Gafes

Lula coleciona falas polêmicas em seu terceiro governo; relembre

As declarações questionáveis do petista circulam em temáticas relacionadas à escravidão, capacitismo e guerras pelo mundo, entre outras

Por Lucyenne Landim
Publicado em 11 de fevereiro de 2024 | 12:19
 
 
O presidente Lula durante evento em Minas Gerais na quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024 Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem derrapado, desde o início de seu governo, do discurso de diversidade e inclusão que pautou sua campanha eleitoral em 2022. Nos últimos meses, o petista acumulou gafes e falas polêmicas que reforçam estereótipos e são consideradas até ofensivas por grupos representativos.

Na última quarta-feira (7), Lula disse que “nenhuma mulher quer namorar um cara que é ajudante geral” ao incentivar que jovens estudem. Ele falou em agenda no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele anunciou a construção de um Instituto Federal de Educação (IF) na comunidade carioca.

“Na fábrica, a gente tem que ter uma profissão. Se a gente não tiver profissão, a gente vai virar ajudante geral, e ajudante geral não ganha nada”, disse. “Nenhuma mulher quer namorar com um cara que mostra a carteira profissional. ‘Qual é a sua profissão? Ajudante geral’. Daí a mulher fala: ‘Pô, cara nem profissão você tem…para levar um feijão, um arroz para casa no final do mês. E as crianças que vão nascer? como é que a gente vai cuidar?’, continuou. Em seguida, se dirigiu aos jovens no evento e endossou. “Então, tem que estudar. Todo mundo tem que estudar”, concluiu.

Esta, porém, não foi a primeira gafe neste mês de fevereiro. No dia 2, o petista disse a uma jovem negra que "uma afrodescendente assim gosta de um batuque, de um tambor". A declaração foi feita durante visita à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP). O presidente tirou a mulher do dispositivo onde estavam as autoridades no palco com a intenção de elogiá-la por ter ganhado uma premiação da montadora.

"Essa menina bonita que está aqui. Eu estava perguntando: o que faz essa moça sentada, que eu não ouvi ninguém falar o nome dela? Eu falei: 'Ela é cantora, vai cantar'. Aí perguntei [e disseram]: 'Não, não vai ter música'. Então, ela vai batucar alguma coisa. Porque uma afrodescendente assim gosta de um batuque, de um tambor. Também não é", disse.

O ano de 2023 também foi recheado de falas controversas de Lula. Em março, ele disse que não faria uma viagem oficial à Rússia ou à Ucrânia para “se cuidar”. Os dois países estão em guerra desde fevereiro de 2022. Ele falou 84ª em ato da Frente Nacional de Prefeitos. “Mas vou trabalhar pela paz”, completou. “Não é possível, em pleno século XXI a gente possa guerra por coisa tão pequena”, concluiu.

Excravidão x miscigenação

Também em março, Lula apontou a miscigenação do Brasil como um resultado positivo do período da escravização da população negra. Ele estava em visita à terra Raposa Serra do Sol, e fez um discurso com tons de improviso em que tentou exaltar os povos indígenas e negros e criticou os colonizadores que, "há 500 anos nesse país", "resolveram vender a ideia de que era preciso fazer a escravidão vir para o Brasil porque os indígenas eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar".

“Toda a desgraça que isso causou ao país, causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação, da mistura entre indígenas, negros e europeus, que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui, que gosta de música, que gosta de dança, que gosta de festa, que gosta de respeito, mas que gosta de trabalhar para sustentar a sua família e não viver de favor de quem quer que seja", completou.

Lula relacionou 'desequilíbrio de parafuso' a problemas mentais

Em abril, ele indicou que pessoas que possuem problemas mentais têm “desequilíbrio de parafuso”. O presidente falou em uma reunião com ministros e governadores, em Brasília (DF), sobre ações de prevenção à violência nas escolas.

“A OMS sempre afirmou que na humanidade deve haver 15% de pessoas com algum problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil com 220 milhões de habitantes, significa que temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de parafuso. Pode uma hora acontecer uma desgraça”, declarou. A repercussão da fala gerou um pedido de desculpas pelo presidente.

'Gratidão' à África em comentário sobre escravidão

O tema escravidão voltou a ser usado de modo questionável em julho. Em viagem à África e ao lado do presidente de Cabo Verde, José Maria das Neves, o petista declarou ter “gratidão” ao continente africano “por tudo o que foi produzido” na escravidão no Brasil. “Nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso País”, afirmou.

Na ocasião, ele falou em "recuperar a relação com continente africano”. “Porque nós brasileiros somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, nossa cor, nosso tamanho são resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus”, disse Lula.

Fala criticada por 'capacitismo'

Em setembro, o presidente cometeu uma gafe ao relacionar beleza com o uso dos equipamentos no pós-operatório de uma cirurgia no quadril, para aliviar dores da artrose. Ele falou no programa “Conversa com o Presidente”.

Lula disse que o secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual, Ricardo Stuckert, não o quer com andador nas fotos e vídeos. "Ele já falou 'não vou filmar você de andador’. Então significa que vocês não vão me ver de andador, de muleta. Vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado", afirmou.

A declaração foi criticada pelo ativista Ivan Baron, que acusou “capacitismo”. Influenciador e referência na luta contra o preconceito aos deficientes, Baron subiu a rampa do Palácio do Planalto (sede administrativa do governo em Brasília) na posse de Lula usando uma bengala. Na ocasião, o presidente quis representar inclusão.

"E essa fala desnecessária que o Presidente Lula reproduziu? É nítido que ele não falou por mal, mas ao mesmo tempo não podemos deixar esse erro capacitista passar despercebido", escreveu no X (antigo Twitter).

Guerra entre Israel e Hamas

No mês seguinte, em outubro, o petista comparou a guerra entre Israel e Hamas a uma briga de casal, e sugeriu que o conflito fosse resolvido em uma mesa de negociação. Ele citou os intensos bombardeios na Faixa de Gaza e destacou o alto número de crianças entre as vítimas.

“Resolver o problema em torno de uma mesa de negociação, em torno de uma conversa, é muito mais barato, é muito mais fácil, é muito mais econômico. Um casal dentro de casa, quando tiver algum problema de desavença, sente numa mesa, converse, discuta. Não é possível a gente chegar as vias de fato por uma divergência, por ciúmes”, afirmou.