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Cada um tem o destino que merece.

Antônio Rizola, um dos maiores vencedores com as categorias de base da seleção brasileira no passado, virou pedra no caminho do Brasil.

E o que define seu destino não são duas condições e sim suas decisões.

A Colômbia nunca havia vencido o Brasil.

Sob comando de Rizola ganhou duas vezes.

O Peru passou mais de 3 décadas sem derrotar a seleção brasileira. Logo na primeira competição oficial nas mãos do novo técnico, quebrou o tabu na Copa América no último fim de semana.

O blog procurou Rizola.

Nessa entrevista, o treinador admite que treinou a seleção peruana apenas duas semanas antes da competição. Fala da renovação, procura por talentos no país e prioridades.

O desafio é enorme.

O prazer de vencer o Brasil foi pauta: 'O prazer é ver que um grupo acredita na sua proposta e no seu trabalho'.

Rizola evita polemizar e diz que não tem diagnóstico exato sobre a assustadora queda de desempenho do vôlei brasileiro nas categorias de base. 

Ele diz que nenhum resultado é por acaso, enaltece a parceria com a FIVB, Federação Internacional de Vôlei e foca no Sul-Americano de 2026.

Como explicar o vice-campeonato da Copa América com apenas duas semanas de trabalho? 

Esse ano ano começamos um processo de renovação onde convoquei 28 jogadoras. Muitas se apresentaram lesionadas e com isso tive que acelerar o processo. Este grupo está junto há 16 dias e coloquei como prioridade o trabalho técnico e tático. Fisicamente seria difícil ter uma melhora consistente. Com pouco tempo elas teriam que acreditar na proposta tática e se comprometer na autoajuda e na relação de grupo. Fizemos nosso primeiro jogo, aqui no Brasil, contra Argentina, perdemos e foi nossa pior partida, mas elas entenderam que fizemos algumas coisas boas. Minha proposta era sair melhor do que chegamos. A comissão técnica, composta de técnico, assistente, preparador físico, fisioterapeuta, médico, nutricionista e psicólogo se uniram num mesmo propósito, que foi absorvido por completo pelo grupo de atletas. Se resume em trabalho, compromisso e união. 

Qual a sensação de vencer novamente o Brasil, assim como aconteceu quando era técnico da Colômbia? Que prazer é esse?

O prazer é ver que o trabalho tem resultado em todos os sentidos. O prazer é ver que um grupo, a partir dos dirigentes, acredita na sua proposta e no seu trabalho. Eu sempre creio que o trabalho tem que ser feito com muita dedicação, conhecimento e que somente com todos em linha, se chega a um resultado positivo. Trabalho a equipe com o seguinte propósito: temos que fazer nosso 100% do momento e provocar no nosso adversário a possibilidade de não chegarem ao 100% deles. O resultado positivo desta forma sempre vai existir. O resultado numérico positivo é outra coisa. Você tem que estar na hora certa, no lugar certo, para que possa fazer o que se deve. Com a Colômbia conseguimos isso duas vezes e agora com o Peru, a primeira. A diferença para o Brasil com Colômbia ou Peru é muito grande independente da categoria, mas se você entra derrotado, não terá nenhuma possibilidade. Tem que acreditar que é possível. Superação. Uma vitória assim não aproxima nossa equipe do Brasil, mas fortalece nosso processo. Demonstra que estamos no caminho certo e que nas próximas vezes será ainda mais difícil para nós. Motivação para trabalhar mais e com os pés no chão.

A justificativa (absurda) usada para explicar o fracasso alegando que as derrotas da seleção sub-23 para Peru e Argentina (completos) são aceitáveis? 

Eu analiso mais a minha equipe. Tinha uma incógnita grande de como este grupo, totalmente remodelado e sem jogar junto nenhuma partida reagiria. A levantadora nunca tinha vestido a camisa da seleção adulta. A libero nunca tinha vestido a camisa do Peru em nenhuma categoria. Ângela Leiva estava fora de seleção há 4 anos e deste grupo havia jogado com duas atletas apenas. Diante desse cenário creio que saímos bem. Estamos ainda longe do que quero, mas foi um bom início.

Por que o Brasil não dá mais resultados na base? 

Estando distante é muito difícil diagnosticar os motivos. Não me permitiria dar um diagnóstico estando tanto tempo afastado das seleções. Antes de tudo, trabalhei com seleções brasileiras por muitos anos e sempre estarei na torcida para que o voleibol brasileiro retome seus resultados anteriores.

Como será seu trabalho de reestruturação no Peru? 

O Peru foi segundo no ranking mundial e hoje está além da posição 40. Meu trabalho proposto é de capacitar técnicos com metodologias de trabalho mais modernas, buscar jogadoras com mais altura, investir na qualidade técnica das atletas, no trabalho de coordenação motora nas categorias de base. Precisamos fazer a aproximação das escolas e promover o mini voleibol, descentralizar o voleibol de Lima, melhorar Liga.

E a parceira com a FIVB, Federação Internacional de Vôlei?

Com apoio da FIVB começamos ano passado o Projeto 2032 que consiste em visitar todo o país em busca de crianças (não atletas) altas com parâmetros internacionais. O professor Armando Martens, faz este trabalho, em um ano, já temos mais de 20 atletas entre 11 e 13 anos com mais de 1,76m e 1,85m e para o Peru é uma boa altura. Nosso lema é se com 11 anos tem mais de 1,76m, sabe caminhar e respirar, logo pode aprender a jogar voleibol. 

Consegue enxergar resultados em curto prazo? 

Acho muito difícil. Começamos bem mas resultados a curto prazo não são concretos. Temos que ter os pés no chão, trabalhar muito e seguir o processo. Nosso objetivo é chegar no pódio no campeonato Sul-Americano em 2026.

Os recentes sucessos do Peru contra o Brasil, vide o mundial de clubes, foram por acaso ou deixam algum recado?

Nenhum resultado é por acaso. O voleibol peruano vem crescendo e ganhando respeito novamente. O recado é que tudo se consegue no seu tempo e com muito trabalho. Que o respeito se ganha respeitando. Deixa também um recado ao Peru. Para se competir em alto rendimento é necessário treinamento longo, intercâmbio internacional e tudo isso custa. É necessário investimento privado e do governo. Hoje as empresas voltaram a acreditar no voleibol peruano.