Passam poucos minutos das cinco da tarde quando uma familiar anunciou sua passagem no grupo de WhatsApp criado com amigos e parentes para preces por ele. Deixarei que as notas oficiais anunciem a causa da morte e demais detalhes de velório.
Faleceu hoje, aos 85 anos, o presidente emérito da Academia Mineira de Letras, o escritor Olavo Romano. Grande contador de causos, suas histórias eram carregadas de humor e vivacidade. Foi editor e autor de dezenas de livros que exaltavam a regionalidade mineira.
Conheci Olavo em 2018, quando fomos juntos à feira literária de Itapecerica, interior de Minas. Assim que chegamos à cidade, depois de viajar no banco de trás e atravessar fortes curvas, eu invadi a Prefeitura da cidade, ao lado do local onde acontecia o evento, e entrei no primeiro banheiro que vi — o masculino — no desesperador ímpeto do enjoo. Os organizadores do evento e autoridade da cidade nos esperavam, e eu simplesmente saí correndo. Ele riu muito disso, eu, depois que melhorei, claro, também ri. Nascia ali a nossa amizade.
Trocamos telefone, combinamos de eu ir à casa dela conhecer sua esposa, mas o rio da vida nos levou para outro (re)encontro, tão mágico quanto os causos que ele contava. Semanas depois nos reencontramos em um evento de terapias holísticas; nos abraçamos afetuosamente e vibramos com mais uma sintonia, que gerou mais reencontros. Participantes do mesmo grupo, Olavo ouviu minhas confidências várias vezes, me aconselhou e dividiu lições de vida que me enchiam de esperança. Esta semana mesmo, lembrei-me de quando ele me contou a maneira a qual conheceu Kátia, sua esposa, me ensinando um saber atávico, mas que ao mesmo tempo era “tecnológico”, como disse ele à época. Um dia depois fui adicionada ao grupo de preces por sua saúde.
Mago é aquele que conhece o poder das palavras. Olavo conhecia essa sabedoria e usava bem suas intenções. Viveu uma vida linda, com arte, mistério e criatividade. Simpático e generoso, estava sempre com amigos e familiares por perto.
Suas lições estarão comigo, encantado amigo. Neste pôr-do-sol de 16 de novembro de 2023 celebro sua passagem, sua obra e seus ensinos. Apaga-se a vida material para renascer no brilho estelar de outro lugar. Até mais ver, Olavo.