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Foto: (Como cuidar dos idosos? Falta de preparo atinge a todos / Reprodução)

Como cuidar dos idosos? Falta de preparo atinge a todos

Familiares, profissionais, serviços e políticas têm de evoluir na temática do envelhecer

Por Cristiana Andrade, Maria Irenilda, Milena Geovana e Queila Ariadne Publicado em 17 de abril de 2024 | 08h01

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O envelhecimento chega inevitavelmente. Até quem ainda não é considerado velho sente os efeitos desse processo. Principalmente quando os pais ou parentes próximos começam a precisar de cuidados. 

Como encontrar um bom médico? Precisa mudar a alimentação? Tem que contratar fisioterapeuta? É melhor assumir a tarefa ou terceirizá-la para um cuidador? São muitas as questões e, na maioria das vezes, poucas pessoas se planejam para esse momento, que envolve tantas decisões. Já parou para pensar quem vai cuidar de você quando envelhecer?

Geriatra e professora na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Marayra França afirma que a falta de preparo é geral: não apenas da família, mas dos vários atores envolvidos nesse universo.

“Os idosos precisam de mais apoio, muitos já não conseguem fazer as mesmas atividades de antes. Então, é preciso supervisão, orientação e acompanhamento. E essa transformação na vida dos filhos é abrupta.

Muitos entram em negação em relação a esse momento dos pais. É difícil aceitar que eles estão envelhecendo e que chegaram ao ponto divisor de águas”, comenta.

 

Marayra França, geriatra e professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais
Marayra França, geriatra e professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais - Foto: Arquivo pessoal 


Revezamento

Fato é que, de uma hora para outra, a realidade bate à porta e faz a vida mudar completamente. Na família da auxiliar administrativa Sandra Calasans, 45, ela e os três irmãos tiveram de montar um esquema de revezamento para cuidar da mãe, que caiu e ficou com um problema de mobilidade. A família logo contratou uma cuidadora para o dia, e eles, os filhos, ficavam com a idosa à noite, de forma alternada. 

“A parte mais difícil é o emocional, porque a gente se sente sobrecarregado, abre mão do tempo em família, do lazer. Não conseguimos fazer nenhum planejamento de longo prazo”, relata Sandra, que tem fibromialgia.“Mesmo tomando remédio, quem tem essa doença sente muita dor. E o estresse é um gatilho poderoso. Minha mãe não é uma pessoa fácil de lidar; ela não é uma pessoa grata, sempre acha que a gente está fazendo pouco. Nas noites que eu durmo com ela, sinto mais dores”, desabafa.
 

A auxiliar administrativa Sandra Calazans abraçada à mãe: ela e os irmãos montaram um esquema de revezamento para cuidar da idosa
Sandra Calazans abraçada à mãe, Odília: ela e os irmãos montaram um esquema de revezamento nos cuidados com a idosa - Foto: Arquivo pessoal 


Cada família faz um arranjo de cuidados de acordo com suas condições – tanto as de disponibilidade quanto as financeiras. Mesmo com organização e estrutura, o emocional acaba gritando, pois são muitas as questões a serem resolvidas: pagamento de contas da casa, compra de alimentos, marcação de exames, pesquisa de preços de medicamentos, ida às consultas médicas e outros problemas de ordem prática do dia a dia.


Descompasso na sociedade


Além da sobrecarga dos familiares que optam por cuidar dos seus entes, há um descompasso na sociedade, que parece ainda não ter acordado para o ritmo do crescimento da população idosa no país. “Prova disso são as cidades nada amigáveis com idosos: calçadas irregulares, buracos, os próprios shoppings, pouco preparados para receber os idosos”, diz Marayra.

Na área da saúde, não é diferente. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o Brasil tem cerca de 2.600 médicos geriatras em atividade. E a média de novos profissionais que se especializam na área por ano não passa de 100.

“Temos de ter profissionais preparados para esse atendimento, educação continuada nas faculdades, e oferecer oportunidade para as pessoas conhecerem o envelhecimento, as fragilidades que a idade nos causa, preparando o ambiente e o coração, inclusive o próprio olhar, para ver que um idoso faz parte de uma população geral”, enfatiza a geriatra Marayra.

Esta matéria integra o especial "Tempo de Envelhecer:quando viramos pais de nossos pais", da Mais Conteúdo, de O TEMPO. O episódio 3 do podcast, com mais personagens e outras análises de especialistas, você ouve abaixo:

 

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