As mulheres estão jogando mais videogame e já representam 47,1% da fatia de jogadores no Brasil, de acordo com a pesquisa Game Brasil 2015, da consultoria Sioux. Esse número expressivo, no entanto, não significa mais respeito ou aceitação a elas. Pelo contrário. No universo dos jogos digitais, predominantemente sexista, as mulheres enfrentam desde piadas machistas a ameaças de estupro.
Dados e relatos mostram que é comum mulheres sofrerem preconceito em fóruns e jogos online. Para a empresária e gamer Glenda Maciel, 35, que joga desde os 8 anos, há dois comportamentos padrão de machismo nesse ambiente. “Alguns homens automaticamente dão em cima de você sem saber absolutamente nada sobre a sua personalidade. Outros acham que você não joga sério e presumem que você é ruim, ou que está jogando para agradar ao namorado. E quando você não dá corda para eles, é automaticamente xingada”, conta.
Um exemplo corriqueiro de misoginia vem de homens que acham que o gênero é fator determinante para a competência em jogar – sim, eles pensam que são melhores que elas. “Os machistas, geralmente, duvidam das habilidades da jogadora. Quando tentam fazer alguma gracinha e são ignorados, temos as tradicionais reações de rejeição, que incluem dizer: ‘Aposto que é gorda’, ‘deve ser muito feia’, além de usar nomes pejorativos para agredir”, completa Glenda.
Ela, que gosta de jogar “Dragon Age” – jogo de RPG para PlayStation – raramente se aventura em jogos online. A empresária conta que é assustador como alguns jogadores ameaçam as mulheres.
“Em jogos como o ‘Dota’ (jogo de estratégia em tempo real em que os jogadores têm que destruir o ancião adversário), em que há muita interação entre pessoas, ou em fóruns, você encontra muitos adolescentes e adultos jovens cometendo assédio sexual. Eles fazem piadas agressivas, muitas vezes, com o tema de estupro. No ‘Dota’ tem diversos memes de estupro espalhados”, conta Glenda. “Há um mês, li um relato de uma menina que tinha sido ameaçada de estupro por alguns moleques na comunidade gamer. Ela procurou a mãe deles no Facebook e dedurou. Só uma mãe respondeu”.
Preconceito. A representação da mulher nos jogos é outro fator de disseminação do preconceito. Geralmente em papeis secundários, as personagens são, na maioria das vezes, acessórios ou objetos sexuais para os personagens principais. “Quase sempre elas são objetificadas e representadas apenas como as gostosonas, e não como personagens importantes. Pouquíssimos estúdios se arriscam nesse sentido”, critica Glenda.
Ainda segundo ela, apesar de o caminho ao enfrentamento do preconceito ser longo, o mercado vem percebendo o número crescente de mulheres que jogam e começa a apostar numa representação que promova a igualdade. “‘Tomb Raider’ é uma feliz exceção, no qual uma mulher forte é a protagonista. E hoje em dia, há estúdios como a Bioware, que fazem uma campanha fortíssima para a inclusão e representação não só da mulher, mas também de personagens de diferentes raças e orientações sexuais. Eles são muito bons nisso”, elogia.
Ódio na rede
Perseguição. A blogueira e feminista canadense Anita Sarkeesian sofreu ameaças de morte após lançar uma websérie sobre como as mulheres são retratadas nos games. Ela relatou sua experiência no blog Feminist Frequency.
Gamer Gate
O episódio ocorrido nos EUA mostra quão hostil é o ambiente de jogos online
Zoe Quinn. Linchada.A desenvolvedora recebeu diversas ameaças depois de ter lançado um jogo chamado “Depression Quest”, que trata de sua experiência com a depressão.
Além de agredida, ela foi exposta e acusada de trair o namorado. E se viu obrigada a sair de casa quando seu endereço e contatos foram divulgados.