MARIANA. O Corpo de Bombeiros confirmou nesta quinta um dano de 3 m na parede da barragem de Germano, única dos três reservatórios da mineradora Samarco em Mariana, na região Central, que não se rompeu na tragédia que deixou ao menos nove mortos e afetou 30 cidades de Minas e do Espírito Santo. Funcionários ouvidos pela reportagem, porém, dizem que as trincas são ainda maiores. A empresa, no entanto, continua garantindo a estabilidade do local e informa que não há motivos para alarde.
Segundo o capitão dos bombeiros Tiago Miranda, quando a barragem do Fundão se rompeu, puxou terra da base da Germano, causando a erosão. “Mas em uma barragem extensa, de 600 m a 700 m, não é nada grande”, ressaltou. O militar explicou que o reforço está sendo feito na parte da estrutura que tem contato com a barragem que se rompeu. As imagens da erosão foram feitas com um drone e em sobrevoos.
A reportagem de O TEMPO mostrou nesta quinta com exclusividade que a Samarco já trabalhava em um plano para conter a erosão e para evitar que rios e comunidades sejam atingidos caso a barragem de Germano se rompa, em uma espécie de desvio. Desde então, a mineradora vem garantindo que não há risco de queda da maior do complexo.
“Estão circulando alguns boatos, especialmente nas redes sociais, a respeito da instabilidade da barragem de Germano. A Samarco reitera que todos seus mecanismos de controle não apontam qualquer indício de abalo na estrutura”, informou a empresa em nota.
Incerteza. O prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), disse que vai pedir ao governo federal uma avaliação independente, visto que até então só a própria Samarco havia dado um posicionamento técnico sobre a situação. “(A avaliação é) Para que a gente possa entender qual a real situação da barragem”.
O Ministério Público deu prazo até a tarde desta sexta para que a Samarco apresente um projeto de contenção de danos para o caso de rompimento da Germano. O tenente-coronel Ronilso Caldeira, da Defesa Civil, reafirmou a “confiança” do Estado na avaliação da empresa. “Ela já disse que vai fazer os reparos e reforçar o nível de segurança”.
FOTO: Editoria de arte |
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Negligência
PGR. A subprocuradora-geral da República, Sandra Cureau, disse nesta quinta que a Samarco foi “negligente” e que a punição a ela deveria ser exemplar. “As empresas têm que manter medidas necessárias para evitar que ocorram (acidentes)”, afirmou.
As medidas
Ações. Funcionários da Samarco contaram que a empresa, além de reforçar a estrutura da barragem de Germano, trabalha em um plano de contenção para o caso de rompimento.
Desvio. A intenção é construir uma espécie de terraplanagem para desviar a lama e impedir que ela alcance cursos d’água e comunidades no entorno. A Samarco não se pronunciou sobre as ações.
Dano é suficiente para vazamento
Uma das mais antigas e maiores do mundo, a barragem de Germano, em Mariana, na região Central de Minas, sempre foi referência para estudos na área de engenharia e geologia. No entanto, desde o acidente nas barragens vizinhas, Fundão e Santarém, especialistas não descartam danos na base do reservatório.
Para o engenheiro civil Marcílio Pereira, imagens aéreas do local do acidente indicam problemas no “pé” da barragem, como trincas. “É preciso recuperar o sistema de drenagem”, afirmou.
O geólogo Eduardo Antônio Marques acredita que o rompimento da barreira do Fundão pode ter danificado o dique de sela, parede que sustenta parte dos rejeitos da Germano. Um dano de 3 m no local, segundo ele, seria suficiente para causar vazamentos. “Se for uma trinca grande, o que acho pouco provável, já era para ter rompido”, concluiu.