NOVA YORK, EUA - O que faz uma motocicleta - não uma moto rara, de coleção, mas um modelo novo, de produção limitada - valer US$ 120 mil? Essa foi a primeira pergunta feita por quase todos com quem comentei sobre meus quilômetros de test-drive da MV Agusta F4CC, uma máquina totalmente envenenada original de Varese, na Itália. O melhor que pude fazer foi responder com outras perguntas: O que faz uns poucos relógios de pulso especiais custarem, digamos, meio milhão de dólares? O que justifica o preço de uma caneta tinteiro ou uma garrafa de vinho vendidas por dezenas de milhares de dólares?
Essa MV Agusta realmente compartilha algumas qualidades com esses ítens caros. Primeiro, existe a escassez, com apenas 100 F4CCs sendo produzidas, e vem de uma empresa com uma história famosa em corridas. Além disso, ela é um objeto de beleza intrínseca, cuidadosamente feita à mão e acabada com materiais preciosos. E o motor de quatro cilindros da F4CC chega a 200 cavalos de potência, com a velocidade máxima limitada a 314 km/h, algo que não tentei verificar. Em vez disso, apreciei seu chassi leitor de mentes - é só pensar na curva à frente e ela vira - e suas dimensões notoriamente compactas. Ainda assim, nenhum fator pode justificar o custo (você pode comprar quase o mesmo desempenho por um décimo desse preço), nem mesmo com uma celebridade como Bruce Wayne pilotando sua F4 no filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas".
Cifras
Entretanto, a questão do valor proposto da MV não foi tão irritante para a Harley- Davidson, que anunciou no início de julho que compraria a empresa por aproximadamente US$ 109 milhões. A compra é só a última expressão do que parece ser uma migração estável dos fabricantes de motocicletas rumo ao topo do mercado. A Ducati, por exemplo, agora oferece a Desmosedici RR, que tem potencial de corrida, por US$ 72.500 e a menos exótica 1098R (com controle de tração eletrônico) por US$ 39.995.
Tom Bergmann, vice- presidente executivo e chefe do departamento financeiro da Harley-Davidson, disse ver a MV Agusta como um "marca dos sonhos dos consumidores" que complementa a linha Harley das motos esportivas Buell. A compra da empresa deve dar à Harley deve ser um maior acesso ao mercado europeu, onde sua vendas "cresceram dois dígitos" nos últimos anos, disse Bergmann. E existe pouca ameaça de canibalização: o grupo MV Agusta exportou apenas 5800 motos em 2007, com cerca de 300 vendas nos Estados Unidos. A Harley espera vender 300 mil motocicletas este ano.
Traduzido por André Luiz Araújo