Luzes piscam, buzinas tocam, panelas batem. Perto e ao longe, o simbolismo da indignação, ora tímido, às vezes exaltado, me remetem a tempos vividos em meio às contrações e expansões que regem desde nossos corações até o pulsar do universo e os ciclos históricos de bonança (raros) e sofrimentos da espécie humana na sua acidentada história de busca de paz, prosperidade e harmonia.
Quem estudou a revolução francesa, no mínimo, deveria se lembrar do lema “igualdade, fraternidade, liberdade”. Séculos depois, africanos afundam no Mediterrâneo sob a indiferença humana, a guerra secular de cruzada retorna cruel e ao vivo, entre islâmicos radicais e ímpios. Pescoços são cortados, pessoas queimadas, crueldades atraem jovens do mundo inteiro a jogar seus games mortais ao vivo e a cores no território alienígena da internet, numa guerra das estrelas vitalizada e curtida de forma virtual, radical, irracional. É... somos isso. Ciborgues humanos, metade extasiados e hipnotizados pela tecnologia de terceiro milênio que nos colocou nas palmas das mãos, via smartphone, o poder de tudo poder e nada fazer para melhorar a humanidade.
Na outra ponta, uma regressão afetiva, trogloditas cegos de ódio, de intolerância aos que não têm nossa cor, nossa religião, classe social, nacionalidade, time de futebol e sei lá mais o quê. Ódios destilados em redes, maldades povoam as ruas, mídias vomitam a barbárie de comuns que se estranham. O que será desse divórcio entre a parte racional, lógica, intelectual que habita nosso cérebro cortical e sofisticado, e o nosso cérebro límbico, mamífero, que controla emoções, estresse e sentimentos? Afinal, estamos mais para seres animalescos ou seres divinos, capazes de compartilhar, preocupar-se com seu semelhante, ser altruísta, perdoar, respeitar diferenças e acolher?
O que sei é que participei a plenos pulmões de passeatas contra ditadura, marchei pelo Diretas Já pintei meu rosto de verde e amarelo para depor o ex-presidente Collor, votei muito mal diversas vezes, chorei com Tancredo, elegi e me decepcionei com FHC, persisti diversas vezes até eleger Lula e o PT. Pois nada me tocava mais do que as campanhas sempre emocionantes do PT. E de uma jamais esquecerei, a que flechou meu coração, me emocionou, me acolheu, ao me lembrar da revolução francesa, a Tomada da Bastilha. Sim, desfraldei a bandeira que dizia em letras garrafais: “A esperança vencerá o medo, sem medo de ser feliz!”.
Nunca, nunca mais façam isso! Pois num mundo em que a “felicidade”se tornar algo tão maltrapilho, e a “esperança” for assassinada em praça pública, banalizadas pela patologia do poder, do dinheiro da venda de alma para o diabo, estaremos assistindo ao início do fim da fé, confiança, dignidade dos falsos líderes e falsos profetas.
Às armas, companheiros, avante! Pois nossa munição será o amor à pátria, aos filhos e netos que crescerão pelas sementes que legarmos, semeados neste solo sagrado: honestidade, respeito, confiança, humildade, senso comunitário, compaixão e altruísmo!
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