O Cruzeiro possui em sua história uma tradição de grandes goleiros. A posição sempre foi um trunfo para o time celeste, que teve em suas balizas personagens que serão para sempre celebrados. Uma verdadeira escola.
De Geraldo II, o goleiro de nove títulos pelo clube nos anos 1940 e 1950, que notabilizou-se ainda por ajudar na construção do estádio JK, a antiga casa do Cruzeiro; passando por Raul Plassmann, multicampeão pelo clube e notoriamente conhecido pela camisa amarela que tornou-se tradição na meta celeste; até chegar aos milagres de Dida, o gelado arqueiro de uniformes icônicos dos anos 1990; e a constância de Fábio, simplesmente o jogador com mais partidas disputadas com a camisa do Cruzeiro.
A saída do próprio Fábio abriu uma lacuna na posição. Rafael Cabral teve seus grandes momentos e foi importante em um período onde o time buscava a volta à elite. Mas realmente faltava no setor uma referência, aquela figura que, de fato, devolveria ao torcedor a tranquilidade de saber que a meta estava segura.
O próprio Pedrinho estava ciente disso. E, com certeza, essa talvez tenha sido a melhor movimentação da diretoria nesta temporada. Cássio Roberto Ramos.
Uma entrevista bombástica sacudiu os bastidores do Corinthians. O gigante Cássio mostrou também que era humano, que não estava imune apesar da idolatria construída em um dos maiores clubes do futebol brasileiro. Um desabafo que abriu portas para um renascimento, mesmo aos 37 anos de idade.
Talvez seria muito cômodo valer-se de sua posição dentro do Parque São Jorge, até mesmo para encaminhar uma aposentadoria em um processo de transição na meta corintiana.
Mas Cássio Ramos não quis seguir o óbvio. O gigante de 1,96 m sabia que poderia dar mais ao futebol. A sua vontade e a vontade do Cruzeiro se encontraram. E não é clichê dizer que um grande clube de futebol começa por um grande goleiro. O investimento na posição foi certeiro. E a importância dada ao setor trouxe também de volta Robertinho, um dos melhores preparadores de goleiro do país.
A história de Cássio confunde-se com o processo que vem sendo fomentado neste Novo Cruzeiro. É uma retomada na trajetória deste brilhante goleiro, reconhecido nacionalmente e cobiçado. Ele abriu as portas para a mudança de patamar no clube. E, dedicando-se ao trabalho, vem conseguindo mostrar também em campo o que se espera dele. Grandes defesas e liderança.
Cássio também impõe respeito, seja junto aos companheiros ou frente aos rivais. Durante a trajetória da Copa Sul-Americana, quando o confronto frente ao Boca Juniors se estabeleceu nas oitavas de final, foi possível ver a apreensão da torcida argentina por reencontrar Cássio. Um conhecido algoz Xeneize. E ele manteve sua escrita contra o adversário, sendo chamado pela imprensa argentina de vilão.
Um pesadelo para os hermanos, que já tinham visto outras performances memoráveis de Cássio em visitas a Argentina, como quando foi destaque absoluto contra o Estudiantes no ano passado, defendendo uma cobrança em classificação corintiana definida nos pênaltis.
E, claro, não deu outra. Contra o Lanús, em um dos momentos mais decisivos do confronto em La Fortaleza, executou uma defesa digna de sua história contra os argentinos, reforçando a mística que lhe cerca. Com certeza, o Racing tem muito com o que se preocupar pensando na grande decisão do próximo dia 23.
O Gigante da camisa amarela cinco estrelas vai construindo um novo legado em sua carreira já laureada. E pode ser outro símbolo desta nova fase que o Cruzeiro projeta.
O torcedor cruzeirense pode, enfim, dizer: como é bom ter um goleiro.