Fim da farra, ilusões se desfazem como nuvens e o amargo sabor da realidade anula a doce sensação de que finalmente o gigante acordou. É como amanhecer após uma noite maldormida pelos excessos de uma festa grandiosa. Em cada esquina, rostos fechados e mau humor pronunciam que a tempestade se avizinha. “A coisa vai de mal a pior...”, “o freguês sumiu...”, “a praça está ruim...”, “morro de medo de perder o emprego...”, “estou devendo até a alma...”.
A negatividade é como vírus de surto de gripe, é só abrir a boca e infesta multidões. As queixas frequentes da vida, a raivosa manifestação de redes sociais contra o governo e políticos em geral, vão se espalhando tal qual gás que escapa de fogão. Palito de fósforo é arma em mãos de incendiários. Nós temos uma tendência natural, que herdamos de evolução de milhões de anos, de seguir liderança. Precisamos de um líder, alguém que nos mova pela fé e esperança rumo a um futuro ou horizonte onde nos sintamos seguros, com abundância de recursos, sensação de coletividade, justiça e confiança. Precisamos de um núcleo familiar que nos nutra de afeto e proteção. São coisas tão básicas que nem notamos sua importância, até que o perigo nos envolva e a escassez provoque reações impensáveis.
Nos tornamos bestas e feras, regidas unicamente pelo instinto, esse perigoso e trevoso campo da falta de consciência racional. Em casos que se repetem há milênios, estupros, assassinatos, decapitações, extermínio, deixam perplexos os que se julgam “humanos”. Mas a verdade é que a consciência de grupo é tão frágil que se dilui. Senão, vejamos: como explicar os espancamentos e linchamentos que recomeçaram no país, onde pais, filhos, cidadãos de bem, chutam e agridem até a morte o assaltante da mercearia da esquina?
A maldade mora no porão da mente de todos nós, e em momentos extremos ela vira um monstro que não dominamos. Daí, uma expressão utilizada por estudiosos do comportamento: “efeito manada”, que significa um processo em que a multidão em pânico, de forma irracional e num efeito dominó, busca, ao mesmo tempo, uma porta de saída emergencial (lembram-se de evento em campo de futebol com excesso de público?), que é estreita e necessita de uma organização que não existe, gerando uma tragédia. E quando uma nação inteira perde a confiança em suas instituições políticas, jurídicas, sociais? Venezuela é um exemplo, ou as destruídas sociedades da Síria, Iraque, Iêmen e, quem sabe, a Grécia?
E nós com isso? Tudo! Afinal, a angústia vai corroendo nosso dia a dia, a insegurança torna-se companhia inseparável, o medo se alastra enquanto o vizinho chora o desemprego, o primo pede um empréstimo que não tem como pagar, o papo do bar é sobre as pequenas grandes tragédias que a tal “crise” começa a assombrar em nossas vidas.
Resta a cada um de nós buscar interiormente os recursos que temos guardados e que se apresentam nesses tempos caóticos. Respirar fundo, desviar o foco de papos negativistas, resgatar a criatividade, entender que fé é essa energia que gera um bom campo no nosso entorno, atraindo boas coisas. Tomar iniciativas, fazer o mesmo, mas com garra, de forma diferente, gerar prazer nos ambientes que frequentamos.
É bom lembrar que todos os momentos de crise que a humanidade atravessou geraram um novo momento, surgiram novos conceitos, fez evoluir a história da civilização. Há apenas 60 anos, a Europa, no pós-Segunda Guerra, estava destruída, famílias enlutadas, sem moradias ou alimentação, vagavam por todo continente. Hoje reerguida, mesmo com crise, busca saídas. Tudo tende a se resolver, e mesmo que caminhos se estreitem, armadilhas nos ameacem, desafios sejam diários, nossa sina é seguir, lutar, superar. Por fim, um aviso: nunca esteja na frente da manada, pois é o pior lugar. Os mais apavorados e egoístas são os primeiros a serem pisoteados.
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