Fissurado confesso em comer doces, o professor de história Aed Vieira, 25, acredita que essas deliciosas guloseimas estão entre as maiores invenções de Deus. “Só deixo de comer quando sou impedido, seja pela chamada no celular ou por outra urgência”, revela. Talvez, se essa distração prevalecesse por 25 segundos, Aed conseguiria, de fato, segurar o vício.
Isso é o que comprova um estudo divulgado recentemente nos Estados Unidos. O resultado mostrou que, se as pessoas sentirem vontade de consumir um doce, mas forem obrigadas a esperar esse curto período para ter acesso a ele, cerca de 5% delas vão mudar de ideia.
O método utilizado pelos pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Rush foi a instalação de cronômetros em máquinas automáticas de doce, bastante comuns em estações de metrô e rodoviárias. Esses aparelhos estavam programados para fazer com que os clientes esperassem por 25 segundos antes que as guloseimas ficassem disponíveis.
Nesse intervalo de tempo, eles tinham a chance de escolher uma opção mais saudável. Caso isso acontecesse, a nova escolha – a mais sadia – era disponibilizada imediatamente, sem a necessidade de se continuar com a cronometragem inicial.
No total, foram 14 meses de observação e mais de 32 mil vendas realizadas. Desse montante, aproximadamente 1.600 foram trocas por lanches mais saudáveis. Por conta disso, os estudiosos acreditam que a obrigação que as pessoas tinham de esperar fez com que os doces se tornassem menos irresistíveis.
“Isso comprova que o cérebro humano prefere gratificações imediatas, e essa preferência se aplica a escolhas corriqueiras do nosso comportamento no dia a dia”, afirma o líder do estudo, Brad Appelhans, da Universidade de Rush.
O paladar também busca essa gratificação imediata, segundo a nutricionista Aline Prado, especialista em nutrição clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela reforça, porém, que é possível adaptar os prazeres. “Esse sentido do corpo (paladar) é adaptável a diversas sensações que lhe são apresentadas. Quanto maior for a oferta de sensações prazerosas, maior será a necessidade de obtê-las a qualquer momento. É esse o efeito provocado pelo doce quando em contato com o paladar”, pondera.
A especialista explica que essa tendência de consumir altar doces de doces na fase adulta da vida é um reflexo de hábitos anteriores, que perduram. Por isso, é preciso atenção desde cedo com as escolhas alimentares. “É na fase da infância e da adolescência que nossos gostos alimentares se desenvolvem e se fortalecem. O hábito alimentar adquirido nessas fases vai ser refletido pelo restante da vida se não houver uma mudança de escolha das pessoas”, afirma.
Minas. E os belo-horizontinos estão entre os que comem doces em excesso. Um estudo realizado pelo Ministérios da Saúde entre 2006 e 2015 mostra que 20,8% dos moradores vivenciam uma dieta rica em açúcar. Além disso, 18,9% deles bebem grande quantidade de refrigerante nas refeições. Os especialistas alertam para os riscos desse consumo exagerado, principalmente quando a taxa de diabetes na capital mineira já chega a 10,1%.
Minientrevista
Cláudio Costa
Psiquiatra especialista em compulsão alimentar
Quando comer se torna um vício?
A palavra “vício” é muito mais leiga do que uma palavra médica. O ato de dependência pode ser chamado de “compulsão”. Até porque comer é uma necessidade. O que existe, nesse caso, é a compulsão alimentar devido a vários fatores biológicos, genéticos e psicológicos.
Nesse caso, por que o consumo de açúcar pode tornar-se compulsivo?
O açúcar ativa o hipotálamo (região profunda do cérebro), que regula o que se come, e a região frontal da mente, ligada à busca de recompensas. Ele é acionado, principalmente, em momentos emocionais como estresse, frustração ou alegria. É nessa hora que há maior incidência na ingestão de açúcar, que, por sua vez, é absorvido muito rápido, aumentando a glicemia (presença de glicose no sangue). Esses chamados picos glicêmicos podem dar uma sensação de prazer, fazendo com que se queira repetir a dose.
Há alguma substância que provoque o mesmo tipo de sensação no cérebro?
Claro. Podemos destacar a dopamina, produto químico que fornece a sensação de recompensa no cérebro. Ela é liberada durante as situações agradáveis e estimula a procura da atividade ou a ocupação agradável. Um bom exemplo é a prática de exercícios físicos excessivos, que a produzem em demasia.