manteve relações com trabalhadores eventualmente enquadrados em situação análoga a de escravos pela fiscalização do trabalho”.
O Ministério do Trabalho, porém, responsabilizou o grupo. “A empresa Via Veneto que contratava os serviços da oficina de costura. Lá, os trabalhadores confeccionavam peças de vestuário para a marca Brooksfield Donna, como os auditores puderam comprovar nas etiquetas das peças encontradas no local. A Via Veneto, segundo a fiscalização, controlava todo o processo de produção e confecção, definindo a quantidade de peças a serem produzidas, prazos e modelos das roupas”, afirma a nota do Ministério.
No estado. Em Minas Gerais os setores da mineração, construção e agricultura e pecuária são os maiores responsáveis por esses resgates. “No ano passado, o maior número de trabalhadores resgatados de condições de trabalho análogas a da escravidão foram a extração de minério em primeiro, a construção em segundo e em terceiro lugar agricultura e pecuária”, afirma o representante do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Minas da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, procurador Carlos Eduardo Almeida de Andrade.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Belo Horizonte e Região (Stic-BH/Marreta) denunciou no início do mês um alojamento com seis operários, entre eles três haitianos, em situação degradante de trabalho. “A empresa prometeu salários de mais de R$ 3.000 e quando chegamos até a alimentação estava precária. Eles comiam abacate porque não tinha carne nem salada nas refeições que recebiam”, conta o vice-presidente do Stic-BH/Marreta, Vilson Valdez. Na semana passada, uma ação do sindicato em conjunto com o Ministério do Trabalho e o MPT retirou os operários do alojamento. “Acreditamos que a rescisão deles será paga até quarta-feira (amanhã)”, diz Vilson.
Números
R$ 6. Valor pago aos bolivianos por peça produzida.
R$ 17.668. valor da indenização que a Via Veneto deverá pagar.
R$ 4.000. Média do valor que cada trabalhador deverá receber.
5 imigrantes bolivianos eram mantidos como escravos.