Pedro Lourenço errou ao segurar Fernando Diniz no comando do Cruzeiro, mas existem situações ruins que, no fim das contas, nos conduzem para decisões certeiras. No caso da equipe celeste: a chegada de Leonardo Jardim.
A clareza do português ao expressar suas ideias, bem como sua lucidez para apontar o que, de fato, é necessário na Raposa, traz ao torcedor a sensação de que o time está em boas mãos, cuidado por um mentor que realmente se importa e dedicará esforços para encontrar um caminho em meio às dúvidas que pairam sobre a Toca da Raposa 2.
O maior desafio que Jardim possui no Cruzeiro, a meu ver, é encontrar um time, não importa se titular, reserva ou alternativo. Gostei bastante quando o treinador citou estrelas que foram colocadas juntas e não renderam, o icônico caso de Messi, Mbappé e Neymar, que juntos não conseguiram fazer com que o PSG rompesse a barreira europeia e levantasse a Champions. No futebol, muito mais do que nomes, é preciso organização e é visível que faltou ao Cruzeiro, durante a disputa do Mineiro, características que acompanham uma equipe estruturada.
Em muitos jogos, esse amontoado de peças foi lançado em campo, na esperança de que a qualidade individual, em algum momento, desse o ar das caras e as vitórias fossem capturadas. Um time de futebol precisa ser muito mais do que o papel, do que o lastro de uma união de campeões do passado.
O recado foi dado. Jardim não vai escalar jogadores porque a galera gosta.
Outro ponto positivo extraído das declarações do português: ele quer um time intenso. Isso é essencial no nível de competitividade atual. O Cruzeiro, ao menos para mim, aparentava uma equipe pesada, sem velocidade e que desacelerava o jogo, enquanto os adversários tentavam explorar esse descompasso, inclusive times frágeis, como o Democrata de Valadares, por exemplo.
Para jogar da maneira desejada por Jardim, é preciso estar 100%, e é por isso que o Cruzeiro deverá ter times alternados, jogo a jogo, ainda mais pela maratona que se desenha para a equipe celeste até a paralisação proposta no calendário em função do Mundial de Clubes da FIFA.
A intensidade não é algo que contempla apenas o ataque. É um ponto essencial para a defesa. Todos precisam ajudar a trazer este balanço. Jardim deixou claro que não é possível defender com sete jogadores. Essa obrigação precisa de ser todo o time.
Um esboço das visões trabalhadas pelo comandante poderá ser visto no próximo sábado, quando o Cruzeiro enfrenta o Bragantino, em Bragança, com transmissão da TV.
A esperança do torcedor é que, de fato, a Raposa possa ter saído muito mais forte desta "forçada" intertemporada. Um longo e tenebroso inverno, um castigo, digamos, necessário para aparar arestas e trazer novas diretrizes a um time que literalmente não possuía um rumo claro. Creio que o grande trunfo atual seja esse, saber para qual caminho o Cruzeiro, em termos de direção técnica, deseja prosseguir.