A busca desesperada por algo que gere prazer e satisfação de modo rápido, intenso e constante tem sido uma das marcas de nosso tempo. A grande questão é que o envelhecimento das novidades se tornou um processo tão rápido que embriagar-se perdeu a graça, pois a ressaca invade a ilusão do falso relaxamento, que era o desejo buscado.
Somos vorazes e intensos, queremos tragar o mundo como um ébrio vira seu quarto copo de cachaça. Como se o beber social fosse perda de tempo, esquecemos que o mundo deve ser degustado, e não deglutido e devorado. Vagamos feitos zumbis afetivos, guiados pelos GPS de celulares onipresentes, gerando conteúdos tão descartáveis quanto as selfies do mês passado. Abrimos mão das lembranças, esquecidos que a cultura nada mais é que o acúmulo de vivências do passado, ensinadas por quem nos antecedeu. Sabedoria é a transmissão oral de experiências dos pais e avós, e além deles.
A mudez e inibição entre as atuais gerações, assim como a inibição afetiva entre elas, está por trás da constatação que a geração Y é a menos qualificada dos últimos dois séculos. Tirem os eletrônicos deles, impeçam que acessem ao Google ou aplicativos, desativem a internet e vamos ver a inteligência deles. Sem esquecer que o atual conceito de inteligência é a capacidade de sobreviver e adaptar ao mundo que o cerca. Para uma geração dos nem-nem, que não querem estudar nem trabalhar, é difícil imaginar que eles serão nossos futuros líderes. Mesmo porque futuro é algo que eles não projetam, afinal, no mundo das telas, não há tempo ou espaço; apenas o vício de conectar e não sentir o ciclo dia-noite, meses-ano, apenas o agora e a agonia de acessar a rede social, a escravidão do WhatsApp,de superar a fase do game atual ou o do que viralizou no YouTube.
Transtornos de ansiedade severos aparecem a cada dia para essa geração, como temor de desconectar-se mesmo à noite, abstinência de celular levando pânico quando o mesmo é roubado, perdido ou simplesmente esquecido em casa, com sensação de impotência, fraqueza, como se estivesse despido ou perdido em um mundo estranho. Sem contar o transtorno de sentir-se desatualizado quando desliga o celular, nas férias ou fins-de-semana, e mesmo para o almoço ou um lazer mínimo que seja. Quanta agonia,quanta correria e ... Todo mundo insatisfeito! E, na época do descartável, tudo perde a graça rapidamente.
Nas relações afetivas, sempre tem alguém que desejamos apenas por ser de outro, enjoa-se rápido, se quer sempre o que não se tem e desvaloriza-se o que já se conquistou, sem curtir a satisfação, a recompensa, o relaxamento e prazer pós conquista. Trabalho? A rotina, o salário, as pessoas e lá vem o desejo de trocar de emprego, que nunca foi tão frequente, mal criando vínculos afetivos ou ascensão profissional.
Estudar? As relações nas comunidades escolares tornam as escolas, berço de distúrbios comportamentais, fabricantes de transtornos psíquicos que acometem desde professores e alunos até pais e funcionários. E o que dizer das relações entre pais e filhos, das famílias conectadas e individualizadas nas suas insatisfações do dia-a-dia, incapazes de dialogar, sem tempo para trocas afetivas e sem conseguir comunicar-se?
Vale pois um princípio básico, cognitivo, comportamental: relaxamento é o passaporte para o prazer natural. Temos cinco antenas parabólicas que nos desvendam o universo: os cinco órgãos do sentidos ver, ouvir, tocar, cheirar e degustar. E o mundo é tão maior e mais satisfatório para os que têm tempo para perceber esse mundo, experimentá-lo, observá-lo e senti-lo. Mas esse milagre exige que possamos nos desconectar. Afinal, a tela não faz carinho, cafuné, nem tem ombro amigo para oferecer. Apenas o vício e ilusão de um mundo virtual inodoro, sem gosto ou sabor. A decisão é sua...
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