Sexo

‘Cospe ou engole?’ Mitos e verdades sobre o sêmen

Apesar de ser uma prática disseminada, o sexo oral ainda é cercado de tabus


Publicado em 11 de dezembro de 2020 | 03:20
 
 
 
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“Cospe ou engole?”. Ainda que de brincadeira, uma pergunta que desconcerta, esta é também uma dúvida legítima para o sem-número de praticantes do sexo oral que não sabem muito bem o que fazer com o sêmen nessas situações. Afinal, a ingestão dessa secreção pode provocar complicações para a saúde? E quanto ao sabor, é possível deixar a substância mais, digamos, palatável? Para desmistificar o assunto e trazer informações sobre relações sexuais mais seguras, a reportagem de O TEMPO ouviu especialistas sobre mitos e verdades envolvendo a ingestão desse líquido pastoso produzido pela próstata e que tem como função manter vivos os espermatozoides.

Sobretudo, vale lembrar a importância de se colocar o tema em debate, dado que, cena recorrente no universo da pornografia, o sexo oral é também rotineiro na vida a dois. Especialmente no Brasil, país em que a modalidade é mais disseminada do que em outras nações, como atesta uma pesquisa da Durex Global Sex Survey, que investigou, em 2014, o comportamento sexual das populações de 29 nacionalidades para além da penetração. O inquérito apurou que 50% dos brasileiros entrevistados haviam recebido e 48% garantiram ter feito sexo oral recentemente. Na média global esses índices foram de 33% e 32%, respectivamente.  

E se, apesar de comum, o assunto é ainda pouco discutido e permanece cercado de tabus, um dos possíveis reflexos dessa falta de informações é a baixíssima adesão ao uso de preservativos durante a prática, evidenciada em um estudo de 2018, publicado no “Journal of Adolescent Health”. De acordo com o levantamento, apenas 7,6% das moças e 9,3% dos rapazes de 15 a 24 anos haviam usado camisinha na última vez em que fizeram sexo oral. Na faixa etária de 20 a 24 anos, a aderência é menor ainda: somente 6,3% delas e 8,8% deles utilizaram o item. 

Ocorre que “a prática de sexo oral sem uso de preservativo é suficiente para a contaminação de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como gonorreia, clamídia, HPV, sífilis, herpes e HIV”, adverte a psicóloga e sexóloga Laís Ribeiro. Ela acrescenta que, pensando estritamente na composição do sêmen – que, além dos espermatozóides, contém proteína, colágeno e alguns tipos de vitaminas –, a sua ingestão não faria nenhum mal à saúde. E também não traz benefícios, adiciona a também psicóloga e sexóloga Enylda Motta.

O risco está justamente na contaminação por ISTs – e, para que isso aconteça, não é preciso engolir, o simples contato com a mucosa da boca e com possíveis feridas é suficiente para que a infecção ocorra. Portanto, ingerindo ou não a secreção, a prática sem preservativo só é segura “se as pessoas envolvidas não tiverem nenhum tipo de ISTs ou de doenças preexistentes e se tiverem com todos os exames em dia”, conclui Laís. 

Hipersensibilidade. Enylda Motta reconhece que, embora incomum, aminoácidos, frutose, enzimas e proteínas presentes no sêmen podem causar alergia em pessoas sensíveis. “Essa hipersensibilidade pode ocorrer e é mais fácil de ser identificada com a penetração, gerando incômodo e ardência”, pondera Laís Ribeiro, complementando que muitas pessoas demoram a perceber esse distúrbio, que acaba sendo confundido com outros problemas. 

Desejo e repulsa. Lembrando que se trata de uma prática excessivamente fetichizada, Laís Ribeiro observa que o “cospe ou engole” chega aos consultórios, primeiro, por ser um desejo masculino comum ou por ser algo que se acredita que o parceiro deseja e que seria essencial para o deleite sexual. “Muito disso vem do papel da pornografia nas práticas sexuais corriqueiras e de uma expectativa de performance”, pontua. Nesse sentido, o conselho de Enylda Motta é que nunca ceda e realize o ato quando não tiver desejo de fazê-lo. “Há pessoas que sentem até ânsia de vômito, outras se deliciam”, diz. Um estudo britânico investigou essa variedade de gostos. Ouvindo 500 mulheres, a pesquisa verificou que 60% delas praticaram sexo oral, sendo que 28% desse total considerou a situação “muito agradável”, mais da metade classificou como “agradável”, e 17% delas disseram que teriam preferido não ter esse tipo de relação. 

Interferência do sabor. Laís Ribeiro pondera que algumas pessoas, embora gostem de fazer sexo oral, não se sentem confortáveis por causa do sabor do sêmen. “Nesses casos, a alimentação interfere muito. O consumo excessivo de embutidos, de carne vermelha e o tabagismo tendem a deixar o esperma com sabor mais amargo e menos agradável. Já o consumo, até duas horas antes da prática, de frutas cítricas, como o abacaxi e o limão, pode reduzir esse amargor”, detalha, sublinhando que uma alimentação saudável, em longo prazo, é o melhor caminho para deixar o líquido mais aprazível. Por outro lado, “talvez aquele domingo, depois de um churrasco, não seja o melhor momento para a prática do sexo oral”, brinca.

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