Faroeste candango

Apoiando a ditadura, pai de Collor se manteve no Senado mesmo após matar colega

Após matar colega dentro do Senado, Arnon de Mello foi absolvido, voltou ao cargo e, no partido aliado dos militares, ficou imune às sanções do regime ditatorial

Por Renato Alves | Levy Guimarães
Publicado em 03 de dezembro de 2023 | 09:30
 
 
Arnon de Mello ingressou na Arena, o partido criado em 1965 para dar sustentação política à ditadura militar instituída a partir do golpe de Estado no Brasil em 1964 Foto: Divulgação/Instituto Arnon de Mello

Arnon Affonso de Farias de Mello nasceu em 19 de setembro de 1911, no engenho de Cachoeirinha, no município de Rio Largo (AL), filho de Manuel Afonso de Mello e de Lúcia de Farias Mello. Seu pai era um rico senhor de engenho, arruinado em virtude da proibição da exportação do açúcar durante o governo de Epitácio Pessoa (1919-1922).

Arnon, que passou a infância e adolescência em Maceió, se mudou para o Rio de Janeiro em 1930, onde se formou em direito e fez carreira como jornalista, trabalhando nos principais jornais cariocas. De volta a Alagoas, em 1936 assumiu a direção da Gazeta de Alagoas, o maior periódico do estado.  

Sua carreira política começou em 1945, com o fim do Estado Novo de Getúlio Vargas, quando entrou para a UDN. Foi eleito suplente de deputado federal no mesmo ano e exerceu o mandato mediante convocação. Pela mesma legenda, foi eleito simultaneamente deputado federal e governador de Alagoas em 1950, optando por este último cargo, cumprindo um mandato de cinco anos. 

Em 1962, um ano antes de matar um colega dentro do Senado, Arnon foi eleito senador por seu estado. Ingressou na Arena, o partido criado em 1965 para dar sustentação política à ditadura militar instituída a partir do golpe de Estado no Brasil em 1964. Dessa maneira, escapou das sanções do regime, que, entre outras ações, fechou o Congresso e prendeu adversários políticos. 

Livre de qualquer punição pelos tiros disparados em 4 de dezembro de 1963 e pela morte de um senador, Arnon de Mello foi reeleito pelo voto direto em 1970, sendo reconduzido ao mandato como senador biônico em 1978. Durante a ditadura, aliados do regime eram escolhidos pelos militares para ocupar cargos nos poderes executivo e legislativo sem a necessidade de uma eleição. Dessa forma, prefeitos, governadores, deputados e senadores faziam o que os ditadores mandavam, o que ajudava na manutenção do regime. 

Ao morrer, em 29 de setembro de 1983, aos 72 anos, Arnon estava filiado ao PDS, no qual ingressou em 1980. Fundado em 31 de janeiro de 1980, o PDS era um partido de direita, surgido da Arena. Tinha dentre seus filiados José Sarney e Fernando Collor de Mello, dois futuros presidentes da República. 

Fernando Collor é um dos cinco filhos de Arnon com Leda Collor de Mello, filha de Lindolfo Collor, um dos articuladores da Revolução de 1930 e primeiro ministro do Trabalho, Indústria e Comércio (1930-1932). Fernando assumiu a Presidência da República em 1990, sendo afastado dois anos depois, em um processo de impeachment, derivado de um escândalo de corrupção, denunciado pelo seu irmão, Pedro Collor. 

Um dos personagens centrais de tal esquema, Paulo César Cavalcante Farias, o que havia sido tesoureiro de Collor, morreu ao lado da namorada, Suzana Marcolino da Silva, quatro anos depois, em Maceió. Dois tiros sem nenhum autor. Dois mortos numa casa vigiada por quatro seguranças sem nenhum culpado. Quase trinta anos depois, o crime segue impune.

Devido ao valor histórico, o processo número 967, de 1963, que tem 776 páginas e trata do crime no Senado, foi destinado à “guarda permanente” do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ele serviu para consulta da equipe de O TEMPO em Brasília.