O tempo e seus livramentos

Em 2005, eu entrei na redação de O Tempo como estagiária para fazer a apuração e a ronda, enchendo os olhos da estudante de jornalismo que queria descobrir tudo. Anos depois, sim, muitos anos depois, volto com o espaço Cultura pop neste portal que me recebe para trazer entretenimento, novidades e comportamento.

As voltas do tempo são realmente fantásticas. As curvas da misteriosa força nos mostram a verdade sem as histórias que contamos para a gente mesmo e nos faz entender que as derrotas podem ser verdadeiras dádivas. Tudo fica engraçado depois que passa — nós, escritores, sabemos disso e suportamos o choro sabendo que usaremos tudo isso depois.

Às vezes duro, mas também generoso, o tempo me permitiu publicar mais de 10 livros em grandes casas editoriais do país, ter leitores, me tornar pesquisadora da autoria feminina em nossa Literatura e mestre em Estudos de Linguagem pelo CEFET/MG. O mesmo tempo fez com que eu aprendesse mais na escola da vida do que com qualquer certificação, acumulando milhagens extensas nas horas/bunda no sofá da psicoterapia. 

Nos anos de atividade de escrita, hoje chamado de produção de conteúdo, assisti a muitas mudanças na forma de comunicar: ranqueamentos, SEO, links, podcast, dancinhas de músicas que mal entendemos as letras... Mas a palavra, senhoras e senhores, nunca sai de moda. Em tempos de 10 segundos nas telas que rolam ávidas, escolher o verbete correto parece missão ainda mais valiosa.

Como boa representante da minha geração, sinto saudade dos blogs. Ler é um ato privado, independente e autônomo. Nenhum anúncio intercepta sua leitura, nenhum filme supera o que criamos na cabeça quando lemos, as personagens costumam ser melhores do que entrevistas de duas horas dos atuais podcasts.

O tempo provoca boas risadas. Tão boas quanto a da Bruna Marquezine no De frente com Blogueirinha, uma das maiores entrevistadoras vivas que temos, vamos assumir logo essa verdade, ao ser questionada sobre o maior livramento da vida — ironicamente, na mesma noite, circulava na internet rumores de que um famoso jogador de futebol, seu ex-namorado, estava numa festa beijando uma moça ao passo que a mãe de sua filha recém-nascida estava em casa. Na mesma noite, Messi ganhava sua sexta Bola de ouro, aos 36 anos, mostrando que usou bem o seu tempo.

O Tempo, senhoras e senhores, orquestra tudo a sua forma. Na cultura Iorubá, há o deus Tempo, o orixá Iroko, “compositor de destinos”, como o chama Caetano Veloso, em Oração ao Tempo. É sábio reconhecer o tempo como divindade e se curvar a ele.

Chego aqui em bom tempo, no mês de novembro de 2023, sob a benção de todos os Santos, vejam só. O espaço Cultura pop vai abarcar comportamento, eventos, gastronomia, tendências, filmes, séries, livros, pesquisas, relacionamentos, espetáculos, nossa capital mineira. Vai caber bobices, porque sem isso ninguém aguenta a rotina, e também linhas complexas. 

Sugestão de pautas e comentários são bem-vindos aqui e no @lauraconrado_.

Que o tempo nos seja favorável. E O Tempo, obrigada.