A campanha eleitoral ainda não começou, mas cenários políticos já indicam uma tendência mais à direita do eleitorado de Belo Horizonte. Com base no histórico político recente da cidade e em números apurados pela última pesquisa DATATEMPO, dois cientistas políticos com os quais a reportagem conversou convergem para um favoritismo desse espectro político.
Até o momento, o DATATEMPO realizou duas pesquisas: uma primeira em setembro de 2023 e outra no fim de março. Em ambas, dois dos três líderes são de direita. O primeiro apontou para a vitória do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), com 16,1%, seguido pelo senador Carlos Viana (Podemos), com 10,4%. Na mais recente, na qual Tramonte não foi testado, a liderança foi de Viana (15,9%). Em terceiro, veio o deputado estadual Bruno Engler (PL), com 10,2%.
Variáveis
O doutor em comunicação política Camilo Aggio explica que as eleições ainda estão longe, portanto a população ainda não tem opinião 100% formada. Mas, na visão dele, os dados indicam um favoritismo da direita.
“Pode indicar uma tendência. Se você analisa os números e contrasta com a conjuntura atual, você percebe que BH, se fosse um país, teria reeleito o Jair Bolsonaro (PL). É inquestionável que existe uma onda de direita e de extrema direita em nível nacional, mas que se consolida em cidades como BH. Mas há um conjunto de variáveis. As variáveis individuais, o capital político-eleitoral de cada candidato, as alianças, a capilaridade dessas campanhas com base na quantidade de lideranças atuando”, afirma.
A análise é comprovada por números. Embora tenha dois dos três primeiros candidatos na DATATEMPO, a direita tem pré-candidatos ainda pouco conhecidos. Conforme a pesquisa, a secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto (Novo), soma 1,7% das intenções de voto, apesar de contar com o apoio do governador Romeu Zema (Novo). Ou seja, para além do espectro político, outros fatores, como a identificação com a cidade, pesam.
Embora as eleições municipais, historicamente, se baseiem mais em propostas para as cidades, a polarização ainda deve ser um fator primordial neste ano, e embates entre políticos firmemente colocados à direita e à esquerda serão comuns. Na visão do cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec em BH, apesar desse antagonismo, a capital mineira pode ter um político de centro no segundo turno.
“Há um risco, em BH, de você não ter uma polarização tão marcada. Uma possibilidade de você ter um candidato mais à direita indo para o segundo turno junto com um candidato mais ao centro. Há uma carência de candidatos na esquerda com capacidade de captar votos. É diferente de São Paulo, onde você vê uma polarização mais marcada (entre o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, e o deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL)”, diz Cerqueira.
Rejeição e variedade
Outros fatores a serem levados em consideração para traçar o cenário de outubro são, segundo os analistas, a rejeição dos pré-candidatos e a pulverização de nomes.
Para ilustrar o peso da rejeição, o doutor em comunicação política Camilo Aggio lembra do peso que administrações mal-avaliadas do PT ainda têm na hora do voto dos mineiros. “Essa rejeição é algo esperado e que vai ter um peso enorme. A tendência é que as candidaturas de esquerda tentem fugir dessa iconografia, vamos dizer assim, que a esquerda tem no Brasil. Os mandatos e políticas muito identitários”, afirma.
No caso da pulverização, o cientista político Adriano Cerqueira explica que, com 13 candidatos, é mais difícil o eleitor fidelizar o voto. “Quando você tem uma eleição com segundo turno, a chance de ter muitas candidaturas no primeiro turno aumenta. É a oportunidade que nomes ainda não muito conhecidos têm para se tornar mais populares”, explica.
Registro
A DATATEMPO fez 1.200 entrevistas domiciliares, entre 26 e 30 de março. A margem de erro é de 2,83 pontos percentuais para mais ou para menos. O intervalo de confiança é de 95%. A pesquisa foi contratada pela Sempre Editora e o registro no TRE-MG é 02336/2024.