Se fosse o caso de cobrar responsabilidades pelo imbróglio em que meteram o país, que não se aponte o dedo para parte do eleitorado, destituído de noções básicas sobre o regime democrático e o processo eleitoral, pois o pronunciamento das urnas nas eleições de outubro dificilmente seria outro. Contudo, escolha houve, por mais que se possa criticá-la, no âmbito de uma série de fatos e circunstâncias que se juntaram para induzir uma consequência que se aproxima do desastre, repetida e movida por uma das maiores operações de engodo no segundo turno.
Apesar de longe estar da pretensão de fazer o papel de analista do pronunciamento popular, tenho comigo a convicção de que dois fatores pesaram na catástrofe que se abateu sobre o Brasil. A prova de um mandato inteiro ruinoso já se cumprira, mostrando um lastro de experiência que não deixara dúvidas para o corpo eleitoral. Disparada a bala no primeiro mandato, era mais do que conveniente que se evitasse cometer uma segunda tragédia.
Lula, de um lado, e o marquetismo político desvairado, de outro, cumpriram bem a operação sinistra a que se propuseram realizar. Lula pelo autoritarismo político, primário e ignorante. Falo da velha história do candidato do bolso do colete, invariavelmente danoso e, no campo político, antidemocrático e deseducador. O que me aprofunda a convicção do despreparo do ex-presidente é a incapacidade que deixa escapar de avaliador canhestro das pessoas e do comportamento humano.
De fato, chefe de governo por oito anos, teve a acompanhá-lo por esse longo período a doutora Dilma, como ministra de Estado. Na segunda vez, deslocou-a para uma pasta difícil, que exige do titular segura sensibilidade política e um mínimo de intimidade com o presidente da República que permita conhecer, com relativa profundidade, aspectos fundamentais da sua personalidade, da sua maneira de reagir diante de situações de preocupante gravidade, o que é quase o dia a dia do exercício das funções.
Exerci o cargo no governo Aureliano Chaves, claro que no âmbito de atribuições muito mais limitadas, e sei o que implica manter o equilíbrio, a ponderação, tendo em vista as especificidades do fato político vis-à-vis ao fato administrativo. Reações destemperadas, temperamento irascível, impaciência, falta de educação, incontinência jamais são compensadas com eficiência ou com os atributos da “gerentona”, que, ao contrário do anunciado e proclamado pelo dono do colete, nunca chegaram sequer a ser percebidos pelos governados. A razão é simples: o ser enérgico, o saber exercer, sem perder a lhaneza, o princípio da autoridade, é inestimável característica dos estadistas. Churchill foi o maior deles no século XX. Não chegaria a essas alturas se não conseguisse diferenciar o tom e o comportamento para uma conversa reservada de uma declaração pública.
A presidente Dilma está numa encruzilhada da sua vida e do país que dirige. Tem de saber sempre fitar os Andes, mesmo pequena, em sua condição humana.
Chamem Lula de volta
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.