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Foto: (Quem vai cuidar dos nossos idosos? / Reprodução)

Especial O Tempo Envelhecimento

Quem vai cuidar dos nossos idosos?

Ipea projeta para 2100 que 40,3% da população brasileira será formada por pessoas acima de 65 anos

Por Cristiana Andrade, Maria Irenilda, Milena Geovana e Queila Ariadne Publicado em 15 de abril de 2024 | 08h01

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O Brasil está envelhecendo. E a passos rápidos. Uma projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, até 2100, os idosos serão 40,3% da população brasileira. Como mostrou o Censo 2022 do IBGE, o total de pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população, um crescimento de 57,4% se comparado aos dados populacionais de 2010, quando esse contingente equivalia a 7,4% de todos os brasileiros. 

Confira no vídeo o que as pessoas dizem sobre quem vai cuidar delas:


O processo é evidenciado pelo aumento da população de 65 anos ou mais em conjunto com a queda da população de até 14 anos no mesmo período, que se reduziu de 24,1% para 19,8%. 

Em 2010, o Brasil tinha cerca de 31 idosos a cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 2022, essa proporção já era de 55 idosos. Ou seja, um salto bem significativo nessa parcela da população. Atualmente, o país já tem 3,5 milhões de pessoas que dependem de cuidados

O acelerado ritmo do envelhecimento obriga mudanças urgentes, tanto de políticas públicas quanto de adaptação do mercado como um todo. Mas nem o poder público, nem a sociedade estão totalmente preparados para enfrentar essa questão.

De repente, os filhos viram pais dos próprios pais, assumindo demandas de cuidados e, muitas vezes, mudando totalmente a rotina. E o cenário ainda implica questões geracionais, como o fato de as famílias já não serem mais tão numerosas e, muitas, terem apenas filhos únicos. Diante de tudo isso, fica a pergunta: quem vai cuidar de você quando envelhecer? 

Seja qual for a resposta, ela tem que começar a ser desenhada agora. E quem está acompanhando a rotina do envelhecimento dos pais ou parentes sabe que cada dia é um dia. Um desafio a ser encarado com amor.

 

Mobilidade comprometida

 

Da noite para o dia, o dentista Leonardo Tiengo, 43, viu o pai perder a mobilidade. Foi ali que ele se deu conta de como a velhice não estava chegando só para o pai. A transformação começava a acontecer para a família toda.

 

“Meu pai sempre tocou instrumento de corda, desde criança. Era um exímio violeiro e um excelente violinista. E isso tudo se perdeu após ele sofrer um AVC, perder os movimentos de um lado do corpo e ficar na cadeira de rodas. Quando ele vem aqui em casa, nas visitas, ele pede para pegar a viola, a põe no colo e fica batendo o dedo, como minha filha Marina faz, como uma criança. Eu vejo no olhar dele que isso é a parte mais difícil”, conta Tiengo.

Mais do que apenas números, os índices demográficos levantados pelo IBGE e pelo Ipea revelam que, na realidade, há cada vez mais idosos no país. O dado acende um alerta sobre quem vai estar ao lado dessa parcela da população, que na maioria dos casos demanda atenção em saúde, medicamentos, assistência, tratamentos e até cuidados 24 horas.

 

Dever na Constituição

 

De acordo com a economista Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, no Brasil e também em outros países, o dever dos cuidados com idosos recai sobre a família. Está previsto na Constituição: o artigo 229 afirma que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. 
 

Economista Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea
Ana Amélia Camarano, do Ipea - Foto: Arquivo pessoal


“Nossa Constituição é familista, e é a família a responsável por cuidar. Essa situação ocorre em grande parte dos países, uma vez que o cuidado familiar é o mais importante para qualquer grupo. Mas, quando olhamos para normas e questões culturais, vemos que a maioria fica na responsabilidade das mulheres. Quando você fala família, está falando mulher. E a partir daí temos o primeiro ponto sobre as políticas de cuidados voltadas para os idosos, que são bem incipientes ainda”, analisa. 

Esta matéria integra o especial "Tempo de Envelhecer: quando viramos pais de nossos pais", da Mais Conteúdo, de O TEMPO. O episódio 1 do podcast, com mais personagens e outras análises de especialistas, você ouve abaixo:
 

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