Seguramente, é cedo ainda para tirar lições do questionável impeachment que inaugurou uma nova tipologia de golpe de classe via Parlamento. Essas primeiras lições poderão servir ao PT, a aliados e aos que amam a democracia e respeitam a soberania popular, expressa por eleições livres.
1) Alimentar a resiliência, vale dizer, resistir, aprender com os erros e derrotas e dar a volta por cima. Isso implica severa autocrítica, nunca feita com rigor pelo PT. Precisa-se ter claro qual projeto de país se quer implementar.
2) Reafirmar a democracia, aquela que ganha as ruas e praças, contrariamente à democracia de baixa intensidade, cujos representantes, com exceções, são comprados pelos poderosos para defender seus interesses corporativos.
3) Convencer-se de que um presidencialismo de coalizão é um logro, pois desfigura o projeto e induz à corrupção. A alternativa é uma coalização dos governantes com os movimentos sociais e setores dos partidos populares e, a partir deles, pressionar os parlamentares.
4) Convencer-se de que o capitalismo neoliberal, na atual fase de altíssima concentração de riqueza, está dilacerando as sociedades centrais e destruindo as nossas. O neoliberalismo atenuado, praticado nos últimos 13 anos pelo PT e por aliados, permitiu fazer a maior transformação social na história do Brasil, com a melhoria de vida de quase 40 milhões de pessoas. O grande erro do PT foi nunca ter explicado que aquelas ações sociais eram fruto de uma política de Estado. Por isso, criou antes consumidores que cidadãos conscientes. No atual governo pós-golpe, a radicalizada política econômica neoliberal de ajustes severos, recessiva e lesiva aos direitos sociais, seguramente vai devolver a fome e a miséria aos que dela foram tirados.
5) É urgente dar centralidade à educação e à saúde. Os governos Lula e Dilma avançaram na criação de universidades e escolas técnicas, mas cuidaram pouco da qualidade, seja da educação, seja da saúde. Um povo doente e ignorante nunca dará um salto de qualidade rumo a uma prosperidade sustentável.
6) Colocar-se corajosamente ao lado das vítimas da voracidade neoliberal.
7) Colocar sob suspeita tudo o que vem de cima, geralmente fruto de políticas de conciliação de classes, feitas de costas e à custa do povo. Essas políticas vêm sob o signo do mais do mesmo. Preferem manter o povo na ignorância para facilitar a dominação e combatem qualquer espírito crítico.
8) É urgente a projeção de uma utopia de outro Brasil, sobre outras bases, a principal delas, a originalidade e a força de nossa cultura, dando centralidade à vida da natureza, à vida humana e à vida da Mãe Terra, base de uma biocivilização. O desenvolvimento/crescimento é necessário para atender não os desejos, mas as necessidades humanas; deve estar a serviço não do mercado, mas da vida e da salvaguarda de nossa riqueza ecológica.
9) Para implementar essa utopia, faz-se indispensável uma coligação de forças políticas e sociais interessadas em inaugurar o novo viável que dê corpo à utopia de outro tipo de Brasil.
10) Esse novo viável tem um nome: ecossocialismo. Não aquele totalitário da Rússia e o desfigurado da China, que, na verdade, negam a natureza do projeto socialista. Mas o ecossocialismo que visa realizar potencialmente o nobre sonho de cada um dar o que pode e de receber o que precisa, inserindo a todos, a natureza incluída.
Esse projeto deve ser implementado já. A atual crise nos oferece especial oportunidade, que não deverá ser desperdiçada. Ela é dada poucas vezes na história.
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Dez lições pós-impeachment que podem conduzir ao ecossocialismo
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