Os livros de história garantem que, em 1914, soldados da Alemanha e do Reino Unido interromperam a troca de tiros, no meio da Primeira Guerra Mundial, pra bater uma peladinha entre eles. O episódio ficou conhecido como ‘Trégua de Natal’, já que a substituição da granada pela redonda ocorreu em época natalina. Pois bem, proponho aqui, na minha estreia neste nobre espaço, nossa ‘Trégua de Libertadores’.

Até onde eu sei, não tem atleticano querendo matar outro atleticano. Pelo menos por enquanto. Ou seja: nossa tarefa é mais fácil. Se eles conseguem, nós também podemos.

Eu sei que, na era da polarização de toda e qualquer coisa, o universo preto e branco te obriga a escolher um lado o tempo inteiro. Você não pode gostar do Milito numa boa - tem que achar gênio ou professor Pardal. Não pode avaliar a gestão do nosso clube como razoável - tem que chamar os caras de “ratos” ou ser “amansado”. Reconhecer méritos de Alexandre Kalil e Rubens Menin ao mesmo tempo, então, jamais! Crime hediondo em 13 países, incluindo nosso país Minas Gerais.

Se você quer continuar nessa briguinha de nós x eles, mesmo sabendo que “tudo que nois tem é nois” (alô Emicida!), beleza, que seja, mas fica o pedido: vamos retomar o cabo de guerra amanhã? Que tal a gente unir forças, só por hoje, durante 90 minutos, na batalha contra o time do Papa?

Não pensem que vai ser fácil, gente. Não vai. Nunca é. Os caras vão encher o saco como sempre fazem. Vai ser tenso, como sempre é. É Libertadores, é time argentino do outro lado. Já não temos o Hulk, já não temos um gramado decente pra jogar, as paredes da nossa casa parecem abafar nossas próprias vozes… Se a gente não entender que é hora de união, daqui a pouco não teremos nada.

Não é hora de vaiar jogador. Nenhum. Se o Milito tirar Otávio e Paulinho pra colocar Paulo Vitor e Cadu, que seja. Vamos torcer pra que funcione tanto quanto funcionaram as entradas de Alecsandro e Guilherme nas vagas de Tardelli e Bernard contra o Newell’s, na semifinal da Libertadores de 2013. Chamaram o Cuca de burro naquela hora, tá? Ninguém me contou, eu vi e ouvi, in loco. O resto é história.

Vamos cobrar soluções definitivas para os problemas do nosso estádio? Claro que sim! Mas não hoje. Não entre o apito inicial e o último da noite na Arena MRV. Depois a gente pensa nisso. Depois a gente pensa na negociação do Alisson, lembra com raiva do valor irrisório da venda do Savinho, acende mais uma vela pra panturrilha do Hulk, discute regulamento do Manto da Massa 2025. Agora não.

Se a gente passar dos caras, vem Flu ou Grêmio depois. Estão mal, ambos. Piores que a gente. Vamos nos permitir sonhar. Já estamos aqui mesmo…

É noite de união entre defensores e haters de Guilherme Picanha. Noite de abraços entre donos de cativas e saudosistas da geral. Noite de classificar na Libertadores e rolar de alegria na grama. E tanto faz se ela for natural ou sintética.