Manifestantes, tenho acompanhado de longe os últimos protestos de vocês pelo país. Ouvi os gritos de guerra, li os cartazes e vi muitos exaltados gritando “comunistas”, “vai pra Cuba” e “a nossa bandeira jamais será vermelha”, para pessoas que pensam diferentes de vocês. Isso sem contar os pedidos pela volta do governo militar.
Essas cenas têm o efeito em mim de uma viagem no tempo. Um tempo em que o mundo era dividido entre capitalistas e comunistas, cujo símbolo máximo era um muro que dividia Berlim. Um tempo não muito distante, mas em que não havia celular, iPad, iPhone e internet; em que o Brasil era ainda tricampeão mundial e não havia sofrida sua maior humilhação num campo de futebol. Um tempo distante, mas suficientemente vivo na memória para eu achar que nada do que foi feito de lá pra cá alterou a percepção de vocês – ou porque vocês têm problemas para entender todo um processo político e social que mudou não só o Brasil, mas o mundo, ou porque vocês estão dispostos mesmo é a propagar argumentos retrógrados única e exclusivamente para instalar o medo.
Vejamos. O PT já está no poder há 12 anos e, por mais que esbravejem, deve completar mais quatro anos governando o país. Só agora, vocês estão com medo de que o partido instale o comunismo no Brasil? Por que o partido tão temido por vocês demoraria tanto para fazer sua “revolução bolivariana”? Não seria mais lógico o PT fazer isso quando seu líder máximo atingiu uma popularidade estrondosa e cujo governo teve uma aceitação nunca vista antes na história desse país?
E esse medo do comunismo? Depois da queda do Muro de Berlim, o comunismo praticamente acabou no mundo, galera. E essa obsessão com Cuba? Cuba? A pequena ilha assustou o mundo capitalista no fim dos anos 50, mas faz tempo que não mais mete medo em ninguém. Só em vocês. E por que demonizam tanto Cuba e se esquecem de um país comunista muito mais poderoso, a China? Vocês fazem protesto contra médicos cubanos que atuam no Brasil, mas adoram comprar objetos e roupas made in China. Ai, ai.
Tudo isso seria hilário se esse discurso não viesse acompanhado de ódio e violência. A mais recente vítima foi uma jornalista que levou um safanão na avenida Paulista enquanto filmava o protesto. Não fossem vocês quem são, seriam tachados de “vândalos”.
Manifestem-se! Como não cansamos de repetir: é fácil pedir um governo militar na democracia; difícil é o contrário. Mas respeitem quem pensa diferente de vocês (vivemos num país livre). Porque pedir que atualizem o discurso, sei que é pedir demais.
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