Soube por amigas da série Vale o escrito, da GloboPlay, um relato documental sobre o Jogo do bicho, no Rio de Janeiro. Não sou muito fã do formato nem da temática, mas, em razão do lobby feito no grupo de WhatsApp, comecei a assistir. Ainda não terminei a série, mas, reconheço a qualidade do produto: bem construído, apoiado em fatos apurados, narrados pela conhecida voz do Pedro Bial, e falas que nem o melhor dos roteiristas criariam para os melhores atores interpretarem.
O crime é o show do documentário.
Vale o escrito se tornou um dos maiores sucessos da plataforma, ganhando conversas nas redes sociais e até especulação de elenco, caso fosse adaptada a um formato dramatúrgico. Bem, se já vimos a máfia italiana em vários filmes, agora temos registro de uma das nossas, carregada de samba e disputas entre famílias.
Mas, por que um documentário sobre jogo do bicho faz sucesso?
Questionei minhas amigas, todas muito inteligentes (beijos, amigas), sobre a série “que explica um Brasil que a gente sabe que existe, mas não conhece. Tudo é estranhamente familiar, nomes, escolas de samba, reportagens de jornal que vimos, mas nunca soubemos o contexto,” elas disseram. "Os criminosos se sentem orgulhosos, buscam reconhecimento, acham verdadeiramente certo como as coisas são."
Outro ponto trazido por elas é a realidade fantástica; a vida dos bicheiros é inacessível como a de multibilionários, ao mesmo tempo que é a realidade que chega até grande parte da população. Os depoimentos das personagens surgem com ares de novela, permitindo que os absurdos soem como ficção com traições, disputas familiares, crimes e carnaval.
É a realidade deslocada da realidade, de crimonosos que vivem o próprio pradigma — e acabam exercendo um certo fascínio por isso.
Segundo as matérias dão conta, há o forte interesse da Globo em dar continuidade à série, mas ainda há pendências: os testemunhos são reais, por vezes violentos, e expõem o submundo do crime e do carnaval carioca. O Rio de Janeiro, nós sabemos, nunca foi para amadores.