Recebi nesta semana duas revistas interessantes, que merecem uma apreciação. A primeira, pela assinatura da minha mulher, mantida há um bom tempo. Trata-se da “Veja”, da editora Abril, de que gosto sem dizer que sou constante na sua leitura. Nada demais nisso, apenas o resultado da minha luta contra o tempo. Hoje em dia, as publicações vêm aos borbotões. A propósito, sinto dificuldade em prognosticar o futuro desses instrumentos de informações vis-à-vis os efeitos disparados da tecnologia como fontes de informações.
A discussão do tema não é de hoje. Desde o lançamento dos computadores e do seu constante aperfeiçoamento, coloca-se o assunto em discussão. Na longa lista que foi se formando, a primazia coube ao velho livro. O que seria dos clássicos, por exemplo? Algum editor se lembraria de reeditá-los ou esse tipo de leitura estaria condenado? Tecnicamente, têm sobrevivido; certo é que estão aí, circulando. É só entrar numa livraria de boa categoria. Em pouco tempo, se perde naquela profusão de livros reeditados ou saídos recentemente, e os velhos, os sebos estão por aí, ainda não perderam lugar.
Acho que sou um bom exemplo. Só a lembrança da biblioteca de Babel ou de Borges me enche a cabeça do passado vivido que parece ressuscitar um mundo tosco, como diria a presidente Dilma ao comentar ideias macroeconômicas sugeridas pelo então ministro da Fazenda do governo Lula. Atrevida era. E Palocci enfiou a viola no saco. Dizem que, na época, engoliu em seco, a ministra estava forte, não convinha replicar. Curioso é que, tendo virado presidente da República, diante de gravíssimas dificuldades, teria recuado à ortodoxia, no que poucos acreditam, e esperam confirmação da exoneração do ministro Levy. Meu Deus, país e povo contraditórios.
Quase me esqueci do que queria dizer da revista “Veja”. Na página 56, cita-se o ex-deputado Pedro Corrêa, preso na Lava Jato, para sofrer as agruras da delação (?) premiada. Leitor, é de estarrecer o que teria confessado: “Com a autoridade de quem presidiu um dos maiores partidos da base governista, Corrêa disse aos procuradores da Lava Jato ‘que Lula e a presidente Dilma Rousseff não apenas sabiam do petrolão, como agiram pessoalmente para mantê-lo em funcionamento’”. Deus meu! Humilhação e assalto, se verdadeiro.
Bela e limpa, vem a seguir a revista “Magistratura Mineira”, trabalho excepcional dos magistrados do Estado, que sobrepaira a sujeira relatada. E por falar nela, basta citar “Adeus, Fernando Brant”, linda crônica de Aldina Soares, juíza de direito de Santa Luzia. É belo, muito belo, o primeiro encontro entre Fernando e Milton descrito por Márcio Borges: “Contaram e recontaram seus parcos trocados. Davam para duas cervejas e um ovo cozido”. “Fernando gostava de poesia, sabia de cor versos inteiros de Garcia Lorca e Fernando Pessoa. Era sorridente e bem-humorado. Estava gostando muito de conhecer um músico, um compositor. Antes de se levantarem, Bituca perguntou: ‘E você, escreve?’ ‘Escrever o quê? Contos, essas coisas?’ ‘Você escreve poemas como os que acabou de recitar?’ ‘Eu nunca escrevi nada’. ‘Então vai ter de escrever’”. E Fernando escreveu, escreveu, escreveu. E Bituca musicou, musicou, musicou. Termina Borges o fim do encontro mágico: “Assim, combinaram de se encontrar outro dia para tentar realizar a tal empreitada. Nenhum dos dois poderia imaginar as estupendas consequências daquele encontro casual, que fizera cruzar a linha das suas vidas”.
(Maria, Maria, é um dom, uma certa magia. Uma força que nos alerta. Uma mulher que merece viver e amar. Como outra qualquer do planeta). Morreste-nos, Fernando.
Duas revistas inteligentes, cada uma a seu modo
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