Foi ver as fotos dos irlandeses comemorando a vitória no referendo sobre o casamento homossexual no último sábado para que os meus olhos se enchessem de lágrimas. “Ando tão à flor da pele”, pensei, sem perceber, naquele momento, que minha emoção não vinha de uma sensibilidade excessiva, não era gratuita. Meu coração apenas tinha sido mais rápido que a minha mente em perceber o que significava tudo aquilo para o país, para a história.
A vitória tem muitas razões de ser, muitas camadas, e, à medida em que eram reveladas, mais e mais o fato ganhava relevância. A primeira é a maioria acachapante de uma nação reconhecer, pelo voto popular, direitos iguais a todos os seus cidadãos, algo inédito no mundo. Um país que, até 22 anos atrás, vivia sob uma lei, chamada Ato de Ofensas contra Pessoas, que criminalizava a homossexualidade. A mesma lei que mandou para a cadeia um dos seus maiores escritores: Oscar Wilde, condenado em 1895 a dois anos de trabalhos forçados na prisão sob a acusação de cometer atos imorais com diversos rapazes, e que vitimou também a família do escritor, obrigada a se exilar na Suíça, onde seus filhos trocaram o sobrenome Wilde por Holland, para fugir da “desonra”. Uma nação, de maioria católica, que teve a coragem de dizer “sim” quando a Igreja, que por muitos e muitos anos dominou costumes e leis, pedia o “não”. Um povo que fez a Igreja Católica assumir a derrota e refletir sobre uma “reação”, instigando seus líderes a encontrarem uma nova linguagem “para propagar mais eficazmente a mensagem da Igreja, sobretudo entre os mais jovens”.
Um equívoco. A aprovação ao referendo se deu em todos os níveis: da capital, Dublin, a pequenas cidades rurais; dos mais jovens aos mais velhos; dos seus habitantes aos expatriados que se dirigiram à Irlanda apenas para votar “sim”.
O que a Igreja Católica parece não querer assumir é que o mundo mudou. A prova mais contundente é o vídeo no qual o casal católico Brighid Whyte, 77, e Paddy Whyte, 79, faz campanha a favor do “sim”.
“Sei que o Deus compassivo em que acreditamos diria que fizemos a coisa certa e cristã em votar ‘sim’”, diz Paddy, em determinado momento. O casal há 13 anos soube que um dos filhos era homossexual e, ao invés de condená-lo, agradeceu o fato como uma benção.
“Há 20 anos, provavelmente teria votado ‘não’”, diz Paddy no vídeo. “Mas agora que conheço pessoas homossexuais e vejo o amor e a alegria que podem trazer à vida, vou votar ‘sim’.”
“Somos católicos, o que quer dizer que somos instruídos a acreditar na compaixão, no amor, na justiça e na inclusão”, disse Paddy ao “The New York Times”.
Paddy, Brighid, os 66% dos irlandeses mandaram um grande recado ao mundo, como disse alguém.
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